sábado, 28 de julho de 2007

Rise in Cases of West Nile May Portend an Epidemic

Published: July 26, 2007

The number of West Nile virus cases in the United States is nearly four times what it was a year ago, meaning that a large epidemic may be in store, government researchers are reporting.

“It’s certainly a warning sign that we need to be extremely vigilant,” Dr. Lyle Petersen, the director of the division of vector-borne infections at the Centers for Disease Control and Prevention, said yesterday. “The worst is yet to come.”

The virus, carried by mosquitoes, causes a mild, flu-like illness in 20 percent of those infected, and no symptoms in about 80 percent. In about 1 percent of cases, the illness progresses to a brain infection that can be fatal.

Last year, 4,269 cases were reported in the United States, including 1,495 brain infections, and 177 people died. The risk of severe illnesses increases with age.

So far this year, 122 cases have been reported, with the most in California and the Dakotas. At this time last year, there had been only 33.

The reported cases are just the tip of the iceberg, researchers say. Many infections are never diagnosed because they were mild and the patient did not see a doctor, or was not tested for the virus.

This year, there have already been 42 brain infections and 3 deaths. This is early in the season, since 90 percent of the cases usually occur in August and early September. It is impossible to predict whether the trend will continue, Dr. Petersen said, adding that it may be related to “a lot of weird weather events,” including both the heat waves in the West and unusual storm patterns in the Midwest.

If people keep getting infected at the current rate, he said, “we could see the largest epidemic ever.”

The first known case of the disease in the United States occurred in New York City in 1999, and since then the virus has spread to every state.

In cases in the past, the virus was transmitted by transfusions and organ transplants, but tests are now done to protect the blood supply. This year, the tests have found 23 potential blood donors who were infected.

Recalled Canned Foods Continue to Be Found on Grocery Shelves


WASHINGTON, July 27 (AP) — Stores continue to sell recalled canned chili, stew, hash and other foods potentially contaminated with poisonous bacteria even after repeated warnings.

Thousands of cans are being removed from shelves as quickly as investigators find them, more than a week after Castleberry’s Food began recalling more than 90 potentially contaminated products over fears of botulism.

The recall now covers two years’ and tens of millions of cans from a factory in Augusta, Ga. Spot checks by the Food and Drug Administration and state officials continue to find recalled products for sale in convenience stores, gasoline stations and family-run groceries, from Florida to Alaska. The agency has found the items in 250 of the more than 3,700 stores visited, according to figures the agency gave to The Associated Press.

Federal investigators theorize that Castleberry’s, a unit of Bumble Bee Seafoods, failed to cook properly some or all the products, letting the Clostridium botulinum bacteria survive canning. In the oxygen-free and moist environment of the sealed cans, the bacteria thrive and produce a toxin that causes botulism, a paralyzing disease.

The bacteria produce gases that can cause contaminated cans to swell and burst. Cans in a company warehouse have begun to break open. Health officials say the extremely potent toxin can infect people if it is inhaled, swallowed or absorbed through the eye or skin breaks.

Health experts consider botulism a severe health threat and worry that word of the recall has not reached all consumers or retailers, especially mom-and-pop operations

Terapia com DNA controla glaucoma de camundongo


Vírus modificado criado pela UFRJ consegue parar morte de células da retina

Em fase inicial, pesquisa feita com os roedores abre perspectiva otimista para o uso do método com seres humanos no futuro

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Um grupo de cientistas conseguiu controlar o glaucoma em camundongos usando trechos de DNA para impedir a morte de células da retina. A técnica, desenvolvida na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é um tipo de terapia gênica -processo que busca desligar informações genéticas que possam gerar doenças.
"Quero reforçar que é algo ainda muito inicial, mas nós conseguimos reduzir em 100% a morte das células da retina", diz Rafael Linden, pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. O glaucoma é a perda gradual de visão causada pela morte de células da retina que captam a luz.
Após oito anos de pesquisa, o grupo radicado no Rio de Janeiro conseguiu identificar um dos mecanismos genéticos por trás da doença. Só agora, portanto, os cientistas podem tentar desativar esse processo e impedir o surgimento do problema de visão.
Um dos gatilhos do surgimento da doença -que afeta 70 milhões de pessoas no mundo e 2 milhões no Brasil- é a escassez de uma proteína específica da retina, algo que a torna mais frágil. "A vulnerabilidade das células ganglionares da retina à morte celular é a chave para controlar o glaucoma e as neuropatias ópticas hereditárias", explica Linden.
A proteína identificada pelos pesquisadores foi alvo de estudo porque, quando existe uma lesão no nervo óptico, ela deixa de ser sintetizada a partir do DNA. A conseqüência disso, explica Linden, é o início da morte de células da retina.
A pergunta científica feita pelos pesquisadores foi direta: poderia uma superprodução dessa proteína específica impedir a morte de células da retina?
É exatamente nesse ponto que entra a terapia gênica. Os primeiros experimentos feitos com os camundongos com glaucoma mostram que a resposta a pergunta é sim.
Por meio de um vírus atenuado, preparado geneticamente para expressar a proteína que evita a morte celular na retina, os cientistas bloquearam o processo genético que, em última análise, faz surgir o glaucoma.
"Temos que montar agora um modelo mais concreto antes de partir para os testes pré-clínicos", lembra Linden.

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Traveler With TB Is Released After Treatment in Denver

Dan Frosch

DENVER, July 26 — The Atlanta lawyer who caused an international health scare after traveling through Europe with a drug-resistant strain of tuberculosis was released from the National Jewish Medical and Research Center Thursday morning after completing treatment there.

Hospital officials said that the lawyer, Andrew Speaker, who arrived at the medical center on May 31, was no longer contagious and that there was no further detectible evidence of infection.

