sábado, 5 de abril de 2008

Embrapa cria larvicida ecologicamente correto

Segundo bióloga, produto é eficaz para matar a larva do mosquito da dengue e inofensivo aos homens

LUCAS REIS
DA FOLHA RIBEIRÃO

Um larvicida desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), ecologicamente correto e inofensivo ao homem, será aplicado no combate às larvas do Aedes aegypti em Jardinópolis, cidade que tem apenas um caso de dengue.
O anúncio foi feito ontem em evento na cidade, quando o produto -chamado Bt-horus -foi apresentado a prefeitos da região, entre eles Welson Gasparini (PSDB), de Ribeirão Preto, que já contabiliza 267 casos da doença.
O larvicida foi industrializado por uma empresa de biotecnologia de Brasília. Segundo Rose Monnerat, bióloga e pesquisadora da Embrapa, o larvicida já foi testado em quatro cidades do país -São Sebastião (DF), Rio das Ostras (RJ), Sorriso (MT) e Três Lagoas (MS)- , com resultados satisfatórios.
Desenvolvido em 2005 pela Embrapa, o produto é feito a base da bactéria Bacilus thuringiensis, usada no controle de insetos. No Estado de São Paulo, será a primeira vez que o larvicida será utilizado.
"O produto é altamente eficaz para matar a larva do mosquito da dengue e é totalmente seguro à saúde de todos e ao meio ambiente. Se alguma criança beber um pouco da água com o larvicida, não tem problema nenhum", disse.
Outra vantagem apontada pela bióloga é a possibilidade de a população colaborar na aplicação do produto. "Cada residência poderá ter um frasco com o larvicida e, após orientação, o próprio cidadão o aplicará em casa", disse.
"É uma divisão de responsabilidade entre o município e a população", disse o prefeito Gasparini, que pretende aguardar os resultados obtidos em Jardinópolis antes de adotar o produto em Ribeirão.

sexta-feira, 4 de abril de 2008

Superbactéria come antibióticos

Grupo dos EUA descobre seres que toleram os remédios; alguns podem viver exclusivamente deles

Micróbios vivem no solo e não causam doenças em humanos, mas cientistas temem que eles passem genes a parentes perigosos

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Uma equipe nos Estados Unidos descobriu uma grande quantidade de seres vivos com um comportamento aparentemente suicida: superbactérias que devoram antibióticos.
A má notícia só não é completa porque nenhuma delas causa de doenças em humanos -apesar de terem parentes próximas com essa capacidade e poderem servir de reservatório genético de mecanismos de resistência a antibióticos.
Um dos maiores temores da medicina hoje é o aumento da capacidade de resistência de micróbios causadores de doenças aos antibióticos que deveriam matá-los. Cada vez mais surgem linhagens de micróbios mais e mais resistentes -como os causadores de tuberculose.
O aspecto mais surpreendente da descoberta, segundo George Church, da Escola Médica Harvard, foi que "muitas bactérias, em muitas amostras de solo, podem não só tolerar antibióticos como viver deles como sua única fonte de nutrição", conforme declarou em entrevista gravada divulgada pela revista "Science", onde o achado foi publicado hoje.
Algumas toleraram concentrações de antibióticos de 50 a 100 vezes maiores que o índice usado para definir o começo da resistência a esses remédios. Por isso, foram chamadas de "super-resistentes".
Ironicamente, Church e colegas não procuravam superbactérias. Eles procuravam micróbios capazes de eliminar toxinas do solo, que servissem de "lixeiras" capazes de converter resíduos em algo inócuo.
Os antibióticos serviriam para testar as bactérias e controlar melhor os experimentos. Até que se descobriu que muitas delas estavam transformando os antibióticos em uma fonte do elemento carbono.
O grupo então isolou centenas de bactérias de 11 tipos diversos de solo. E viu como as superbactérias eram comuns, além de pertencerem a diferentes categorias.
Foram testados 18 antibióticos, de origem natural, como a penicilina, ou sintética, como a ciprofloxacina. "Cada antibiótico testado foi capaz de apoiar o crescimento bacteriano. Seis entre os 18 apoiaram o crescimento em todos os 11 solos", redigiram os autores.
A resistência aos antibióticos se dá de diversas maneiras. Há bactérias capazes de bombear o remédio para fora da sua célula; outras usam enzimas que inativam o composto antibiótico.
A resistência é transmitida por transferência lateral ou horizontal de genes, por meio da qual um organismo passa material genético para outro que não é seu descendente. Não se conhece ainda o mecanismo que permite às superbactérias resistir aos antibióticos e também degustá-los.
Para os pesquisadores, a transferência lateral de genes que codificam a maquinaria enzimática responsável por uma bactéria conseguir viver comendo antibióticos sintéticos, de micróbios no solo para causadores de doenças, "poderia introduzir um novo mecanismo de resistência até agora não observado na clínica".
O risco existe, mas não é provável. Nos locais do corpo humano passíveis de infecção existe comida de sobra. Não faltam fontes de carbono. Para o patógeno, só resistir ao antibiótico já está bom. Comê-lo seria um luxo desnecessário.

