sábado, 2 de agosto de 2008

Vacina contra febre amarela mata médico em Araraquara

GEORGE ARAVANIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

O médico e ex-vereador de Araraquara Paulo Monteiro de Barros Homem, 81, morreu em decorrência de uma reação à vacina de febre amarela. O diagnóstico foi confirmado pelo Instituto Adolfo Lutz de São Paulo, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde.
Barros Homem, que morreu no último dia 14 em Araraquara, não apresentava nenhuma contra-indicação à vacina, conforme reconheceu Helena Sato, coordenadora de imunização da secretaria.
O médico, que era clínico-geral, se vacinou seis dias antes de morrer com a intenção de viajar para Ubatuba. Foi o segundo caso no Estado de morte causada pela vacina. O primeiro foi na capital, em fevereiro.
A vacinação foi intensificada na região de Ribeirão Preto depois que dois homens morreram, vítimas de febre amarela -um morreu em Cravinhos e outro em São Carlos, cidade vizinha a Araraquara. As mortes ocorreram em abril e maio.
"Neste ano, aplicamos dois milhões de vacinas no Estado e só houve dois casos do tipo. Isso significa que a incidência é de um caso para cada um milhão de vacinados", diz Sato.
Apesar de não saber o que faz uma pessoa reagir à vacina, o Estado não deve suspender ou alterar o programa de vacinação contra a doença. "A vacinação continuará normalmente e todos que vão para a área de risco ou que moram na região [de Ribeirão Preto] devem se vacinar, com exceção das mulheres grávidas, crianças com menos de seis meses e os imunodepressivos", disse Sato.
Para o infectologista Otávio Cintra, do HC (Hospital das Clínicas) de Ribeirão Preto, a vacina contra a febre amarela é imprevisível. "É raro haver reações, mas quando há e a pessoa não se encaixa nas contra-indicações, vemos que é imprevisível o resultado. Porém, o risco de contrair a doença sem a vacina é muito maior, por isso ela precisa ser aplicada."

Histórico
Desde o início deste ano, houve 45 casos confirmados de febre amarela no país e 25 mortes, segundo dados do Ministério da Saúde.
O Estado campeão de mortes é Goiás, onde, de acordo com o Ministério da Saúde, ocorreram 14 mortes de um total de 22 casos confirmados. Minas Gerais é o Estado onde houve menos incidência da doença -apenas com um caso confirmado, sem morte.
A vacina deve ser tomada por quem mora em áreas de risco ou vai viajar para uma delas. Como a região de Ribeirão Preto já registrou duas mortes, a recomendação é que a população local busque a vacina.
Os sintomas da febre amarela são semelhantes aos de uma gripe, como febre e dor no corpo. Os efeitos surgem, em média, dois dias após o contágio e podem durar até uma semana.

USP é a 113ª melhor do mundo, diz pesquisa

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

A USP foi considerada a 113ª melhor universidade do mundo em um ranking divulgado ontem por um órgão de pesquisa do governo espanhol. A escola de São Paulo subiu 15 posições em relação a 2007.
Entre as 200 mais bem posicionadas do mundo, a instituição foi a única brasileira citada.
Um dos principais indicadores avaliados pelo ranking, chamado de "Webometrics Ranking of World Universities" (Ranking Mundial de Universidades na Web, em tradução livre), é o número de acessos, via internet, dos artigos produzidos pelas escolas.
Com o mecanismo, o Conselho Superior de Pesquisas Científicas -vinculado ao Ministério de Ciência e Tecnologia espanhol- busca quantificar a relevância da produção das instituições universitárias.
Após a USP, as instituições brasileiras mais bem posicionadas são a Unicamp (212ª) e a UFRJ (federal do Rio de Janeiro, em 330º).
As 25 melhores da lista são norte-americanas. MIT, Harvard e Stanford ocupam as melhores posições.
Foram analisadas 15 mil escolas no mundo todo, e 4.000 foram ranqueadas.
A melhor latino-americana foi a Universidade Autônoma do México (51ª).
Diversas instituições fazem rankings de universidades. Os mais tradicionais são o da Universidade de Jiao Tong (China) e das publicações "US News & World Report" (Estados Unidos) e "Times" (Inglaterra).
Um dos objetivos dessas listas é indicar aos melhores alunos as melhores instituições para se estudar.