“We were fortunate he was not extensively drug resistant,” a center spokesman, William Allstetter, said. “That gave us more time than we originally thought we had.”

Mr. Speaker is not completely cured and is to continue antibiotic treatment for two years. During that time, he will be required to check in with local health officials five days a week, and his treatment must be directly observed by health care workers, Mr. Allstetter said.

Swabs in Hand, Hospital Cuts Deadly Infections

A special light reveals deadly bacteria.

PITTSBURGH — At a veterans’ hospital here, nurses swab the nasal passages of every arriving patient to test them for drug-resistant bacteria. Those found positive are housed in isolation rooms behind red painted lines that warn workers not to approach without wearing gowns and gloves.


The New York Times

Every room and corridor is equipped with dispensers of foamy hand sanitizer. Blood pressure cuffs are discarded after use, and each room is assigned its own stethoscope to prevent the transfer of microorganisms. Using these and other relatively inexpensive measures, the hospital has significantly reduced the number of patients who develop deadly drug-resistant infections, long an unaddressed problem in American hospitals.

Prêmio ao bom professor

Editorial FSP 27/07/07

QUE NÃO ARREFEÇA a disposição da nova secretária estadual de Educação de São Paulo, Maria Helena Guimarães de Castro, de pagar mais a professores que tenham melhor desempenho. As resistências a essa proposta, anunciada em entrevista à Folha, tendem a ser muito grandes, em especial da parte dos sindicatos.
A nova secretária pretende usar testes como Saeb, Prova Brasil e Saresp para identificar os docentes que ensinam mais a suas turmas e oferecer-lhes rendimentos diferenciados. A questão é menos trivial que parece.
Existem objeções ponderáveis ao projeto, como o argumento de que até os melhores professores teriam dificuldades para levar alunos com deficiências acumuladas a sair-se bem nas provas. Há, porém, métodos estatísticos que permitem definir o nível de aprendizado esperado para cada turma. Docentes capazes de fazer os alunos superarem esse limiar teriam direito ao bônus.
O sistema em vigor no Estado já premia os professores mais assíduos, mas é preciso avançar mais e considerar também a eficiência. O igualitarismo pretendido por sindicatos é um convite à acomodação. Ao nivelar todos os docentes, dos mais ativos àqueles que pouco ou nada contribuem para o aprendizado de seus alunos, ele empurra o conjunto para a mediocridade.
Inovações como a sugerida por Maria Helena Castro tendem naturalmente a ser recebidas com desconfiança pelo establishment. Quando trazem a possibilidade de rompimento do "statu quo", a reação tende a ser mais violenta. É preciso, porém, insistir nesse caminho sem nutrir falsas esperanças. Estimular o bom desempenho é um passo fundamental, mas não será, por si só, capaz de alterar a triste situação do ensino público.

Os planos de Serra


Na administração do governador José Serra, o eixo central é o Secretário do Planejamento Francisco Luna. Professor de história da Economia, ex-sócio do ex-Ministro João Sayad no Banco SRL, Luna tem o papel de fazer o meio campo entre Serra e os demais secretários.

Educação

Nas frentes a serem atacadas pelo governo Serra, uma das mais espinhosas é a educação. A rede escolar estadual de São Paulo tem 6 mil escolas. Na cidade de São Paulo há mais escolas estaduais do que municipais.

Na parte do material didático, selecionavam-se alguns livros e se dava ao professor a liberdade de escolher entre eles. O aprendizado tornou-se também mais difícil. Se faltasse um professor, como ficaria o curso, já que não havia um currículo padronizado?

A idéia, agora, será retomar as avaliações curriculares a cada dois anos. Está sendo contratado o exame de todos os alunos da rede. Mas, sem um currículo único, o que se poderia medir?

A Secretaria do Desenvolvimento

Outra mudança relevante foi a criação da Secretaria do Desenvolvimento, absorvendo as funções da antiga SCT. Estará debaixo dela a Comissão de Energia, a contraparte estadual à política da bioenergia, e cuja principal bandeira será a construção de um alcoolduto. Também estarão os parques tecnológicos, os Arranjos Produtivos Locais e a questão da infra-estrutura estadual. Acontece que a estrutura da antiga SCT é bastante precária. Daí a idéia de se criar uma Agência de Desenvolvimento, que ainda está sendo pensada.

O Plano Plurianual

Tal qual foi concebido na Constituição de 1988, o PPA deveria definir metas físicas e indicar a direção que cada unidade da federação deveria perseguir. Assim como outros estados, São Paulo não conseguiu avançar na direção de transformar o Plano Plurianual em um projeto de desenvolvimento. Para compor um plano de governo, o PPA e a LDO deveriam ter metas qualitativas também. Por exemplo, metas de redução da mortalidade infantil, da doença, do analfabetismo. Mas praticamente nenhum estado ainda incorporou essas metodologias.

O “Viradão Social”

No campo das políticas sociais, uma dos projetos do governo será o chamado “Viradão Social”, especialmente em regiões conflagradas. Primeiro, entra a polícia, utilizando o chamado processo de saturação. Em seguida, chega o social, o Poupatempo Móvel, a Escola e os Eventos Culturais. A idéia é que a polícia vá gradativamente saindo e dando espaço ao social.

A Segurança

No caso das penitenciárias, o Secretário de Segurança Ronaldo Mazagão defende a liberdade assistida contra a super-lotação. No caso da Febem metade da solução já está encaminhada, com a divisão por unidades menores, para 40 meninos, viabilizando as políticas necessárias, com a mudança do conceito para unidade de acolhimento e para a liberação assistida.