Bacteria Subsisting on Antibiotics

Gautam Dantas,1* Morten O. A. Sommer,1,2* Rantimi D. Oluwasegun,1 George M. Church1{dagger}

Science 4 April 2008:
Vol. 320. no. 5872, pp. 100 - 103

Antibiotics are a crucial line of defense against bacterial infections. Nevertheless, several antibiotics are natural products of microorganisms that have as yet poorly appreciated ecological roles in the wider environment. We isolated hundreds of soil bacteria with the capacity to grow on antibiotics as a sole carbon source. Of 18 antibiotics tested, representing eight major classes of natural and synthetic origin, 13 to 17 supported the growth of clonal bacteria from each of 11 diverse soils. Bacteria subsisting on antibiotics are surprisingly phylogenetically diverse, and many are closely related to human pathogens. Furthermore, each antibiotic-consuming isolate was resistant to multiple antibiotics at clinically relevant concentrations. This phenomenon suggests that this unappreciated reservoir of antibiotic-resistance determinants can contribute to the increasing levels of multiple antibiotic resistance in pathogenic bacteria.

1 Department of Genetics, Harvard Medical School, Boston, MA 02115, USA.
2 Program of Biophysics, Harvard University, Cambridge, MA 02138, USA.

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Gene aumenta risco de câncer de pulmão

Fumantes portadores de variação comum no DNA têm risco até 80% maior de desenvolver doença que não-fumantes

Resultado é de três estudos independentes, que fizeram varredura no DNA de fumantes; variações de risco estão no cromossomo 15

