quinta-feira, 13 de março de 2008

USP endurece regras de jubilação de estudantes

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO
FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Uma mudança no regimento geral da USP alterou as regras para cancelar a matrícula (jubilação) de alunos que deixem de freqüentar cursos.
A partir da nova resolução, assinada pela reitora Suely Vilela, ficaram menores os períodos em que o aluno pode permanecer fora da universidade sem perder automaticamente o direito à matrícula. O prazo caiu de três para dois semestres consecutivos sem matrícula.
Avaliada desde 2005, a medida foi aprovada pelo Conselho Universitário no último dia 4 e passou a vigorar anteontem.
As mudanças, porém, só começam a ser aplicadas aos estudantes que entraram na universidade a partir deste ano. A USP conta com cerca de 50 mil alunos na graduação.
"A intenção da nova regra é identificar com mais antecedência aquele aluno que evadiu, para podermos usar essa vaga", disse o professor Quirino Augusto de Camargo Carmello, coordenador da câmara do conselho de graduação que analisou a mudança.
Anualmente, a USP realiza um concurso de transferência, para que estudantes de outras instituições possam ocupar as vagas ociosas.
Outra mudança determinada pelo conselho prevê que o aluno perde a matrícula quando ficar dois semestres seguidos sem nenhum crédito (ou seja, aprovado em ao menos uma disciplina). O regimento antigo previa até quatro semestres.
Uma das alterações mais contundentes do regimento acaba com a possibilidade de o aluno ficar indefinidamente fora da universidade sem perder o vínculo de forma definitiva.
O estudante excluído podia pedir reanálise e, havendo vaga, retomar o curso a qualquer momento (mesmo que 20 anos depois). Agora há um limite de cinco anos para isso -e o pedido só poder ser feito uma vez.

Em viagem
A Folha procurou a reitora para comentar a mudança no regimento da universidade, mas a assessoria de imprensa informou que ela está em viagem oficial e não pôde conceder entrevista. A instituição não informou quantos alunos são jubilados anualmente.
A reportagem procurou também o DCE (Diretório Central de Estudantes) ontem, mas ninguém da diretoria estava. A Folha deixou recados, mas ninguém da entidade telefonou de volta para o jornal até a conclusão desta edição.
"A mudança no regimento ajuda a controlar problemas causados pela evasão, mas é preciso informar ao aluno quando ele estiver prestes a ser jubilado", diz o presidente da Adusp (Associação dos Docentes da USP), Otaviano Helene.
Helene criticou somente o estabelecimento de prazos para que o estudante apresente pedido para ser reincorporado. "É desnecessário, porque não implica nenhum custo para a universidade."

Gene "mafioso" controla câncer de mama

Japoneses radicados nos EUA descobrem um segmento de DNA que coordena a função de outros mil genes tumorais

Pesquisadores afirmam que mecanismo tem papel no surgimento da metástase; desligamento de gene pode resultar em tratamento

NIST
Células de tumor de mama que apresentam gene defeituoso


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é sempre que um chefão da máfia ou do narcotráfico é preso ou leva uma bomba na cabeça. O mesmo acontece com genes ligados a doenças: nem sempre se consegue provar a sua culpa. Uma equipe de pesquisadores nos EUA identificou agora um gene capaz de controlar outros mil genes como se fosse um líder de gangue, e com isso promover o crescimento dos tumores de mama.
Mais grave ainda, o gene "mafioso", o SATB1, tem papel ativo na formação de outros focos de câncer no organismo -o processo chamado metástase, que é a causa de morte mais comum em pacientes da doença.
O estudo foi liderado pelos casal de pesquisadores Terumi Kohwi-Shigematsu e Yoshinori Kohwi, do Laboratório Law- rence Berkeley, da Universidade da Califórnia em Berkeley.
A descoberta pode servir tanto para criar diagnósticos mais precoces e precisos quanto para uma eventual terapia. "O SATB1 pode ser útil como alvo terapêutico na doença de mama com metástase", escrevem os autores em artigo na edição de hoje da revista "Nature".
Os cientistas também demonstraram em experimentos com camundongos que, depois de inativado o gene, também termina a proliferação alucinada das células tumorais.
O SATB1 e a proteína que ele codifica têm um papel normal num organismo sadio. Ele é uma espécie de "organizador" de outros genes, mas pode voltar esse talento para o "crime" e causar tumores agressivos que crescem e se espalham.
"Depois que o chefe do crime é retirado do contato com sua gangue -as células de mama tumorais-, essa comunidade retorna a ser uma comunidade sadia, não tendo mais a habilidade de se engajar em crime. Por isso é extremamente importante alvejar o SATB1", disse Kohwi-Shigematsu à Folha.
Segundo a pesquisadora, uma vez reprimido o gene, o câncer perde seu potencial de agressividade. "Mas é importante que o SATB1 seja mantido assim a longo prazo, para evitar que as células cancerosas voltem a se espalhar", afirmou.
O SATB1 é necessário quando células T do sistema imunológico (de defesa do organismo) são ativadas para produzir citocinas, substâncias que promovem a produção de anticorpos por outras células de defesa, as células B. Se o SATB1 for retirado de células T sadias, os pacientes sofrem problemas na sua reação imunológica.
"Só que nós descobrimos, inesperadamente, que ele se expressa em um subconjunto de células cancerosas e essas células ganham atividade de metástase. O SATB1 é, de fato, determinante para a metástase do câncer de mama", diz a cientista nascida no Japão.
Essa descoberta também modifica a maneira pela qual os cientistas compreendem a metástase, um processo de várias fases, desde a invasão das células tumorais em tecidos adjacentes até sua ida para a circulação e criação de um novo foco em outra parte do corpo.
Em geral, acreditava-se que as células metastáticas seriam raras e surgiriam em estágios finais da progressão do tumor a partir de mudanças genéticas. A novidade agora foi mostrar que há células em alguns tumores primários que já são predispostas à metástase e que a proteína SATB1 tem papel nisso.