A FURP

Outra área em que se pensa investir será na FURP (Fundação do Remédio Popular. O Secretário da Saúda Barradas já tem plantas novas aprovadas no regime do PPP. A visão do governo é de que a parceria com o setor privado será a única maneira de manter tecnologia de ponta e melhores preços na compra de matérias primas.

Os indicadores

Não faltam dados sobre São Paulo. A Secretaria da Fazenda tem todos os indicadores físico-financeiros, há dados sobre educação, saúde e segurança. Mas nunca haviam sido transformados em indicadores permanentes. Será uma das prioridades do governo, inclusive para permitir implantar o sistema de remuneração por desempenho. A idéia será utilizar a Fundação Seade e a Fundap para levantar dados.

Ensino Superior

A criação da Secretaria de Ensino Superior decorreu de problemas mais prosaicos. As universidades estaduais estavam vinculadas à Secretaria de Ciência e Tecnologia, sabe-se lá por que. Sempre foram independentes, e continuaram sendo. O que se pensava era estabelecer alguma forma de coordenação, de maneira a inseri-las com setor privado, que é bastante forte em São Paulo, mas pouco integrado às prioridades do Estado.

27/07/2007
enviada por Luis Nassif

quinta-feira, 26 de julho de 2007

MICROBIOLOGY: Necessary Noise

Jerome T. Mettetal and Alexander van Oudenaarden*

The authors are in the Department of Physics, Massachusetts Institute of Technology, Cambridge, MA 02139, USA

Science 27 July 2007:
Vol. 317. no. 5837, pp. 463 - 464

In the classic view of cellular biology, cells are simply a product of genetic and environmental conditions, and all differences between individual cells can be attributed to one or both of these factors. Recent work, however, suggests that when grown in the same environment, cells from genetically identical populations can exhibit very different behaviors. Even simple attributes, such as the number of proteins produced from a constitutively expressed gene, can vary greatly from cell to cell. In other cases, individual cells will make vastly different phenotypic choices seemingly at random (1-4). Why some cells remain in one phenotypic state whereas others switch to a different one, and what the molecular processes are that cause cells to "play dice" when determining their fate, remain open questions.

On page 526 in this issue, Maamar et al. (5) tackle these questions using the soil bacterium Bacillus subtilis. They find that the random nature of the phenotypic choice made by these bacteria to remain vegetative (dormant) or become "competent" (able to take up DNA from the environment) can be traced to variable expression of a single protein. Although many organisms exhibit phenotypic variability driven by stochastic gene expression, the B. subtilis system is of particular interest because variation ("noise") in protein expression is thought to play a key role in the natural behavior of a population.



Os vetos cruzados

Saí de uma longa conversa com o professor Jorge Tápias, da Unicamp, colaborador estreito do Projeto Brasil. Ele usou um termo interessante para caracterizar o momento político atual: os vetos cruzados.

A definição vale para a agenda negativa que tomou conta do país. Há uma perda de rumo ampla e irrestrita, de grupos que se movem exclusivamente em cima dos vetos aos contrários.

Os estudantes da USP, assim como os da Unicamp, invadiram as respectivas reitorias. A agenda de reivindicações era mero álibi. Não havia uma proposta clara, mas um descontentamento difuso. Os empresários decidem se manifestar. Nesse caso não há vetos, mas não há propostas.

Na mídia, todo movimento é contra Lula. Em vários ambientes – aqui, inclusive – grande parte das manifestações é contra a mídia, a favor de Lula, mas a favor de quê especificamente? Não há um projeto claro, seja do governo seja da oposição.

Mais que isso. Nos últimos anos mudou completamente o conceito de elite. A idéia de um grupo de letrados, ou grupos econômicos, ou lideranças políticos cedeu espaço a algo muito mais amplo, que inclui movimentos sociais, o sindicalismo.

Mas ninguém se assume como tal. Há enorme vácuo de idéias e propostas. Sem as idéias, fica-se nesse jogo do veto aos contrários. A política, hoje em dia, se chama lulismo e anti-lulismo. Lulismo é a defesa de Lula. Antilulismo é o ataque a Lula.

Não existe nada de programático, de projeto de país, de manifestação de idéias.

Como em política não existe vácuo, há um espaço a ser ocupado. Quem vai tirar a Excalibur da pedra?

enviada por Luis Nassif, 26/07/07

Microbiologia: O triste legado de uma conquista obtida há 3 milhões de anos

Fernando Reinach, fernando@reinach.com

OESP 26/07/07

Para entender o que ocorreu em grandes conflitos militares, os arqueólogos escavam os campos de batalha. Recuperando as armas e os mecanismos de defesa, são capazes de reconstituir o que aconteceu.

Da mesma maneira, para entender as “guerras” que ocorreram entre os animais e os vírus, os biólogos têm “escavado” o genoma dos animais em busca de vestígios das batalhas.

Quando um retrovírus infecta um animal, cópias de seu genoma se inserem no genoma do animal infectado e podem ser passados adiante ao longo das gerações. Foi comparando o genoma de macacos e seres humanos que uma batalha que ocorreu faz mais de 3 milhões de anos entre o vírus PtERV e a proteína de defesa TRIM5 foi reconstituída.

A conseqüência dessa batalha é que hoje chimpanzés e gorilas são resistentes ao vírus da aids enquanto nós somos suscetíveis.

VITÓRIA DE PIRRO

No genoma dos chimpanzés existem mais de cem cópias de diversas versões do vírus PtERV. As diferenças entre as cópias demonstra que esses vírus infectaram os macacos 3 milhões de anos atrás. No genoma humano não existe nenhuma cópia desse vírus. Por que ele não infectou seres humanos? Uma possível explicação é que uma proteína de defesa chamada TRIM5 foi capaz de bloquear o ataque do vírus na espécie humana, mas incapaz de bloqueá-lo nos macacos.