DA REDAÇÃO FSP

Três grupos internacionais de cientistas identificaram pela primeira vez um conjunto de variações genéticas -todas no mesmo trecho do DNA humano- que aumentam o risco de câncer de pulmão nos fumantes. A descoberta mostra que algumas pessoas têm predisposição hereditária ao câncer, o que as torna mais vulneráveis aos efeitos danosos do tabaco.
A descoberta foi feita de forma independente por grupos na França, na Islândia e no Reino Unido. Eles usaram novos métodos para vasculhar o genoma humano e chegaram ao mesmo resultado, o que aumentou a confiança nas conclusões. As descobertas foram publicadas nas revistas "Nature" e "Nature Genetics".
No total, foram analisadas 300 mil mutações no DNA de mais de 12 mil fumantes e ex-fumantes na Europa e na América do Norte. Os pesquisadores chegaram a duas regiões do cromossomo 15 que parecem abrigar os genes ligados à predisposição ao câncer. É aí também que estão os genes que codificam os receptores da nicotina, princípio ativo do cigarro.
"Esse gene é como uma praga dupla", disse Christopher Amos, professor de epidemiologia no M.D. Anderson Cancer Center, nos EUA, e co-autor de um dos estudos, referindo-se a uma das variações genéticas descobertas. "Também torna você mais suscetível a ser dependente de cigarro e menos suscetível a parar de fumar."
Um fumante que herda duas cópias de uma dessas variações genéticas (do pai e da mãe) tem uma chance 80% maior de ter câncer de pulmão do que um fumante sem a variante.
As descobertas podem levar a uma melhor forma de prevenir e tratar o câncer de pulmão, o tipo de tumor mais comum no mundo, que deve atingir só no Brasil 27.300 pessoas em 2008, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
"Abre-se a possibilidade para que tratamentos que bloqueiem esses genes possam ser benéficos no tratamento estratégico contra o câncer de pulmão e também contra o vício", disse Paul Brennan, da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, em Lyon, França.
O fumo causa nove de dez casos de câncer. Entretanto, apenas cerca de 15% dos fumantes desenvolvem realmente a doença, e os médicos há tempos suspeitam que um elemento genético estivesse envolvido.
Os cientistas salientam que a descoberta não equivale a uma "licença para fumar" para as pessoas sem as variações genéticas. "O que interessa ao indivíduo é o risco absoluto de ter câncer de pulmão", disse Brennan. "Se você fumar a vida inteira, ele é de 15%, e se você não tem nenhuma cópia do gene variante, é um pouco menos. Mas, se você tem as duas cópias, será de cerca de 25%. Obviamente, mesmo em quem não tem nenhuma cópia, ainda há um risco alto para quem fuma."
"Mesmo que um subgrupo de pessoas seja tido como "resistente" aos efeitos do fumo no desenvolvimento do câncer de pulmão, é improvável que essas pessoas também estejam protegidas contra doenças cardíacas e obstrução pulmonar", escreveram Stephen Chanockis, do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, e David Hunter, da Universidade Harvard. Eles comentaram os estudos na "Nature" de hoje.
Pessoas que nunca fumaram e que portam essas variações genéticas no cromossomo 15 -cerca de 50% da população possui uma cópia do gene- também podem ter um risco aumentado de desenvolver o tumor, embora os três estudos não estejam de acordo sobre isso. Os genes podem aumentar o risco de câncer simplesmente ao aumentar a dependência, já que a ação cancerígena da nicotina é conhecida.

A variant associated with nicotine dependence, lung cancer and peripheral arterial disease

Nature 452, 638-642 (3 April 2008) Thorgeirsson et al.
Smoking is a leading cause of preventable death, causing about 5 million premature deaths worldwide each year1, 2. Evidence for genetic influence on smoking behaviour and nicotine dependence (ND)3, 4, 5, 6, 7, 8 has prompted a search for susceptibility genes. Furthermore, assessing the impact of sequence variants on smoking-related diseases is important to public health9, 10. Smoking is the major risk factor for lung cancer (LC)11, 12, 13, 14 and is one of the main risk factors for peripheral arterial disease (PAD)15, 16, 17. Here we identify a common variant in the nicotinic acetylcholine receptor gene cluster on chromosome 15q24 with an effect on smoking quantity, ND and the risk of two smoking-related diseases in populations of European descent. The variant has an effect on the number of cigarettes smoked per day in our sample of smokers. The same variant was associated with ND in a previous genome-wide association study that used low-quantity smokers as controls18, 19, and with a similar approach we observe a highly significant association with ND. A comparison of cases of LC and PAD with population controls each showed that the variant confers risk of LC and PAD. The findings provide a case study of a gene–environment interaction20, highlighting the role of nicotine addiction in the pathology of other serious diseases.

A susceptibility locus for lung cancer maps to nicotinic acetylcholine receptor subunit genes on 15q25

