segunda-feira, 17 de março de 2008

Idéias para a educação

Em colunas anteriores, mostrei as posições do Ministro da Secretaria Especial de Ações de Longo Prazo em relação às questões do desenvolvimento e da Amazônia.

Vamos analisar, hoje, as posições em relação à educação, a partir de estudos produzidos por ele e pelo Ministro da Educação Fernando Haddad.

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Dos estudos de ambos se constata o seguinte.

A melhora da qualidade do ensino público é uma prioridade nacional. Para se alcançá-la, propõe-se duas iniciativas:

1. Construção de uma rede de escolas medias federais, com dimensão técnica e profissional.

2. A segunda é proposta para reconciliar a gestão das escolas pelos Estados e Municípios com padrões nacionais de investimento e qualidade.

Em relação às escolas técnicas, a meta será absorver 10% das matrículas totais do ensino médio. Nos últimos anos, aliás, tornou-se consenso a importância das escolas técnicas na formação escolar.

Com os 10% de matrícula, a idéia será trazer um impacto maior do que um mero programa piloto.

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Segundo o estudo, o elo mais fraco do sistema escolar é justamente o médio. Nos últimos anos houve inclusive redução do número de alunos matriculados.

Além de melhorar a qualidade, o ensino médio permitirá mudar o paradigma atual do ensino brasileiro. Hoje em dia, ainda se privilegia o chamado ensino enciclopédico e informático – com excesso de informações (desnecessárias em um ambiente de inclusão digital e de abundância de disponibilidade de informações).

A proposta é reforçar dos aspectos da Educação: os métodos de análise verbal e numérica e o uso criterioso da informação. Ou seja, ensinar a pensar e a verbalizar.

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Em relação ao modelo pedagógico das escolas técnicas, o trabalho constata que não será suficiente oferecer ensino tradicional rigidamente especializado. Ou seja, não se vai ensinar o aluno a especialização A ou B.

Hoje em dia, exige-se do trabalhador um conjunto de capacitações conceituais e práticas genéricas. Por exemplo, modelos de gestão, de organização do pensamento, de uso de ferramentas de informática. Ministrar ensino especialista para o aluno de uma escola técnica significará confiná-lo a profissões de pouco futuro e pouco espaço de especialização.

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Para avançar na gestão local das escolas por estados e municípios, o trabalho propõe algumas ações.

Primeiro, avançar no sistema nacional de monitoramento e avaliação, que já possui ferramentas como Prova Brasil e o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB), que permite redistribuir recursos e quadros dos lugares mais ricos para os mais pobres.

Quando uma rede escolas local não consegue atingir níveis mínimos de qualidade, hoje em dia existem os Planos de Ações Articuladas (PAR), expediente previsto no Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) que torna realidade o regime de colaboração.

A idéia será ampliar esse tipo de ação, através da criação de órgãos conjuntos com governo federal, estaduais e municipais, visando atuar sobre os estados que ficarem para trás.


enviada por Luis Nassif

Estudo detecta abundância de micróbios na chuva e na neve

Organismos analisados por grupo americano causam doenças principalmente em plantas; eles usam a atmosfera como uma forma eficiente de transporte

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Neve e chuva caindo na sua cabeça não incluem apenas gelo e água. Um estudo feito em várias partes do mundo mostrou que um bom número de micróbios vêm junto, pois eles surpreendentemente estão envolvidos diretamente com o processo da precipitação.
Mas não é preciso ter medo de uma chuva de doenças. A pesquisa mostrou que no caso da neve, são principalmente patógenos de plantas -micróbios causadores de doenças- que são transportados.
"Não conheço nenhum patógeno humano capaz de catalisar a formação de gelo, o foco do nosso estudo. Os organismos mais estudados que têm essa propriedade são patógenos de plantas, pois isso deve ser um meio pelo qual eles facilitam a transferência pela atmosfera para uma nova planta hospedeira", disse à Folha o líder da equipe de cinco pesquisadores, Brent Christner, da Universidade Estadual da Louisiana, em Baton Rouge.
"Ao fazer isso, os patógenos podem ter um efeito ainda não reconhecido no ciclo de precipitação", afirma Christner. O estudo promete ser útil para a investigação das relações entre o clima e o universo dos organismos vivos, a biosfera.
A neve, e também boa parte da chuva, surgem do crescimento de pequenos cristais de gelo no interior das nuvens. O gelo se forma em torno de partículas chamadas aerossóis. Diversos tipos de partículas podem servir como "nucleadores" do gelo, incluindo seres vivos, como bactérias.

Abundância
Apesar de já conhecidos dos cientistas faz 40 anos, não existe ainda uma estimativa sobre esses componentes biológicos na atmosfera. O estudo de Christner e colegas mostrou agora uma inesperada abundância deles.
Eles coletaram amostras de neve recentemente caída em vários locais do mundo, na França, no estado americano de Montana e também na região da Antártida.
A técnica envolveu amostras de pelo menos 1 kg de neve fresca coletadas de forma asséptica e depois testadas para checagem do componente biológico.
"O resultado surpreendente foi que em cada amostra que nós analisamos nós fomos capazes de detectar nucleadores de gelo em temperatura mais mornas, e a grande maioria era de origem biológica", declarou Christner em uma entrevista divulgada pela revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org).
Os nucleadores biológicos permitem à água congelar em temperaturas mais quentes do que normalmente ocorre.
As amostras incluíam células e fragmentos de células. Na neve da Antártida, o material biológico estava em menor quantidade do que nas dos Estados Unidos e da França.