Para testar essa hipótese, os cientistas “ressuscitaram” o vírus PtERV a partir do genoma dos macacos e testaram sua capacidade de infectar células humanas e de macacos. Descobriram que o vírus ainda infecta macacos, mas continua incapaz de infectar humanos. Também demonstraram que o fato de os humanos serem resistentes ao vírus se deve à proteína de defesa TRIM5.

A proteína TRIM5 humana, quando colocada em células de macacos, faz com que elas se tornem resistentes ao vírus, e essa resistência é conseqüência de uma única mutação. A explicação, portanto, é que há 3 milhões de anos, durante nossa guerra contra o PtERV, em algum de nossos ancestrais surgiu uma mutação no gene da TRIM5 que nos tornou resistentes. Levamos vantagem sobre os macacos.

Mas qual o legado da batalha? A conseqüência é que deixamos de ser resistentes ao vírus da aids. Repetindo os testes com o vírus da aids, os cientistas demonstraram que a mutação que alterou a TRIM5, lá no nosso distante passado, ao mesmo tempo em que nos tornou resistentes ao PtERV fez com que perdêssemos a capacidade de nos proteger contra o HIV. Os chimpanzés e os gorilas, por terem a TRIM5 original, são hoje resistentes ao HIV. Nós, por carregarmos até hoje a mutação, somos suscetíveis ao vírus da aids. Foi uma vitória no passado que está custando caro para a espécie humana no presente.

Mais informações em Restriction of an extinct retrovirus by the human TRIM5 alfa antiviral protein, na Science, volume 316, página 1.756, 2007.

Biólogo

Ciumeira e obscurantismo

Ciumeira e obscurantismo
NOTAS E INFORMAÇÕES
OESP

Nem só de obscurantismo e ideologia, mas também de ciumeira, se alimenta a campanha contra a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio), responsável pela avaliação de organismos geneticamente modificados. Até há pouco, o noticiário havia ressaltado a ação de caçadores de bruxas apoiados por inimigos do agronegócio e da modernidade no campo. O objetivo dessa aliança era impedir por quaisquer meios a liberação de transgênicos para uso comercial. A novidade, agora, é a intervenção da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), motivada por uma indisfarçável disputa de poder.

A Anvisa acaba de abrir consulta pública sobre normas para avaliação de segurança de alimentos produzidos com organismos geneticamente modificados. De acordo com resolução da Anvisa, as empresas interessadas na liberação dos produtos teriam de responder a 119 questões. O parecer da agência seria encaminhado ao Ministério da Saúde e repassado à CTNBio. Com essa iniciativa, escancara-se diante do presidente da República mais uma briga política entre órgãos da administração federal. Se ele reagir com a lentidão costumeira, ou se olhar para outro lado, como tantas vezes tem feito, o País terá de pagar novamente pelo mau funcionamento do governo.

A iniciativa da Anvisa é uma invasão das atribuições legais da CTNBio. Esse fato é reconhecido indiretamente pelo presidente em exercício da agência, Cláudio Maierovitch. Segundo ele, a Lei de Biossegurança expropriou da Anvisa e do Ibama a competência para a normatização no campo dos transgênicos. De acordo com seu raciocínio, trata-se agora de retomar o terreno. Mas esse procedimento é uma declaração de resistência a uma lei aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente da República. Só há um caminho legal para neutralizar uma lei considerada inconveniente: é trabalhar por sua alteração ou revogação. Ao disputar a competência atribuída à CTNBio, a direção da Anvisa legisla por conta própria.

Criada para funcionar como um órgão técnico e científico, a CTNBio foi desde o início de sua atividade submetida a pressões de tipo ideológico. Isso foi possível graças a um erro do presidente Lula. Ele deixou a comissão transformar-se num organismo político, aberto à influência de grupos contrários tanto ao agronegócio quanto à adoção de inovações geradas pela biotecnologia. Representantes desses grupos dificultaram o funcionamento da CTNBio, impedindo a formação de quórum para deliberações e tentando neutralizar a influência dos cientistas. O presidente da comissão, o pesquisador Walter Colli, denunciou a sua conversão numa assembléia. A situação tornou-se escandalosa e o presidente Lula acabou promovendo a redução do quórum para decisões.

Mas isso não encerrou a campanha contra o funcionamento da CTNBio com base em critérios técnicos e científicos. Uma liminar concedida por um tribunal no Paraná impediu a comercialização de um milho transgênico aprovada pela CTNBio. Essa aprovação foi confirmada pelo Conselho Nacional de Biossegurança, formado por 11 ministérios, mas o Ibama e a Anvisa recorreram contra a decisão.

O cerco, portanto, permanece, com a participação de organismos do governo e de ONGs. Dão palpite sobre a liberação de transgênicos não só entidades ambientalistas, mas também grupos ligados a movimentos de reforma agrária e de combate ao agronegócio.