Nature 452, 633-637 (3 April 2008) Hung et al.
Lung cancer is the most common cause of cancer death worldwide, with over one million cases annually1. To identify genetic factors that modify disease risk, we conducted a genome-wide association study by analysing 317,139 single-nucleotide polymorphisms in 1,989 lung cancer cases and 2,625 controls from six central European countries. We identified a locus in chromosome region 15q25 that was strongly associated with lung cancer (P = 9 times 10-10). This locus was replicated in five separate lung cancer studies comprising an additional 2,513 lung cancer cases and 4,752 controls (P = 5 times 10-20 overall), and it was found to account for 14% (attributable risk) of lung cancer cases. Statistically similar risks were observed irrespective of smoking status or propensity to smoke tobacco. The association region contains several genes, including three that encode nicotinic acetylcholine receptor subunits (CHRNA5, CHRNA3 and CHRNB4). Such subunits are expressed in neurons and other tissues, in particular alveolar epithelial cells, pulmonary neuroendocrine cells and lung cancer cell lines2, 3, and they bind to N'-nitrosonornicotine and potential lung carcinogens4. A non-synonymous variant of CHRNA5 that induces an amino acid substitution (D398N) at a highly conserved site in the second intracellular loop of the protein is among the markers with the strongest disease associations. Our results provide compelling evidence of a locus at 15q25 predisposing to lung cancer, and reinforce interest in nicotinic acetylcholine receptors as potential disease candidates and chemopreventative targets5.


Com Associated Press e "The Independent"

quarta-feira, 2 de abril de 2008

Médicos em falta

FSP
A TENTATIVA do governo fluminense de importar pediatras de outros Estados para atender às crianças contaminadas pelo vírus da dengue dá bem a medida da desorganização da medicina pública no país. Faltam pediatras não porque o Rio de Janeiro não os produza, mas porque não consegue motivá-los a trabalhar na rede oficial. Concursos são realizados, mas as vagas não são preenchidas. Essa tem sido uma constante no país.
A principal causa para o fenômeno são os baixos salários oferecidos por Estados e municípios, que, de forma paradoxal, não implicam necessariamente economia de recursos públicos.
Em alguns Estados, para escapar aos baixos salários, médicos se organizaram em cooperativas que prestam serviços à rede oficial. Como em muitas dessas regiões quase todos os especialistas se ligaram às cooperativas, elas adquiriram enorme poder de negociação. Os salários dos médicos melhoraram, mas não a qualidade do serviço.
Ao menos 20% dos 350 mil médicos brasileiros já estão cooperativados. Em Estados como Paraíba, Pernambuco, Ceará, Rio Grande do Norte e Espírito Santo, o poder público já não consegue prestar atendimento médico sem servir-se dessas entidades.
Em locais como São Paulo, onde as cooperativas não avançaram tanto, há problemas semelhantes. Como os médicos ganham mal, precisam acumular três ou quatro empregos para assegurar padrão de vida de classe média. Ocorre que, freqüentemente, o patrão é o mesmo: o poder público. Se o profissional recebesse mais, poderia dedicar-se a uma única unidade de saúde, tornando-se mais presente e propiciando ganhos de qualidade para o sistema.
Para reestruturar o setor é preciso, antes de mais nada, definir uma política salarial coerente para os profissionais de saúde. A proposta do governo federal de criar fundações estatais de direito privado para administrar os serviços é um bom começo. Daria liberdade aos gestores, permitindo-lhes pagar mais aos médicos e cobrar-lhes mais, além de demitir aqueles cujo desempenho é inadequado.

Enviado por: Vladimir
Editorial da Folha de hoje,intitulado Médicos esquecidos é uma demonstração cabal da falta de coerência deste informativo.
Agora,ela diz que o salário dos médicos é ruim,com o que,acho,todos concordamos,assim como o dos policiais,professores etc,etc.
Quem nunca concordou com isso foi a Folha,ou será que ela se esquece do número infinito de editoriais que publicou querendo diminuir gastos públicos?
O serviço público brasileiro paga,de uma forma geral,muito pouco a seus servidores. Uma minoria,com os quais nunca se mexe,recebem salários estratosféricos,muitas vezes garantidos por força de decisões judiciais.
A Folha aproveitaria melhor o seu espaço se fizesse uma discussão mais séria sobre isso e não somente para fazer demagogia em momentos de crise de determinadas funções.

Respondido por: Luis Nassif
É curioso esse jogo das afirmações seletivas.

Trivial da dupla do 1o de Abril

Neste mês completa 25 anos um dos clássicos da "barriga" jornalística no país: o caso do "boimate", a cruza de boi com tomate, desenvolvida na Universidade de Hamburger pelo Dr. McDonalds. O autor foi Eurípedes Alcântara, atual diretor de redação da Veja.