Internacionalização
A reitoria da USP atribuiu a subida no ranking à preocupação da universidade em se internacionalizar, por meio de intercâmbio de alunos e professores, além de convênios com instituições do exterior (atualmente, há 326 vigentes).
Segundo a pesquisadora da USP Elizabeth Balbachevsky, o ranking demonstra que as instituições brasileiras de ensino superior têm baixo grau de inserção na comunidade científica mundial (apenas a USP ficou entre as 200 da lista).
"O Brasil está produzindo mais cientificamente, mas de forma insular. É pequeno o número de pesquisadores brasileiros em redes internacionais. Assim, poucos conhecem as universidades brasileiras."
Segundo Balbachevsky, um dos problemas da baixa internacionalização da produção científica do país é a perda de investimentos estrangeiros.
"Temos mais doutores na área da ciência da informática do que a Índia. Porém, enquanto a Índia capta quase um quarto de todo o investimento internacional na área, a situação brasileira é quase pífia."

Fiocruz inaugura centro de virologia de alta segurança

Verba de R$ 19 milhões permitirá instalação de nove novos laboratórios no Rio

Infra-estrutura permitirá intensificar pesquisas em vírus de doenças como gripe, rubéola, hepatite C, febre maculosa e dengue


Ricardo Stuckert/Presidência

Lula fala com pesquisadora nas novas instalações da Fiocruz

DA SUCURSAL DO RIO FSP

A Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) inaugurou ontem, com presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um novo prédio da instituição em seu campus de Manguinhos (zona norte do Rio), com aparato de alta segurança biológica para o estudo de vírus. O edifício abrigará nove laboratórios e serviços de pesquisa dedicados ao estudo de doenças infecciosas como gripe, rubéola, diarréias virais, hepatite viral, febre maculosa e dengue.
Numa escala que vai de 1 a 4, o novo prédio permitirá aos pesquisadores trabalharem no nível 3 de biossegurança em novos laboratórios. Esses locais com maior nível de segurança, no entanto, ainda estão em fase de implementação.
"Esses laboratórios estavam em prédios mais antigos, inadequados para o trabalho nas condições corretas de biossegurança, especialmente no caso de doenças virais, que exigem maior nível de segurança", afirma Tania Araújo-Jorge, diretora do IOC (Instituto Oswaldo Cruz).
Segundo ela, o novo prédio, com seis centrais de descontaminação (duas por andar), tem filtração completa de ar, total isolamento do ambiente e outras melhorias que permitem aos pesquisadores trabalhar com vírus conhecidos e desconhecidos sem risco de contaminar a equipe ou o ambiente.
"Teremos melhores condições de fazer diagnósticos de novos vírus e investigar surtos de origem desconhecida, por exemplo", diz Araújo-Jorge.
A pesquisadora explica que, nas instalações antigas, às vezes somente duas pessoas podiam ficar no local onde o vírus estava sendo estudado. "Nosso trabalho de pesquisa sobre diarréias virais, hepatite, gripe aviária e outros vírus era muito dificultado", disse. "Podemos, neste novo prédio, trabalhar com equipe maior, o que nos permitirá atuar com muito mais eficiência."
Segundo a Fiocruz, foram investidos no prédio, de 6 mil metros quadrados, R$ 19 milhões pelo governo federal.
Os nove laboratórios que passam a funcionar no local pesquisarão desenvolvimento tecnológico em virologia, vírus intestinais, flavivírus (da família da febre amarela e dengue), hepatites virais, genômica e proteômica de vírus, vírus respiratórios, sarampo, hantaviroses, riquetsioses (tipo de infecção bacteriana) e imunologia.
Além dos laboratórios, funcionarão no local também grupos de pesquisa que prestam consultoria e assessoramento para o Ministério da Saúde em algumas áreas estratégicas, como os serviços de referência nacional para poliomielite, hepatites virais, gripe, rubéola, sarampo, dengue e febre amarela, entre outros.
Na inauguração, Lula fez um gracejo com o presidente da Fiocruz, Paulo Buss, cujo segundo mandato termina neste ano. "Quero lamentar que você vai deixar a Fiocruz. Como nós somos contra qualquer hipótese de terceiro mandato, vamos torcer para que seu sucessor faça mais e melhor que você", declarou. O novo presidente da fundação será definido por eleição e assumirá em dezembro.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