O presidente da República tem autoridade formal para decidir quais são os objetivos do governo e como devem articular-se os organismos da máquina federal. Ele dispõe de leis e de meios administrativos para impor a necessária disciplina e impedir conflitos entre os vários setores do serviço público. Diferenças de opinião e disputas de poder são normais em todas as grandes organizações, mas não se pode tolerá-las quando ameaçam paralisar projetos importantes. No caso, nem se trata apenas de paralisia. Se a modernização tecnológica é um objetivo do governo, a ação dos grupos adversários da CTNBio põe em xeque uma das linhas fundamentais da política oficial. A intervenção do presidente, portanto, é indispensável não só para pacificar a administração federal e restabelecer a disciplina, mas também para reafirmar e fazer valer as metas do governo.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Doutores para quê? - Fernando Reinach e José Fernando Perez

Folha de S. Paulo, 28.5.2004

A política industrial do governo Lula, conforme enunciada pelos ministros Palocci e Furlan em artigos recentes, tem como um de seus pilares o incentivo ao processo de inovação na empresa. O governo já enviou ao Congresso a Lei de Inovação, elaborada pelo Ministério da Ciência e Tecnologia, e está estudando medidas microeconômicas que fomentem atividades de inovação no setor produtivo. Gostaríamos de propor uma medida simples, efetiva e de fácil implementação. Como é bem sabido, só há processo de inovação quando existe investimento em pesquisa e desenvolvimento dentro da própria empresa. Um pré-requisito para que esse investimento ocorra é a presença de pesquisadores na empresa. Na maioria dos países em desenvolvimento, a falta pura e simples de pesquisadores impede que ocorra a inovação. Nesse aspecto, o Brasil está em posição privilegiada. Ao longo dos últimos 40 anos, os investimentos feitos pelo CNPq, pela Capes e pela Fapesp permitiram a criação de uma pósgraduação bem organizada e eficiente. Hoje o Brasil forma 7.000 doutores por ano. Mantido o ritmo de crescimento, vamos formar 10 mil doutores em 2010. Nesse quesito, só a Coréia do Sul e a China tiveram taxas de crescimento superiores às brasileiras. Se temos doutores, por que não temos inovação? A causa é compreendida: os doutores não estão onde deveriam estar. Nos países desenvolvidos e até mesmo na Coréia do Sul, a maior parte dos pesquisadores trabalha em empresas. No Brasil, a grande maioria ainda está nas universidades. Se temos doutores, por que não temos inovação? A causa é compreendida: os doutores não estão onde deveriam estar O setor acadêmico não deve e nem pode absorver todos os doutores formados no Brasil. A falta de oportunidades é a principal causa da evasão de cérebros. Afinal, para os países desenvolvidos, é sempre mais barato importar doutores do que investir na sua formação. Um título de doutor é o melhor passaporte para obter um visto de trabalho nos EUA ou no Canadá. Uma estimativa conservadora demonstra que a formação de um doutor requer um investimento de não menos do que R$ 200 mil, o que, no Brasil de hoje, corresponde a um investimento anual de aproximadamente R$ 1,4 bilhão. O que fazer, então? Diminuir o investimento na pós-graduação ou incentivar a contratação de doutores pelo setor privado? Propomos uma resposta simples: que a contratação de doutores pelo setor privado, desde que para a realização de atividades de pesquisa e desenvolvimento, seja desonerada de todos os encargos sociais. Essa desoneração valeria para os dez primeiros anos após a obtenção do título de doutor e só teria valia para títulos outorgados por pós-graduações credenciadas pelo Ministério da Educação.

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Formulado dessa maneira, o incentivo traz muitas vantagens: é de simples verificação, pois a lista de doutores é pública e de conhecimento do MEC. É de valor conhecido e pré-definido, pois, na melhor das hipóteses, seria estendido a aproximadamente 50 mil pessoas nos próximos dez anos. É limitado no tempo, pois removeria do grupo com isenção os doutores com mais de dez anos de formados, período suficiente para uma bem-sucedida inserção no processo de inovação. Além das vantagens de implementação, esse subsídio pode desencadear um ciclo virtuoso: deve gerar empregos, pois a contratação de cada doutor em processos de inovação gera de 10 a 15 empregos diretos nos departamentos de pesquisa e desenvolvimento. Deve permitir a proliferação de empresas de base tecnológica, onde pesquisadores constituem o cerne da força de trabalho. Deve incentivar a expansão do sistema de pós-graduação, aumentando o mercado de trabalho. Deve incentivar o investimento privado no sistema de pós-graduação. Deve contribuir para a diminuição da fuga de cérebros. E, finalmente, essa medida deve aumentar a interação entre as universidades e as empresas. Afinal, a criação, dentro das empresas, de um corpo técnico que domina a linguagem e a cultura científica é pré-condição para que haja o diálogo e a colaboração entre os setores empresarial e universitário. O impacto dessa medida seria imediato. Os custos para a contratação de doutores teriam uma diminuição de aproximadamente 50%. As empresas dispostas a investir na inovação tecnológica teriam um estímulo muito forte, pois o insumo mais caro nesse processo são os recursos humanos. Essa medida tem a vantagem adicional de permitir que as empresas decidam livremente em que direção devem caminhar seus esforços em pesquisa e desenvolvimento. Não se trata aqui de propor a criação de privilégios para uma categoria de brasileiros que tiveram uma educação sofisticada. Trata-se de garantir que a nação tenha, na forma de desenvolvimento tecnológico, retorno sobre o investimento que faz na formação de seus pesquisadores. Acreditamos que somente o desenvolvimento tecnológico e a inovação permitirão que nossa indústria seja competitiva e capaz de gerar empregos e riqueza de maneira sustentável. Nossa resposta à questão inicial é simples: doutores para a inovação!

Fernando Reinach, 48, professor titular do Instituto de Química da USP, é diretor-executivo da Votorantim Novos Negócios. Foi presidente da CTNBio em 1999. José Fernando Perez, 59, professor titular do Instituto de Física da USP e membro do Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, é diretor científico da Fapesp.

Network Medicine — From Obesity to the "Diseasome" NEJM

link

Albert-László Barabási, Ph.D.
Center for Complex Network Research, Departments of Physics and Computer Science, University of Notre Dame, Notre Dame, IN.