Clique aqui para um bom resumo:

O caso boimate. Uma árvore que dá filé ao molho de tomate. E alguém acreditou nisso, por Wilson da Costa Bueno*

Uma competição sobre a maior "barriga" do jornalismo contemporâneo, certamente incluiria o boimate, mas não deixaria de fora as extraordinárias proezas do filósofo Jean-Baptista Botul. Editor responsável pelo feito: Mário Sabino, atualmente diretor adjunto da Veja.

Frédéric Pagès é um jornalista francês, tremendo gozador. Em 1995 ele criou um heterônimo, o filósofo Frances Jean-Baptista Botul (de botulismo).

Botul teve uma vida extraordinária. Conheceu Baden-Powell, namorou a princesa Marie Bonaparte, patrocinadora de Freud na França. Manteve correspondência amorosa com Lou-Andréas Salomé, quando ela tinha 60 anos. Conheceu Zapata e Pancho Villa. E escreveu sua obra prima: “A Vida Sexual de Immanuel Kant”.

A história se passa no Paraguai, em 1946, em Nueva Königsberg, vilarejo também obscuro onde ‘alemães se vestiam com Kant, comiam, dormiam como ele, e faziam a cada tarde o mesmo passeio lendário num cenário reconstituído que evocava as ruas de Königsberg’? Era um vilarejo condenado ao desaparecimento, porque, para seguir o mestre – que morreu virgem – todos os cidadãos eram virgens.

A UNESP lançou o livro. No release enviado à Veja, esqueceu de informar o óbvio: que o Botul era uma gozação.

O livro mereceu uma resenha à altura da revista Veja (clique aqui):

E uma gozação à altura do jornalista Paulo Roberto Pires no No (clique aqui).

Pires ligou para o autor Pagès em Paris:

‘Estes textos do Botul foram descobertos agora’, despista Pagès, às gargalhadas, falando por telefone de sua casa em Paris”.

A resenha foi fichinha. O clássico estava por vir: a correção. Revelada a barriga pelo No, a edição seguinte saiu com a seguinte explicação na seção de Cartas (clique aqui), da lavra de Mario Sabino.

Na resenha "Desrazão pura" (9 de maio), VEJA comentou o livro A Vida Sexual de Immanuel Kant (Editora Unesp) e atribuiu sua autoria ao intelectual francês Jean-Baptiste Botul. Essa informação, contudo, não procede, pois Jean-Baptiste Botul nunca existiu. (...) Excetuada a confusão em torno de Botul-Pagès, A Vida Sexual de Immanuel Kant traz, de fato, inúmeras informações verídicas e divertidas a respeito da vida do filósofo. O trabalho foi avaliado pela revista como "curioso" e "impagável". VEJA não entrou no mérito das interpretações de Botul-Pagès. Os dados e as anedotas citados na resenha podem ser conferidos em obras do próprio Kant, como Metafísica dos Costumes e Reflexões sobre a Educação, em sua correspondência, em biografias como Kant Intime, que reúne reminiscências de três contemporâneos do pensador, e ainda no texto Os Últimos Dias de Immanuel Kant, clássico do escritor inglês Thomas De Quincey. A leitura de tais obras, feita diligentemente pelo resenhista de VEJA, teria poupado a imprensa amadora brasileira dos comentários tolinhos que andou publicando a respeito.

E pau na "imprensa amadora". O atrevido do Paulo entrou para a lista negra da revista.

Que tal aproveitar 1o de abril para recordar causos criativos?


enviada por Luis Nassif

segunda-feira, 31 de março de 2008

O jornalismo de Veja

Luis Nassif

Um exemplo sobre como é o jornalismo de Veja. Estamos aqui discutindo hipóteses, fatos, dados.

