quinta-feira, 10 de julho de 2008

Estudo vê porta de entrada do vírus da gripe das aves


Cientistas identificam proteínas que "ajudam" o patógeno a infectar células

Pesquisa pode abrir nova frente de combate ao H5N1, foco de risco de pandemia; mídia esqueceu o perigo diz manifesto de cientistas


France Presse/Arquivo

Imagem de microscópio mostra o vírus da gripe aviária, o H5N1

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Cientistas dos EUA, do Japão e da Indonésia anunciam hoje a descoberta de três proteínas humanas aproveitadas pelo vírus da gripe das aves, o H5N1, para infectar células. O resultado da pesquisa veio de um estudo com moscas-das-frutas geneticamente modificadas para se tornarem suscetíveis à doença, de forma semelhante ao que ocorre com os mamíferos. Usando uma técnica especial para "desligar" os genes que produzem essas proteínas nos insetos, os animais de laboratório se tornaram imunes.
"O conhecimento existente sobre esses genes sugere o envolvimento em estágios particulares de infecção", disse à Folha Paul Ahlquist, virologista da Universidade de Wisconsin (EUA), um dos autores do estudo. "Com o acúmulo de trabalhos como este, passamos a entender mais aspectos sobre como é a integração total do vírus com a célula infectada."
O trabalho dos cientistas -publicado na edição de hoje da revista "Nature" (www.nature.com)- lista a descoberta de cem genes usados pelo vírus como porta de entrada das células das moscas. Três deles são aqueles que têm correlatos em humanos.
Apesar de o H5N1 ainda ser essencialmente um vírus de aves, mais de 500 casos de infecção em humanos já foram relatados mundo afora, com 243 mortes. Cientistas temem que o acúmulo de mutações do patógeno possa chegar a um ponto em que ele seja capaz de se transmitir de pessoa para pessoa, desencadeando uma pandemia catastrófica.
"Isso [a identificação dos genes] pode acelerar o desenvolvimento de novas classes de drogas (...), que serão necessárias com urgência frente aos obstáculos para o desenvolvimento rápido de uma vacina efetiva contra a gripe pandêmica", escrevem os cientistas.
Conhecer proteínas dos hospedeiros que "ajudam" o vírus na infecção é difícil, em parte, porque os genomas de mamíferos são grandes e repetitivos (há muitos genes diferentes com função semelhante). Além disso, a estratégia de desligamento de genes em camundongos, diz Ahlquist, ainda é bem trabalhosa. Desenvolvendo uma maneira de infectar as moscas com o H5N1, os cientistas conseguiram acelerar um bocado o trabalho, mas ainda não existe certeza sobre se os genes descobertos poderão ser alvos diretos para drogas.

O risco esquecido
A "Nature" também publica hoje dois manifestos assinados por cientistas, que reclamam de obstáculos para a pesquisa de técnicas contra a gripe.
Alice Dautry, diretora do Instituto Pasteur, de Paris, afirma em texto assinado com outros dois colegas que o desinteresse da mídia sobre o tema tem alimentado o desinteresse de governos. É preciso mais empenho, diz, em estocar vacinas para a gripe comum, que seria uma ajuda indispensável numa eventual epidemia de H5N1.
"Vacinas contra uma linhagem pandêmica podem levar até seis meses para serem produzidas e distribuídas", escreve. Isso é tempo demais em uma pandemia. "Modelos recentes baseados em dados da gripe pandêmica de 1918 prevêem que de 50 milhões a 80 milhões de pessoas poderiam morrer", diz, "sobretudo em países em desenvolvimento".
Outro artigo, publicado por Steven Salzberg, da Universidade de Maryland (EUA), conclama cientistas a compartilharem mais os seus dados. Segundo ele, as vacinas contra gripe comum da temporada 2007/2008 falharam por razões que eram previsíveis. O problema teria sido evitado, diz, se cientistas da linha de frente tivessem disponibilizado seqüências de DNA à comunidade.

Nature 454, 177-182 (10 July 2008) | doi:10.1038/nature07082; Received 21 February 2008; Accepted 14 May 2008

Structure of the Ebola virus glycoprotein bound to an antibody from a human survivor

Jeffrey E. Lee1, Marnie L. Fusco1, Ann J. Hessell1, Wendelien B. Oswald1, Dennis R. Burton1 & Erica Ollmann Saphire1

  1. Department of Immunology and Microbial Science, The Scripps Research Institute, 10550 North Torrey Pines Road, Mail Drop IMM-2, La Jolla, California 92037, USA

Correspondence to: Erica Ollmann Saphire1 Correspondence and requests for materials should be addressed to E.O.S. (Email: erica@scripps.edu).

Ebola virus (EBOV) entry requires the surface glycoprotein (GP) to initiate attachment and fusion of viral and host membranes. Here we report the crystal structure of EBOV GP in its trimeric, pre-fusion conformation (GP1+GP2) bound to a neutralizing antibody, KZ52, derived from a human survivor of the 1995 Kikwit outbreak. Three GP1 viral attachment subunits assemble to form a chalice, cradled by the GP2 fusion subunits, while a novel glycan cap and projected mucin-like domain restrict access to the conserved receptor-binding site sequestered in the chalice bowl. The glycocalyx surrounding GP is likely central to immune evasion and may explain why survivors have insignificant neutralizing antibody titres. KZ52 recognizes a protein epitope at the chalice base where it clamps several regions of the pre-fusion GP2 to the amino terminus of GP1. This structure provides a template for unravelling the mechanism of EBOV GP-mediated fusion and for future immunotherapeutic development.