A recent study reported that among people who carried a single copy of the high-risk allele for the FTO gene, which is associated with fat mass and obesity, the risk of obesity increased by 30%. The risk of obesity increased by 67% among people who carried two alleles, and on average they gained 3.0 kg (6.6 lb) or more.1 Given that approximately one sixth of the population of European descent is homozygous for this allele, this link between the FTO gene and obesity appears to be one of the strongest genotype–phenotype associations detected by modern genome-screening techniques. That obesity has a genetic component is not surprising: researchers have long known that it often runs in families. In this issue of the Journal, Christakis and Fowler suggest that friends have an even more important effect on a person's risk of obesity than genes do. (...)
(...) The Human Genome Project has revolutionized gene hunting, leading to an explosion in the number of detected associations between genes and disease phenotypes. The beauty of genomewide association studies lies in their ability to quantify their own limitations. For instance, many of the newfound disease-associated genetic mutations account for only a tiny fraction of disease occurrences. There is a tendency to believe that the rest are hidden in more genes. As the article by Christakis and Fowler shows,2 the answer is not always as simple as that.(...)
Aqueles que quiserem o artigo completo, me mandem mensagem para psrcoelho@gmail.com

Skin and Soft-Tissue Infections Caused by Methicillin-Resistant Staphylococcus aureus - NEJM

Aqueles que quiserem o artigo completo, me mandem mensagem para psrcoelho@gmail.com

http://content.nejm.org/cgi/content/short/357/4/380

A 37-year-old man presents for the evaluation of localized swelling and tenderness of the left leg just below the knee. He suspects this lesion developed after a spider bite, although he did not see a spider. Examination of the leg reveals an area of erythema and warmth measuring approximately 5 by 7 cm. At the center of the lesion is a fluctuant. . .



Anvisa enfrenta CTNBio e abre consulta pública sobre transgênicos

Presidente da comissão se diz atropelado por iniciativa da Vigilância Sanitária de dificultar processo de liberação

Lígia Formenti, BRASÍLIA

A pressão de setores do governo contra a atuação da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) deixou os gabinetes e se transformou em confronto aberto. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) colocou em consulta pública uma resolução que normatiza a avaliação da segurança de alimentos que contenham organismos geneticamente modificados (OGMs) - uma atividade que, pela Lei de Biossegurança, é da CTNBio. “Estão se aproveitando do vazio político nessa área para ganhar terreno”, reagiu o presidente da CTNBio, Walter Colli.

A consulta pública da Anvisa propõe 119 questões que teriam de ser respondidas por empresas interessadas na liberação comercial de seus produtos.De posse das respostas, a Vigilância Sanitária faria seu parecer e o encaminharia ao Ministério da Saúde - que, por sua vez, levaria o assunto à CTNBio.

Oficialmente, a Anvisa afirma que a proposta é uma resposta à demanda social pela garantia de qualidade nos alimentos. Mas, entre cientistas, a iniciativa já foi apelidada como uma ação para criar uma espécie de “CTNBio do B”, um novo braço de ala do governo interessada em dificultar o trabalho da comissão de biossegurança.

Colli afirma que não foi consultado sobre a criação de tal resolução. Nem mesmo informado. “Isso representa uma superposição de atribuições”, diz.

Para ele, a iniciativa da Anvisa é uma reação a duas vitórias conquistadas nos últimos meses por setores que não têm resistência prévia contra organismos geneticamente modificados - a redução do quórum para liberação comercial de transgênicos e a aprovação de um milho resistente a herbicidas.

“EXPROPRIAÇÃO”

O diretor e presidente em exercício da Anvisa, Cláudio Maierovitch, discorda. “O ambiente de conflito sempre existiu”, avalia. “A Lei de Biossegurança expropriou de órgãos técnicos, como Anvisa e Ibama, a competência de normatização.”

Para Maierovitch, com a lei, restaram aos dois órgãos colocar em prática as decisões da CTNBio e fiscalizar sua execução. A resolução é uma forma de recuperar parte do terreno perdido.

O inconformismo com tal redução de poderes nunca foi escondido. Na época da discussão da lei, os Ministérios do Meio Ambiente e da Saúde reivindicavam que decisões da CTNBio tivessem caráter consultivo e que Ibama e Anvisa pudessem vetar decisões. Perderam.

Além de ter o poder reduzido, Maierovitch afirma que a Anvisa nunca exerceu uma atribuição mantida pela lei atual. “Nós devemos preparar pareceres, ser consultados. Mas até hoje isso nunca ocorreu.”

À frente da CTNBio desde fevereiro de 2006, Colli se diz cansado. “Não deixo o cargo porque sei que, com isso, atenderia aos interesses dos que são por princípio contrários a transgênicos”, afirma.

Nos últimos meses, ele vem enfrentando uma sucessão de pequenos ataques ao andamento da CTNBio - ações na Justiça para protelar a apreciação de pedidos, que, agora, são acrescidos de outro elemento: “Há um movimento para que órgãos fiscalizadores e Ministério Público se juntem para discutir transgênicos.”

POSIÇÃO DO GOVERNO

O presidente da CTNBio considera indispensável uma posição do governo sobre o tema. “Caso contrário, os ataques dificilmente terão fim.” Maierovitch, por sua vez, acredita que tal tensão é natural. “Ibama e Anvisa serão sempre considerados como dificultadores do progresso. E outros setores, como pouco prudentes.”

Maierovitch afirma que a consulta pública não é interferência. Mas apenas dá transparência e regras para análises até hoje feitas com base apenas em impressões pessoais. Para o diretor, o fato de haver representantes de várias áreas de conhecimento e ministérios na CTNBio é de pouca relevância. “Até hoje tudo foi feito sem regras definidas, tudo muito aleatório.”