"Pílula do exercício" faz cobaia virar maratonista

DA ASSOCIATED PRESS

Os benefícios do exercício físico já podem ser colocados em uma pílula. Pelo menos em laboratório, e em animais, os resultados positivos já apareceram. Até poderem ser usadas em humanos, porém, as novas drogas terão de enfrentar uma bateria de testes com anos de duração.
Uma das pílulas desenvolvidas pela equipe do pesquisador Ronald Evans, do Instituto Salk, na Califórnia, teve o efeito benéfico sobre os animais que já praticavam exercício físico, em média, 50 minutos por dia.
Os "supercamundongos" que tomaram o medicamento correram 68% mais do que aqueles que continuaram sendo apenas treinados. Ou seja, com o remédio, eles demoraram mais para sentir o cansaço físico. Como essa pílula não surtiu efeito em animais sedentários, porém, os cientistas tentaram interferir em uma outra via bioquímica. E tiveram sucesso.
A outra pílula conseguiu aumentar em 44% o rendimento físico de camundongos que não faziam exercícios anteriormente.
Evans afirma que não está trabalhando para nenhuma empresa farmacêutica. Ele reconhece porém, que a primeira pílula -sonho de consumo de atletas olímpicos- tem uma estrutura química relativamente simples de ser reproduzida em laboratório.
Também preocupados com o doping, os cientistas desenvolveram um teste que detecta as duas drogas e os seus subprodutos tanto na urina quanto no sangue.
Apesar de atletas sem muito espírito olímpico correrem todos os riscos para conseguirem melhorar seus desempenhos, as duas pílulas terão que passar por detalhados testes antes de poderem ser vendidas com segurança.
Portanto, enquanto a ginástica "virtual" farmacêutica não vira realidade, o melhor é seguir a recomendação médica de praticar exercícios "reais" que já tenham a segurança comprovada.

More Information and Video From the Howard Hughes Medical Institute

Couch Mouse to Mr. Mighty by Pills Alone (Nick Wade no Nytimes)

AMPK and PPARδ Agonists Are Exercise Mimetics (Cell)


Grupo transforma pele humana em neurônios

Tecido nervoso ganha potencial de células-tronco

IGOR ZOLNERKEVIC
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Um grupo de pesquisadores dos EUA conseguiu alterar células extraídas da pele de uma mulher de 82 anos sofrendo de uma doença nervosa degenerativa e conseguiram transformá-las em células capazes de se transformarem virtualmente em qualquer tipo de órgão do corpo. Em outras palavras, ganharam os poderes das células-tronco pluripotentes, normalmente obtidas a partir da destruição de embriões.
O método usado na pesquisa, descrita hoje na revista "Science", existe desde o ano passado, quando um grupo liderado pelo japonês Shinya Yamanaka criou as chamadas iPS (células-tronco de pluripotência induzida). O novo estudo, porém, mostra pela primeira vez que é possível aplicá-lo a células de pessoas doentes, portadoras de ELA (esclerose lateral amiotrófica), mal que destrói o sistema nervoso progressivamente.
O sucesso do experimento ainda não pode ser traduzido em terapia -os neurônios não foram reimplantados nas pacientes-, mas cria uma ferramenta inédita para estudo da doença em laboratório.
O estudo começou com a equipe de Christopher Henderson, da Universidade Columbia, de Nova York, extraindo células de duas irmãs, de 89 e 82 anos, portadoras de ELA.
Em 90% dos casos, a doença mata rapidamente as células que transmitem impulsos nervosos da coluna vertebral para os músculos, os neurônios motores. A maioria das vítimas morre em até cinco anos.
O segunda etapa foi cumprida por Kevin Eggan, da Universidade Harvard, que modificou geneticamente as células de pele das pacientes usando um vírus para enxertar quatro genes especiais dentro do núcleo celular, criando então as células iPS. Em seguida, mergulhou algumas delas numa solução de moléculas que as fez adotar características neuromotoras.
Ao contrário da forma comum de ELA, que tem origem em interações complexas entre genes e ambiente, a variedade da doença que aflige as pacientes do estudo tem causa simples, atribuída a um gene. Assim, cientistas esperam que a ELA se manifeste nas células neuromotoras criadas em laboratório para estudá-las melhor.
Pela primeira vez, seremos capazes de observar células com ELA ao microscópio e ver como elas morrem", disse Valerie Estess, diretora do Projeto ALS (sigla da ELA, em inglês), que financiou parte da pesquisa. Observar em detalhes a degeneração pode sugerir novos métodos para tratar a ELA.
Os pesquisadores, entretanto, ainda não viram nada nas amostras de células. "Não sabemos ainda se elas vão se degenerar", disse Henderson.
O objetivo a longo prazo da pesquisa é descobrir um jeito de corrigir os defeitos das células neuromotoras produzidas a partir das iPS e transplantá-las para os pacientes.
Há ainda o desafio de encontrar outra maneira de tornar as células pluripotentes. O vírus usado para criar as iPS, bem como um dos genes que faz esse serviço, podem provocam câncer. Além disso, ninguém sabe como consertar as células neuromotoras sofrendo de ELA.
Os autores do estudo afirmam que não podem abrir mão da destruição de embriões para obter células, criticada por católicos. "É essencial continuar a trabalhar com células-tronco embrionárias; elas permanecem como o padrão de ouro das células-tronco", disse Eggan.

