quarta-feira, 17 de setembro de 2008

SP limita programa de bônus da USP para escola pública

Gestão Serra diz que prova que dá pontos extras será experimental e ocorrerá só no 3º ano

Aumento no número de estudantes da rede pública matriculados na USP é uma das principais bandeiras da reitora Suely Vilela

FÁBIO TAKAHASHI
FERNANDA CALGARO

DA REPORTAGEM LOCAL FOLHA

A Secretaria Estadual de Educação de São Paulo limitou um programa da USP que prevê bônus (pontos extras) no vestibular aos alunos provenientes das escolas públicas.
O programa anunciado pela USP previa a aplicação de provas aos alunos nos três anos do ensino médio público (avaliação seriada), que, somadas, renderiam bônus de até 3% na nota aos alunos no vestibular. A implantação seria gradativa até 2011, começando neste ano pelos alunos do 3º ano do ensino médio (antigo 3º colegial).
A gestão José Serra (PSDB), porém, decidiu que a edição deste ano será "experimental", ou seja, o programa poderá não se repetir já em 2009. Além disso, limitou o exame ao 3º ano.
Segundo a Folha apurou, a secretaria considerou apressada a forma como a universidade anunciou o programa -sem que estivesse totalmente definido com a pasta. Também houve discordância com relação a questões pedagógicas.
A divulgação foi feita em abril deste ano, mas a proposta só foi formalmente encaminhada à secretaria em julho.
A decisão do governo de não aplicar a prova nos três anos do ensino médio é apoiada pelo Conselho Estadual de Educação. Parecer do órgão elaborado pela professora da USP Eunice Durham diz que "a principal objeção (...) reside no fato de que fortalece a tendência a se organizar todo o ensino médio em função do vestibular, ignorando sua função de formação geral para a vida".
O parecer fala ainda em "tramitação tumultuada" da USP. O texto, aprovado no último dia 3, diz que as "iniciativas resultaram em grande pressão para a rápida tramitação do projeto, a fim de se convalidarem as iniciativas que já vinham sendo tomadas".
Procurada para comentar o assunto, a secretária da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro, disse, por meio de sua assessoria, apenas que o programa será realizado em "caráter experimental".

"Quase insignificante"
O aumento da proporção de alunos de escolas públicas aprovados no vestibular é uma das principais bandeiras da reitora da USP, Suely Vilela. A rede estadual representa 85% das matrículas, mas menos de 26% dos aprovados no exame.
O argumento da USP para propor exames para o bônus nos três anos do ensino médio é o de diluir a pressão para a aprovação no vestibular.
A implantação do projeto de bônus, da forma como foi aprovado pelo governo, custará R$ 1,760 milhão, metade para o Estado, metade para a USP. À secretaria também caberá ceder as salas para aplicar a prova.
Apesar da decisão do governo de fazer a prova só neste ano, até ontem o site da USP sobre o programa dizia que "a partir de 2010 e 2011, o Pasusp [nome do programa] será implantado progressivamente nas outras séries [do ensino médio]".
O parecer do conselho de educação critica também a eficácia das medidas já implantadas pela USP para aumentar os egressos da rede pública na universidade, como um outro bônus, também de 3%, automático para todos da rede pública.
Segundo o relatório, 0,67% dos formados no ensino médio público foram aprovados no vestibular 2006/2007 da USP, proporção que caiu para 0,66% no ano seguinte. O texto diz que "a contribuição da USP para absorção do ensino médio público é quase insignificante".

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Lula, Satiagraha e a Real Politik

Atenção, um novo capítulo se abre para o caso Satiagraha.

O governo Lula acertou um acordo com a Editora Abril – e, por extensão, com Daniel Dantas – para anular a Operação Satiagraha. O acordo foi montado da seguinte maneira:

1. É impossível interferir nos trabalhos em andamento do Ministério Público Federal e do juiz De Sanctis. A ofensiva de Gilmar Mendes foi um tiro no pé.

2. A estratégia acertada consistirá em tentar anular o inquérito de Protógenes, no âmbito da Polícia Federal. A versão preparada é que o inquérito continha irregularidades que precisariam ser sanadas. E a Polícia Federal colocou seus homens de ouro para “salvar” o inquérito. O trabalho dos “homens de ouro, na verdade, será o de garantir a anulação do inquérito.

3. Ao mesmo tempo, o governo aproveitará o factóide dos 52 funcionários da ABIN que participaram da operação - uma ação de colaboração já prevista pelo Sistema Brasileiro de Inteligência - para consumar a degola de Paulo Lacerda. A matéria do Estadão de domingo, o da "demissão em off" estava correta. Sabe-se, internamente no governo, que a operação foi normal. Assim como se tem plena convicção de que o tal “grampo” entre Gilmar Mendes e Demóstenes Torres foi uma armação. Mas Lula se curvou à real politik.

4. De sua parte, jornais e jornalistas mais envolvidos com o jogo estão reforçando essa versão do “inquérito ilegal” e do messianismo do delegado Protógenes. A armação, agora, terá o reforço da concordância tácita do Palácio.

5. O pacto foi referendado pela Ministra-Chefe da Casa Civil Dilma Rousseff. O Ministro Tarso Genro foi o que se mostrou mais constrangido com a operação, mas acabou se curvando à força dos fatos. Com essa operação, Lula e Dilma passam a ser aceitos no grande salão nobre, pavimentando a candidatura da Ministra para as próximas eleições.

6. O seu principal adversário, José Serra, já é outro aliado que entrou à reboque da Editora Abril. Está pagando um preço caro, com a descaracterização do seu discurso político.

7. A bola, agora, está com o Ministério Público e o Juiz De Sanctis, que terão que trabalhar com essa nova peça do jogo: a intenção de se anular o inquérito.

Não sei por que, mas o evento da Abril me lembrou aquela cena épica de Francis Ford Copolla, o fecho do filme. Enquanto todos estão na grande ópera, os inimigos são fuzilados na calada da noite.

Na grande festa foram selados os destinos do delegado Protógenes e Paulo Lacerda, dois funcionários públicos cumpridores da lei. Anotem os nomes deles e os repassem para seus filhos e netos: foram dois brasileiros dignos, sacrificados por um jogo sujo.

É o fim da grande batalha pela instituição da legalidade no país? Longe disso. É apenas um novo capítulo. Tanto assim, que integrantes próximos ao jogo estão completamente incomodados, assim como vários colegas jornalistas, que entenderam que esse jogo de cena foi longe demais e está comprometendo a imagem da categoria como um todo.

Com tanta testemunha, tanto conflito de consciência, julgam ser possível varrer o elefante para debaixo do tapete? É muita falta de fé no estágio atual de desenvolvimento do país.

Luis Nassif