Questionado sobre o que poderia ocorrer caso a Anvisa recomendasse a proibição de um produto e a CTNBio liberasse, Maierovitch foi enfático: “Somos um órgão técnico. O ideal é que nossos pareceres sejam seguidos e respeitados.”

HC da Unicamp já desocupou 151 leitos e suspende cirurgias

Medida foi tomada para evitar contaminação por bactéria resistente a antibiótico

Tatiana Fávaro, CAMPINAS

OESP

A superintendência do Hospital das Clínicas (HC) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desocupou ontem 151 de 380 leitos. A medida preventiva foi tomada para evitar possível contaminação por bactéria. O HC determinou na segunda-feira o isolamento de pelo menos 17 pacientes portadores de variante da bactéria Enterococcus faecium e restringiu por até três semanas cirurgias e internações eletivas.

Dos 380 pacientes, 255 já passaram por exames e outros 125 deverão ser examinados hoje. Das cerca de 40 internações diárias, o número caiu a zero ontem. Cirurgias, só as urgentes, informou o superintendente em exercício, Manoel Bértolo. Diariamente, o HC realiza entre 30 e 35 cirurgias, entre emergenciais e eletivas. Ontem, foram feitas só 8.

O hospital fará a esterilização dos leitos desocupados e só deve voltar a receber pacientes de rotina quando as pessoas contaminadas com a variante resistente da E. faecium tiverem alta.

Como os pacientes do HC são encaminhados para Campinas pelas centrais de vagas do Estado, a Secretaria de Saúde já tomou providências para distribuir a demanda entre o Hospital Celso Piero, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, o Hospital Estadual de Sumaré e o Hospital Municipal de Jundiaí.

“Até ontem (anteontem), não havia recebido nenhuma informação sobre alta. Me ligaram para dizer que minha mãe deve sair do hospital”, afirmou ontem o vigilante Fábio Pessoa, de 28 anos. Sua mãe, Maria Aparecida Scoton, de 63, teve uma infecção após amputar as duas pernas, sofreu um enfarte e ficou em coma por cerca de um mês. Ontem, estava sendo alimentada por sonda, mas não precisava de ajuda de aparelhos para respirar. A superintendência do HC informou que a paciente tem condições de ter alta. Segundo Bértolo, as altas não serão adiantadas por causa do processo preventivo contra a bactéria.

A Enterococcus faecium, segundo especialistas, faz parte da flora do ser humano em condições normais de saúde, mas a forma variante encontrada demonstrou resistência a antibióticos. Os pacientes, porém, não estavam infectados.

Segundo o presidente do Centro de Controle de Infecções Hospitalares, o infectologista Plínio Trabasso, a presença da bactéria resistente foi identificada em exames de um paciente. “Posteriormente, encontramos em exames de mais pacientes e, por prevenção, resolvemos tomar medidas drásticas para impedir que haja algum tipo de infecção”, afirmou Bértolo.

A bactéria pode ter contaminado os pacientes por mutação ou disseminação cruzada, ou seja, por meio de instrumentos ou pelas mãos de profissionais. A variante resistente não causa problemas mais graves que as registradas com o tipo comum, como infecções urinária, sanguínea ou em ferimentos, segundo especialistas. Além disso, há um tipo de remédio, a linezolida, que pode combater a variante resistente aos antibióticos.

Cientista defende mata com valor

Para Luiz Hildebrando da Silva, economia amazônica ancorada em commodities destrói a floresta

Parasitologista brasileiro que investiga malária em Rondônia aposta que a biotecnologia renderá mais que soja e carne no futuro

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
FSP

Se o projeto de desenvolvimento do Brasil não mudar, o país vai continuar apenas "exportando bananas" (leia-se soja, carne e álcool) e derrubando a floresta amazônica sem receber nada. Isso, segundo o parasitologista brasileiro Luiz Hildebrando da Silva.
Há dez anos, Silva, um dos maiores especialistas em malária do mundo, trocou Paris por Porto Velho (RO) onde continua a fazer pesquisa, aos 78 anos. Para ele, o processo de desenvolvimento amazônico atual, centrado em produtos não tecnológicos como a soja e a carne, está promovendo uma "bela distribuição de renda, mas na Europa, não no Brasil".
Em entrevista concedida à Folha em Belém, no Pará, no início do mês durante a 59ª Reunião Anual da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, o médico mostrou com clareza a correlação entre a alta incidência de malária no interior de Rondônia e o modelo de desenvolvimento escolhido para a região Norte.
Para ele, a bioprospecção (pesquisa de fármacos e outros produtos derivados de seres vivos) é um caminho de desenvolvimento mais seguro. A exportação de carne, por outro lado, está atrelada ao desmate.
"Em números de 2004, podemos dizer que o rebanho amazônico é da ordem de 25 milhões de cabeças -isso em uma área de 7,5 milhões de hectares de floresta já derrubada", calcula Silva. "Hoje, a estimativa é que a pecuária ocupe quase o dobro disso."
Segundo o pesquisador, a rentabilidade média da pecuária na região é de US$ 210 por hectare para o produtor, um valor "baixo". "O setor não cria emprego, não distribui renda."
Como a carne brasileira custa em média US$ 1.500 a tonelada para os europeus -e ainda é taxada em US$ 3.500 por tonelada pelos governos- o raciocínio de Silva atinge um ponto culminante.
"Essa mais-valia [lucro retido] é usada por governos europeus para ajudar os produtores de lá. Acabamos fazendo para eles uma espécie de justiça social", explica o pesquisador.
"No caso da soja, ocorre o mesmo. A produtividade é ainda mais baixa", afirma.
Para alterar essa situação, Silva defende que instituições como a SBPC procurem defender por um novo modelo, baseado no produto natural, que consiga ser comercializado junto com um valor agregado.
O exemplo, de acordo com o pesquisador, pode estar nas pesquisas feitas no Ipepatro (Instituto de Pesquisas em Patologias Tropicais), em Porto Velho, do qual ele próprio é um dos coordenadores.
"Em uma das pesquisas, por exemplo, conseguimos isolar uma substância vegetal que pode inativar o veneno da jararaca. Ela tem ainda ação que poderá ser eficaz contra a leishmaniose", diz o cientista.
Ele lembra que já existem substâncias usadas contra males cardíacos, extraídas de venenos de cobra, comercializadas a US$ 350 o miligrama. "Isso [a pesquisa] também foi feito na Amazônia", diz o cientista.
Para ele, a comparação entre os ganhos com os produtos naturais aliados a algum tipo de inovação tecnológica é muito superior à exportação de carne, soja e até do álcool.