Induced Pluripotent Stem Cells Generated from Patients with ALS Can Be Differentiated into Motor Neurons (Science)

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Estudo vê áreas da esquizofrenia no DNA

Dois trabalhos independentes apontam três novas regiões do genoma relacionadas ao mal psiquiátrico

DA REDAÇÃO

Dois grupos de cientistas publicam hoje estudos em que apontam regiões do DNA humano relacionadas ao risco para esquizofrenia. A descoberta saiu do maior levantamento genético já feito para investigar a doença. As duas pesquisas juntas envolveram mais de 8.000 pacientes esquizofrênicos comparados a 44 mil pessoas sem o problema psiquiátrico.
Um dos trabalhos, liderado por Pamela Sklar, do Hospital Geral de Massachusetts (EUA), confirmou uma tendência observada em estudos menores, indicando que as mudanças que causam propensão à esquizofrenia tendem a não se agrupar muito em genes específicos, e sim se espalhar em partes grandes do genoma, com genes "repetidos" ou "apagados".
O trabalho de Sklar sai hoje na revista "Nature" ao lado de outro estudo, liderado pela empresa islandesa Decode Genetics. Juntos, os estudos descrevem quatro partes do DNA que, quando "deletados", aumentam o risco para esquizofrenia, uma doença parcialmente genética. Uma delas já era conhecida, mas não confirmada.
Essas mutações são raras, dizem os pesquisadores, e respondem por uma parte pequena dos casos de esquizofrenia, mas os portadores dessas alterações acabam tendo o risco de contrair a doença bastante elevado. Uma delas aumenta aproximadamente de 1% para 12% o risco de uma pessoa se tornar esquizofrênica. Essas alterações surgem espontaneamente, dizem os pesquisadores, mas em geral não são transmitidas por muitas gerações.
"Essas descobertas são importantes porque elas jogam luz sobre as causas [da doença] e fornecem o primeiro componente de um teste molecular para ajudar o diagnóstico e a intervenção clínica", afirma Kari Stefansson, da Decode.
Hoje a esquizofrenia é diagnosticada por sintomas que incluem alucinações, pensamento confuso e emoções distorcidas. Segundo Camila Guindalini, geneticista da Unifesp que estuda males psiquiátricos, os novos estudos apontam "alvos de interesse" para uma possível descoberta de novos "genes candidatos" a serem estudados. Conhecer com mais precisão os genes implicados na doença pode ajudar na pesquisa de medicamentos mais precisos, afirma a cientista. (RAFAEL GARCIA)

Link para artigo de Nick Wade (Nytimes)

Large Recurrent Microdeletions Associated with Schizophrenia (Nature)

Systematic meta-analyses and field synopsis of genetic association studies in schizophrenia: the SzGene database (Nature Genetics)

Rare Chromosomal Deletions and Duplications Increase Risk of Schizophrenia

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Grupo testa medicamento inspirado no vinho tinto