Chuva induzida
"Em termos de saúde humana não existe realmente nada para se preocupar. Mas o mesmo não pode ser dito sobre plantas. Mas, por outro lado, isso pode não ser tão ruim para elas, porque esses micróbios induzem precipitação, que é obviamente importante para a planta", conclui o pesquisador.
No futuro, poderia ser possível induzir chuva em regiões áridas ao se plantar mais espécimes de plantas que abrigam mais patógenos, ele especula.
"Nossos resultados indicam que essas partículas estão amplamente dispersas na atmosfera e que, se presentes nas nuvens, elas podem ter um papel importante na iniciação da formação de gelo, especialmente quando as temperaturas mínimas das nuvens são relativamente quentes", escreveram os pesquisadores em uma nota breve publicada há duas semanas na "Science".
Embora não relatado no trabalho publicado na revista, os cientistas também obtiveram resultados semelhantes e surpreendentes com nucleadores biológicos encontrados em amostras de chuva na região de Louisiana, sul dos EUA.

Ubiquity of Biological Ice Nucleators in Snowfall


Brent C. Christner,1* Cindy E. Morris,2 Christine M. Foreman,3 Rongman Cai,1 David C. Sands4

Despite the integral role of ice nucleators (IN) in atmospheric processes leading to precipitation, their sources and distributions have not been well established. We examined IN in snowfall from mid- and high-latitude locations and found that the most active were biological in origin. Of the IN larger than 0.2 micrometer that were active at temperatures warmer than -7°C, 69 to 100% were biological, and a substantial fraction were bacteria. Our results indicate that the biosphere is a source of highly active IN and suggest that these biological particles may affect the precipitation cycle and/or their own precipitation during atmospheric transport.

1 Department of Biological Sciences, Louisiana State University, Baton Rouge, LA 70803, USA.
2 L'Institut Nationale de la Recherche Agronomique, Unité de Pathologie Végétale UR407, F-84140 Montfavet, France.
3 Center for Biofilm Engineering and Department of Land Resources and Environmental Sciences, Montana State University, Bozeman, MT 59717, USA.
4 Department of Plant Sciences and Plant Pathology, Montana State University, Bozeman, MT 59717, USA.

domingo, 16 de março de 2008

Inteligência antivírus

Grupo olha para as assinaturas genéticas das epidemias
Em 1990, o Brasil ainda apresentava mais de 60 mil casos confirmados de sarampo e quase 500 mortes. Cinco anos depois, eram menos de mil casos, graças à vacinação, e só uma dezena de óbitos. Aí, em 1997, a casa caiu.
Depois de um aumento suspeito no ano anterior, para 3.372 casos, veio a explosão: 53.664, em 1997, com 60 mortes. Mais de 42 mil desses casos pipocaram no Estado de São Paulo.
Amostras foram enviadas para os Centros de Controle de Doenças em Atlanta (EUA), famosos pela sigla CDC. Era a praxe epidemiológica da época, quando havia vírus na parada. Demorou três anos para especialistas brasileiros ficarem sabendo que muitos dos casos haviam sido causados por vírus revertidos de vacinas. Ou seja, partículas "ressuscitadas" pelo remédio para combater a própria doença. Um exemplo proverbial de tiro saído pela culatra.
Hoje em dia essa demora seria impensável, afirma o virologista Paolo Zanotto, da USP. Graças a uma rede de laboratórios que começou a nascer naquele pânico de 1997, o país pode hoje fazer centenas de análises simultâneas para identificar a variante do vírus envolvido numa epidemia.
Como tantas iniciativas fomentadas pela Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo), esta também foi batizada em inglês: Viral Genetic Diversity Network (VGDN).
Em bom português, Rede de Diversidade Genética de Vírus. A VGDN ganhou no mês passado as páginas do periódico científico "PLoS Biology" (biology.plosjournals.org). Sob o título "Acelerando a Virologia no Brasil", o artigo vem assinado por Zanotto e mais sete cientistas. Entre eles o físico José Fernando Perez, incluído por ter sido decisivo no surgimento da rede, quando atuava como diretor científico da Fapesp (Perez hoje atua como empresário).
A Fapesp não economizou dinheiro para pôr de pé esse setor de inteligência antivírus. Após um investimento inicial de US$ 2 milhões, outros US$ 7,5 milhões foram despejados para montar e aparelhar a rede com cinco laboratórios principais e 17 laboratórios-satélites, a partir de 2001.
Metade da verba foi para a construção de sete laboratórios com nível de segurança 3 (segundo mais alto na escala). São salas herméticas, das quais o ar só sai depois de filtrado, para evitar escape de agentes infecciosos. A primeira do Brasil foi inaugurada em 2003 no Instituto de Ciências Biomédicas da USP.
Tanto cuidado é necessário para a VGDN obter o que mais interessa: informação genética. É dos genes do vírus que se obtém sua identidade e, muitas vezes, a chance de compreender como atua uma determinada variante em seu confronto com a espécie humana.
"Em vez de olhar a epidemia pelo lado humano, invertemos a posição", explica Zanotto. "Olhamos para as assinaturas genéticas e nos sentamos no lugar do vírus, encarando a epidemia de sua perspectiva."
O pesquisador promete novidades para breve sobre vários vírus, de estudos realizados graças ao banco de dados da VGDN. Entre eles a variante Araraquara do hantavírus, agente misterioso que se infiltra entre roedores silvestres e passou a atacar humanos a partir do rio Hantan, durante a Guerra da Coréia (1950-1953).
O hantavírus causa hemorragias graves. Houve meio milhar de casos no Brasil, em duas décadas. Quase metade dos infectados morre.
Por aqui, de falência de coração e pulmões (na Ásia, dos rins). A unidade de inteligência VGDN já começa a desvendar como e por quê.

MARCELO LEITE FSP