Ciclos de malária
Apesar de não ligar diretamente uma coisa a outra, Silva gosta de lembrar como a malária, doença na qual é especialista, chegou na Amazônia. "Foi nos anos 1950 e 1960, quando o governo militar começou a abrir estradas e distribuir terras." O novo ciclo de obras na floresta, como a construção de grandes usinas, pode ter um efeito semelhante, diz.
Como proposta para mudar o curso dos amazônidas, o parasitologista tem uma tese já estruturada, que batizou de "elitismo democrático".
"As lideranças não devem ser impostas de forma arbitrária. Elas devem surgir de forma democrática, de um processo seletivo, da capacitação de cada cientista", diz. "Para isso, nós temos que mudar as maneiras de seleção. Temos que incorporar, inclusive, elementos de estrutura seletiva do exterior."
Para o cientista, como sem liderança não há trabalho, existe uma cultura equivocada hoje em voga no Brasil, que acaba tendo repercussão em vários níveis. "A tendência é considerar que todo mundo é igual. E que o resultado de um progresso na área do conhecimento se faz pela somatória dos conhecimentos individuais. Não é verdade. Existe sempre a necessidade de inovação, de vanguarda, de líderes", diz o cientista.
"O desenvolvimento autônomo da Amazônia virá com ciência e tecnologia especializada. Com valor agregado em todos os produtos naturais. Se não for feito isso vamos ficar apenas na exportação de banana."

Relaxa, top top top, e goza. É ouro! - Juca Kfouri

Impressiona como o país cada vez mais se acostuma a fingir e a viver, e a morrer, das próprias mentiras

PEGUE-SE QUALQUER exemplo, mas fiquemos com os mais recentes.

No esporte, para começar.

O milésimo de Romário é um bom caso.

O Pan-2007, outro.

Ora, todos sabemos que o Baixinho, fabuloso, maior jogador que uma grande área já viu, criou um objetivo para ele mesmo e todos entraram na festa. Viva!

Mentira inofensiva. Mas mentira. Mentirinha, digamos.

Com o Pan é mais grave, pelo uso do dinheiro público sem a menor cerimônia, um dinheiro que os passageiros que cruzam o país pelos ares agradeceriam se o vissem mais bem gasto.

E aí a falsidade é grave, porque mata.

Em torno do Pan, a omissão é medalha de diamantes.

Thiago Pereira, que é um nadador digno de todo respeito e não tem a menor culpa do que se omite, é tratado como quem superou Mark Spitz.

E, friamente, é verdade.

Mas meia verdade, muitas vezes pior que a mentira pura, por mais difícil de ser desmascarada.

Ora, Spitz, ao ganhar cinco ouros no Pan de Winnipeg, em 1967, simplesmente bateu três recordes mundiais, como bateu outros sete ao ganhar mais sete medalhas de ouro em Munique, nos Jogos Olímpicos de 1972.

Compará-lo a Pereira não honra nenhum dos dois.

Fiquemos por aqui, para falar do que é mais chocante, porque sempre com a cumplicidade da mídia.

A tragédia da TAM, que obscureceu o Pan, é rica em ensinamentos.

Começou não é de hoje, com o escândalo do Sivam, no governo anterior, e continuou impávida e colossal de lá para cá.

Uma frase debochada e ultrajante da ministra do Turismo, um gesto raivoso e moralmente pornográfico do assessor presidencial, um pronunciamento vazio e perplexo do presidente que nunca havia visto uma sucessão de acontecimentos tão caóticos nos aeroportos nacionais e pronto!

Tudo continua como antes, a não ser, é claro, para quem morreu e para quem ficou por aqui, na saudade.

Ora, nem Romário é um artilheiro comparável a Pelé nem Pereira é o novo Spitz nem este governo é mais ou menos culpado que o anterior.

Somos todos responsáveis, ou quase todos, que continuamos a voar como voamos, a votar como votamos, a festejar como festejamos e a reclamar mais dos que são rigorosos do que daqueles que são complacentes.

Dar ao Pan-2007 sua verdadeira dimensão é, para muitos, sintoma ou de bairrismo ou de mau humor.

E a crise aérea vira exploração política.

Mas o que se vê na TV no Pan, e o que se viu e ainda se verá na TV sobre o avião da TAM, é de dar vergonha de como se faz jornalismo/sensacionalismo no Brasil.

O ufanismo sem limites e a demagogia sentimentalóide não nos levarão a lugar algum, a não ser neste em que estamos, do caos, da falta de perspectiva e da acomodação cúmplice e criminosa.

Os resultados superdimensionados do Pan-2007 inevitavelmente se inevitavelmente se transformarão em frustração quando Pequim chegar, no ano que vem.

Ou alguém acredita mesmo que o Brasil superou o Canadá, que é mais saudável e pratica mais esporte que o país norte-americano?

Brasileiro com muito orgulho?

Quadro de medalhas: 200 mortos.