PUCRS vende patentes sobre droga contra doenças ligadas ao envelhecimento

Cientista descobriu erva que possui a substância em mais concentração que as uvas; estudo nos EUA sugere que molécula tem "efeito dieta"

AFRA BALAZINA
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

A PUCRS (Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul) vendeu duas patentes para a Eurofarma com a intenção de produzir um medicamento contra doenças relacionadas ao envelhecimento. O remédio terá como base o resveratrol -molécula que está presente no vinho e no suco de uva. Foi a primeira vez que a universidade teve patentes licenciadas para uma empresa.
A molécula ajuda a controlar a chamada homeostase, o equilíbrio entre as funções do organismo. Segundo os pesquisadores, o resveratrol, que é um antioxidante, ajuda a regular proteínas ligadas a essa função.
Com a molécula isolada em um medicamento, porém, as pessoas deixam de ter o resveratrol como desculpa para ingerir bebida alcoólica.
Uma das patentes da PUCRS se refere à descoberta do professor da Faculdade de Química André Souto, que encontrou grande concentração da molécula na raiz de uma hortaliça chamada azeda. Ela possui cem vezes mais resveratrol do que o suco de uva ou o vinho.
Outra patente trata de uma formulação para aumentar a retenção desse composto no organismo, também elaborada por Souto. "A molécula tem um problema: é eliminada muito rapidamente", explica. "O desafio, então, foi inventar uma formulação que ficasse mais retida no organismo."
Segundo o pesquisador, um dos objetivos é testar a eficácia do remédio contra diabetes tipo 2, que é mais comum em idosos e está relacionada em certa medida ao desequilíbrio homeostático. Antes dos testes em humanos, serão feitos estudos da ação do fármaco em culturas de células e em cobaias.
Se o medicamento der certo, a PUCRS terá direito a 4% sobre as vendas, e esse valor é dividido com o pesquisador, que fica com 30%. Segundo Souto, o resveratrol pode abrir a porta para a chamada "medicina holística", que se propõe a tratar do organismo com um todo, e não de doenças específicas.
De acordo com Wolney Alonso, diretor de Inovação da Eurofarma, a expectativa otimista é colocar o remédio no mercado em 2013. Segundo ele, o campo de atuação da droga pode ser muito amplo, incluindo até mesmo doenças relacionadas à memória.
"Mas ainda faltam estudos sobre seus efeitos colaterais e sobre a quantidade máxima que pode ser ingerida", disse.
Alonso diz que a molécula era um objeto de desejo em razão do chamado "paradoxo francês": a França tem uma incidência menor de doenças cardiovasculares do que a Inglaterra, por exemplo, apesar de ambos os países cultuarem uma dieta rica em gorduras. A explicação estaria no vinho (britânicos preferem cerveja).

Nova panacéia?
No início do mês, um estudo com camundongos publicado na revista "Cell Metabolism" mostrou que o resveratrol tem o mesmo efeito que o de uma alimentação com poucas calorias. Nesses animais, ele ajuda a controlar a diabetes e problemas nos vasos sangüíneos, melhora a coordenação motora, previne a formação de catarata e preserva a densidade óssea.
Um dos autores da pesquisa, Rafael de Cabo, do Instituto Nacional de Envelhecimento dos EUA, afirma que o resveratrol aumenta "a vida produtiva e independente". Seu colaborador David Sinclair, da Escola Médica de Harvard, disse ter ficado surpreso em observar como os efeitos foram amplos nos roedores -o resveratrol influencia toda uma série de doenças não relacionadas entre si, mas associadas à idade.
As equipes de Sinclair e Cabo compararam três grupos de cobaias. Um deles era alimentado normalmente, um tinha refeições supercalóricas e outro hipocalóricas. Já se sabia que uma restrição calórica de 30% a 50% nas cobaias poderia prevenir problemas do envelhecimento, mas o resveratrol revelou efeitos semelhantes, sem dieta especial.