SATB1 reprogrammes gene expression to promote breast tumour growth and metastasis

Hye-Jung Han1, Jose Russo2, Yoshinori Kohwi1,3 & Terumi Kohwi-Shigematsu1,3
Mechanisms underlying global changes in gene expression during tumour progression are poorly understood. SATB1 is a genome organizer that tethers multiple genomic loci and recruits chromatin-remodelling enzymes to regulate chromatin structure and gene expression. Here we show that SATB1 is expressed by aggressive breast cancer cells and its expression level has high prognostic significance (P <>1,000 genes, reversing tumorigenesis by restoring breast-like acinar polarity and inhibiting tumour growth and metastasis in vivo. Conversely, ectopic SATB1 expression in non-aggressive (SKBR3) cells led to gene expression patterns consistent with aggressive-tumour phenotypes, acquiring metastatic activity in vivo. SATB1 delineates specific epigenetic modifications at target gene loci, directly upregulating metastasis-associated genes while downregulating tumour-suppressor genes. SATB1 reprogrammes chromatin organization and the transcription profiles of breast tumours to promote growth and metastasis; this is a new mechanism of tumour progression.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Acelerando a transferência do conhecimento

A ampliação do número de doutores nas corporações é um vetor capaz de acelerar a absorção e a incorporação rápida do avanço científico

FSP

O SANTA FE INSTITUTE (SFI) , localizado no alto das montanhas do Novo México, nos Estados Unidos, é um símbolo de pesquisa avançada, marcada pelos estudos sobre complexidade, pelo enfoque multidisciplinar e pela ousadia.
Ousadia essa que se manifesta nos temas ambiciosos das pesquisas em andamento e na convivência de diferentes culturas e múltiplas áreas do conhecimento científico.
Os grandes temas cobrem desde a física dos sistemas complexos até estudos quantitativos sobre o comportamento humano e as instituições sociais, abordando grandes problemas como mudanças climáticas, violência, terrorismo e epidemias. No tradicional chá, servido diariamente às 15h, debate problemas vários um seleto grupo de professores e pesquisadores, que inclui desde Murray Gell Mann, Prêmio Nobel de Física, até o escritor Cormac McCarthur, ganhador do Prêmio Pulitzer e autor de vários livros, entre eles o romance que inspirou o filme "Onde os Fracos Não Têm Vez", ganhador do Oscar de melhor filme deste ano.
Não custa dizer que toda essa ousadia está solidamente lastreada em pesquisas cujos resultados aparecem freqüentemente nas mais prestigiosas revistas científicas, como a "Nature" e a "Science". O Santa Fe Institute é uma instituição privada, totalmente independente, financiada por agências do governo e recursos oriundos do setor privado. O que, no entanto, torna esse pequeno instituto uma jóia no cenário científico internacional?
Não é apenas uma ambiciosa e arriscada agenda de pesquisa, mas também a forma como ele se relaciona com a sociedade e as empresas. Como pesquisador-visitante durante um período, fui convidado a fazer uma apresentação em um evento organizado pelo instituto, com o objetivo de ampliar a rede de relacionamento do SFI com o mundo corporativo. Algo pouco usual para os tradicionais institutos de pesquisa. Uma questão logo me ocorreu: como os resultados de pesquisas básicas, voltadas para avançar o conhecimento fundamental em áreas distantes do horizonte empresarial, iriam despertar a participação de executivos e estrategistas de grandes empresas?
No seminário, estavam representantes de algumas das maiores empresas globais de diferentes setores da economia e vários pesquisadores, que incluíam biólogos, matemáticos, antropólogos, economistas, físicos e cientistas da computação. O foco era, no entanto, bem claro: apresentar resultados de pesquisas, na maior parte das vezes resultados de pesquisas multidisciplinares, mas apoiados em sólidas teorias quantitativas.
A ponte entre a pesquisa e sua aplicabilidade para as empresas estava a cargo dos participantes, e não dos pesquisadores, que na maior parte dos casos, desconhecem os problemas da realidade das empresas. A inversão da ordem dessa equação tradicional de transferência do conhecimento requer uma condição básica: que os geradores do conhecimento e os receptores tenham níveis compatíveis de formação e informação. O que em termos práticos traduz-se na necessidade das empresas e indústrias terem profissionais com doutorado em seus quadros.
As pesquisas em si já tinham algo de inovador, algo além da fronteira das disciplinas, que desperta múltiplas possibilidades de análise. Na apresentação de uma teoria formal e quantitativa sobre evolução cultural de diferentes grupos sociais em diferentes países, os participantes das empresas estabeleceram de imediato uma ligação entre o modelo proposto e sua aplicabilidade aos problemas decorrentes dos processos de fusão de grandes corporações.
Nessa experiência inovadora do SFI, colocando juntos pesquisadores e executivos, ciência básica e pragmatismo empresarial, vêem-se alternativas para a aceleração da inovação no Brasil. A transferência do conhecimento científico e tecnológico é um componente essencial para o país avançar no desenvolvimento econômico. A ampliação do número de doutores na indústria e nas grandes corporações é um vetor capaz de acelerar a absorção e a incorporação rápida do avanço científico e tecnológico. A aproximação efetiva do setor privado e instituições de pesquisa científica e tecnológica, por meio da proposição de problemas estratégicos e do financiamento da pesquisa, abre caminhos para acelerar o processo de inovação tecnológica no Brasil.


VIRGILIO FERNANDES ALMEIDA é professor titular do Departamento de Ciência da Computação da UFMG e membro da Academia Brasileira de Ciências.

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