Link da matéria de Nicholas Wade NYT
e aqui

terça-feira, 29 de julho de 2008

HIV resistente a droga pode se esconder

Estudo nos EUA mostra que vírus menos suscetível a tratamento com anti-retrovirais está em 10% dos soropositivos

Após início de terapia, baixa população do supervírus em uma pessoa pode aumentar e fazer remédio falhar, diz centro de pesquisa dos EUA

DA REDAÇÃO FSP

Um estudo realizado com 500 soropositivos recém-diagnosticados nos EUA e no Canadá mostrou que 10% deles estão infectados com ao menos uma variante de HIV resistente a drogas. A resistência, antes, era observada apenas após o tratamento anti-retroviral, mas agora os vírus que ganharam imunidade a medicamentos como o Efavirenz já estão se disseminando por conta própria, à medida que a epidemia progride com o tempo.
O novo trabalho, publicado na revista "PLoS Medicine", foi uma colaboração entre os CDC (Centros para Controle de Doenças, dos EUA), a Agência de Saúde Pública do Canadá e empresa farmacêutica multinacional GlaxoSmithKline. Um portador de HIV resistente ainda pode se beneficiar de tratamento, porque os médicos podem procurar um medicamento alternativo.
O problema é que os vírus resistentes podem estar passando despercebido em muitos casos. Ao entrar em um organismo não infectado, eles tendem a reduzir as populações indetectáveis, mas que podem causar problemas no futuro, quando a pessoa começa a se submeter aos anti-retrovirais.
"A ausência de pressão seletiva associada à droga em pessoas que nunca receberam tratamento pode fazer os vírus resistentes caírem até níveis indetectáveis", escrevem os pesquisadores, liderados por Walid Heneine, dos CDC. Os testes mais convencionais, diz, não dão conta de identificar essas populações do patógeno.
"Nós usamos testes simples e sensíveis para investigar a evidência de transmissão da resistência a droga", dizem os médicos. "Os dados sugerem que uma proporção considerável da transmissão da resistência ao HIV-1 não é detectada por genotipagem convencional [teste da genética do vírus] e mutações minoritárias podem ter conseqüências clínicas."
Ao longo da pesquisa dos CDC, o tratamento com Efavirenz falhou em 7% dos pacientes que tinham níveis baixos de HIV resistente. Para aqueles que não carregavam o "supervírus", porém, só houve 1% de fracasso na terapia.

Avanço preocupante
Para o infectologista Steeven Deeks, da Universidade da Califórnia em San Francisco, esse problema não se estende, ainda, a uma parcela significativa dos soropositivos, mas é uma "descoberta preocupante".
"Apesar da alta taxa de evolução viral, o HIV mostrou ser surpreendentemente fácil de suprimir com terapia anti-retroviral combinada nas regiões do mundo em que o tratamento está disponível", escreve em comentário na "PLoS" independente do estudo do CDC. "Uma vez que agora existem mais de 20 drogas anti-retrovirais, entre seis classes únicas, mesmo que um regime falhe, outros em geral estão prontamente à disposição."
Na opinião do especialista, ainda é preciso fazer monitoramentos com maior amplitude para saber o grau de ameaça que os vírus resistentes oferecem à estratégia dos coquetéis de medicamentos anti-HIV como um todo. Os novos dados, porém, indicam que deve haver algum impacto. "A presença em baixa freqüência de mutações de resistência a drogas tinha um poder de predição independente sobre o fracasso posterior", diz Deeks.
Apesar de saberem que o problema é relevante, porém, os pesquisadores ainda não sabem se será viável fazer uma triagem para vírus resistente em todos os pacientes no futuro. A técnica de genotipagem usada pelos pesquisadores ainda é cara e trabalhosa, e outras medidas de saúde pública podem compensar mais o gasto, afirmam os médicos.

Avanço na educação profissional

ARMANDO MONTEIRO NETO
FSP

O desfecho exitoso de tão acalorada discussão mostrou que soluções negociadas são excelente caminho para as reformas necessárias ao país

DEPOIS DE uma rodada de debates francos, governo e entidades do Sistema S chegaram a um acordo que define nova agenda para a educação profissional, contribuindo para elevar o patamar socioeconômico do Brasil. A decisão não foi fruto de concessões nem de imposições de lado a lado. Representa o triunfo do diálogo amadurecido e da livre convergência de idéias, bem como do reconhecimento do papel que as duas partes têm a desempenhar para guindar a educação brasileira a um patamar de maior qualidade. A discussão reflete igualmente a compreensão de que processos de grande impacto social -como é o da formação de recursos humanos no país- devem ter transparência e ser submetidos a controle social. A Confederação Nacional da Indústria, à qual pertence o Senai, que, com o Sesi, forma o "S" da indústria, comunga essa visão e tem empreendido esforços para dar transparência crescente à sua gestão, já sob crivo de órgãos de fiscalização, como o Tribunal de Contas da União e a Controladoria Geral da União. O acordo preserva o foco e o modelo de governança do Sistema S. No caso do Senai, continuaremos a oferecer educação profissional de qualidade orientada por demandas das empresas e para a empregabilidade do trabalhador. A autonomia da instituição também foi preservada, o que garante flexibilidade e adequação às necessidades do parque produtivo, principal característica da atuação do Senai. A entidade, que formou 2,1 milhões de trabalhadores em 2007, assumirá compromissos que ampliam a oferta de cursos gratuitos e reforçam o atendimento a importante parcela da população. O Senai aumentará os investimentos em vagas gratuitas para pessoas de baixa renda, preferencialmente trabalhadores, e em cursos de maior duração. A gratuidade e a revisão da carga horária dos cursos, tendência verificada nos últimos anos, serão aceleradas. Para a gratuidade serão destinados, anualmente, dois terços da receita líquida da contribuição compulsória geral do Senai a partir de 2014. Até lá, haverá gradual elevação dos recursos destinados ao atendimento educacional gratuito, fortalecendo a função social da instituição. Outro avanço foi a compreensão da distinção de desafios da formação inicial e continuada. A fixação de carga horária mínima dos cursos de formação inicial contribuirá para uma maior qualificação profissional do trabalhador. Em ambiente de elevada concorrência, em que a demanda volátil se faz acompanhar pelo advento de inovações e mudanças na arena competitiva, o caminho para o sucesso passa pela combinação de educação geral com formação profissional, aprendizagem no local de trabalho e aprendizagem ao longo da vida. A necessidade de reciclagem e adaptação constante levou a CNI a lançar o programa Educação para a Nova Indústria, em agosto de 2007, implementado por Senai e Sesi. A iniciativa hoje integra os planos de competitividade setorial do Programa de Desenvolvimento Produtivo. O acompanhamento dos desmembramentos do acordo firmado será feito por meio de indicadores de desempenho que orientarão a alocação de recursos entre as diversas unidades do Senai. Tais informações estarão disponíveis para a sociedade. O acordo ainda consagra a manutenção dos serviços tecnológicos e a rede de laboratórios do Senai, que são decisivos para a instituição responder aos desafios da inovação constante, dando suporte às necessidades sobretudo de pequenas e médias empresas. A preservação dos investimentos na modernização da infra-estrutura do sistema e a permanente atualização de docentes e técnicos garantem a qualidade da educação profissional e favorecem a inserção dos alunos no mercado de trabalho. As negociações também resultaram na constituição de um grupo de trabalho interministerial, com participação da CNI, que estudará a implantação de medidas que possam vir a contribuir para o aprimoramento do sistema de educação profissionalizante. Entre as medidas, destacam-se a extensão de autonomia para autorização de cursos técnicos de nível médio e a desoneração tributária para a compra de máquinas e equipamentos destinados à educação profissional. O desfecho exitoso de tão acalorada discussão sobre a educação profissional mostrou que soluções negociadas são excelente caminho para realizar as reformas necessárias ao país. E são a prova de que indústria e governo estão empenhados na busca de convergências para propiciar desenvolvimento espacialmente mais equilibrado e socialmente mais justo.


ARMANDO MONTEIRO NETO, 56, advogado, deputado federal pelo PTB-PE, é o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria).

Inovação tecnológica: realidade e miragem

ROBERTO NICOLSKY e ANDRÉ KOROTTCHENKO DE OLIVEIRA -


FSP


Reverter o quadro do baixo número de patentes do Brasil não é missão para as universidades, ao contrário da opinião de muitos

O BRASIL ainda está longe de gerar tecnologia competitiva o suficiente para garantir espaço entre os grandes players mundiais em setores estratégicos da economia.
Tal situação pode ser claramente percebida ao analisar as últimas três décadas do ranking de registros de patentes no escritório norte-americano, o USPTO. O país vem gradativamente involuindo quando comparado com os emergentes asiáticos. Conhecido por sua objetividade e assertividade, terá de aprender algumas lições com os parceiros do outro lado do globo.
Em países desenvolvidos, concede-se maior número de patentes a inventores nacionais que a estrangeiros, não sendo diferente nos EUA, líder em seu território.
Ao analisar, porém, os demais países, fica evidente a ocorrência no cenário recente de uma "dança das cadeiras", na qual o velho continente perdeu paulatinamente o lugar. O Japão ultrapassou a Alemanha em patentes concedidas nos EUA em 1975 e, desde então, as duas nações se mantiveram, respectivamente, nas segunda e terceira posições do ranking do USPTO. A grande mudança nos últimos dez anos é a ascensão de Taiwan e, principalmente, da Coréia do Sul.
Coréia do Sul e Taiwan, hoje em quarto e e quinto lugares, deixaram para trás países como Grã-Bretanha e França, ocupantes dessas posições por três décadas. Trata-se de um claro indício do declínio tecnológico dos tradicionais países europeus. Caso a tendência se mantenha, em menos de dez anos, os asiáticos ultrapassarão também a Alemanha.
O fato de os emergentes citados estarem patenteando fortemente no exterior indica que eles investem para dominar a tecnologia de produção e de processos.
O furacão asiático também atingiu o Brasil, que hoje está na 29ª posição do ranking, tendo sido ultrapassado, em 2007, pela pequena Malásia. Desde 1975, perdemos lugar para Taiwan, Coréia (1983), China (1986), Cingapura (1996) e Índia (1998), demonstrando pouca capacidade de absorver as tecnologias dos países desenvolvidos e de gerar inovações próprias.
O baixo número de patentes brasileiras está diretamente relacionado ao escasso investimento em pesquisa e desenvolvimento na indústria.
Essa situação, por sua vez, é reflexo da falta de incentivo público mais eficiente, que é o compartilhamento universal do risco tecnológico entre Estado e empresa, mecanismo que alavanca o crescimento dos outros emergentes e o mais usado pelos países desenvolvidos para manter as suas lideranças tecnológicas.
Reverter esse quadro não será uma missão para as universidades, ao contrário da opinião de muitos. Vale registrar que, historicamente, menos de 2% do total de patentes dos EUA são concedidos a universidades. Em nenhum país emergente bem-sucedido a inovação veio da academia, apesar da inestimável importância dessa instituição na sua missão de formar recursos humanos qualificados. Como as inovações atendem a necessidades dos consumidores e usuários, é natural que sejam geradas no pólo produtor, isto é, nas empresas.
O recente desenvolvimento tecnológico da Índia e da China reforça essa tese. Não existe nenhum produto novo lançado por esses países, mas as suas patentes crescem exponencialmente por meio de processos de engenharia reversa, ou cópia criativa, e, em um segundo momento, geração de inovações incrementais. Agregar valor por meio de inovações incrementais em tecnologias importadas é uma atividade que conta com fomento explícito na Índia (lei nº 44/95). Assim ocorreu no Japão do pós-guerra e, posteriormente, na Coréia do Sul e em Taiwan. E é isso que, entre nós, faz o sucesso de Petrobras, Embraer e outras empresas brasileiras que estão continuamente agregando pequenas inovações incrementais aos seus produtos e processos.
Em vez de dar toda a força às inovações incrementais, as políticas públicas no nosso país insistem há mais de 30 anos na estratégia equivocada de apostar no ineditismo, ainda que o insucesso desses projetos nos distancie cada vez mais dos emergentes orientais no ranking de patentes e na taxa de crescimento do PIB.
Isso se evidencia na fala repetida "ad nauseam" por algumas autoridades brasileiras: "O que nos falta é apenas saber transformar em patentes a ciência produzida nas nossas universidades". Como toda miragem, essa também se desmancha no ar quando nos aproximamos dela.


ROBERTO NICOLSKY, 70, físico, é diretor-geral da Sociedade Brasileira Pró-Inovação Tecnológica. ANDRÉ KOROTTCHENKO DE OLIVEIRA é engenheiro eletrônico e consultor em gestão de patentes.