A resposta de Veja foi escalar seu blogueiro para novos ataques baixos. Escreve que pratico ou pratiquei "achaques" - como escreveu, durante meses, que eu tinha sido demitido da Folha por ter recebido propinas. Meses e meses, até que Otávio Frias Filho veio a público desmentir a injúria. E o que aconteceu com meses de injúrias? Nada. Agora trocam para "achaques". Nenhum detalhe, nenhum dado. Apenas a acusação de que pratiquei "achaques", com a facilidade e a ligeireza dos doentiamente amorais.

Esse é o padrão de jornalismo digital da Veja, que a Abril não tratou de moderar até hoje. A Editora continua sem rumo, sem controle sobre sua principal publicação, permitindo que as páginas do seu portal sejam invadidas por um padrão que não se encontra nem em regiões de baixo meretrício.

Com a Internet, a Abril se expõe perante o mundo. Qualquer cidadão, de qualquer parte, que quiser analisar a Veja, terá à sua disposição arquivos do mais fétido jornalismo. Não é minha imagem nem de outras vítimas de ataques que serão afetadas. A não ser um grupo de leitores de baixo nível, esses ataques jamais foram levados a sério por qualquer fonte relevante, por qualquer pessoa com um mínimo de raciocínio.

A vítima é a imagem da própria Abril.

Continuo torcendo para que a Editora acorde e recupere os padrões que, em algum ponto distante da história, a tornaram um referencial de qualidade no país.

Para entender melhor esse jogo, leia o capítulo "A Cara da Veja"

Enviado por: Colin

Eu gostaria de ver um analise técnico do último capítulo na saga sem fim de "dossiês" feitos para "chantagear."

É fascinante ver a revista continuar na mesma linha, como se fosse um tubarão com um único comportamento programado no seu cérebro primitivo: continua nadando com a boca aberta, ou morra.

Para mim, esse último "escándolo" foi mais um locus classicus de (1) o uso de fontes anónimas sem a devida justificativa e (2) a divulgação de informações parciais (uma entradas de tal base de dados) sem contexto (do qual informações sobre a fonte formam parte, claro.

Quando você fica acusado de dar espaço a dossiês espúrios, denuncia que seus adversários façam a mesma coisa. Isso também forma parte do "estilo neocon."

Me lembro das acusações deles contra o senhor de ter recebido jabá. Foi importante criar a impressão que o senhor não tinha "moral" de julgar o comportamento deles. "Ladrão chamando ladrão de ladrão." Como Gaspari disse uma vez, "O folclore da corrupção é um bom negócio -- para os corruptos."

Mais o que eu mais respeito nesse projeto seu é a aula que anda dando a focada sobre os fundamentais do jornalismo. A Veja fala muito de moral e ética, mais a revista fica ilegível mais por causa do fator epistemológico do que qualquer outro. Nos convida a acreditarmos em OVNIs sem oferecer a devida entrevista com ET.

Coragem, então, Nassif. Siga escrevendo. Vai dar um belo livro.

Por weden

Uma coisa é importante ressaltar: a banda pobre da redação (justamente porque nem todo profissional ali faz o jogo sujo) está no limite do suportável.

Eles não agüentam mais esta série. Conseguem fingir que não estão incomodados. Contraditoriamente, tentam processá-lo.

O efeito multiplicador da rede deixa-os descofiados de que alguma coisa ruim está por vir.

Sabem que uma revista não vive só de faturamento. O início da rejeição de grupos de leitores mais críticos já é uma realidade.

Mas há algo pior acontecendo: a banda podre da Veja se escondia por trás da marca Veja.

Usaram e abusaram dela porque tinha prestígio. Não desistiram de iniciativas anti-jornalísticas porque o dano no máximo recairia sobre a própria marca, forte no mercado. Usaram o veículo como escudo.

Só que agora suas reportagens começam a deslindar uma rede de profissionais que solapam o capital simbólico da rede, como gerentes de luvas negras na calada da noite.

Antes só se discutia o jornalismo da Veja. Agora se dá nome aos bois. Os nomes estão nas ruas.

O pior para eles não é que a Veja não tenha 1 milhão de leitores. Não se perde 1 milhão de leitores da noite para o dia. E não acredito que qualquer cidadão brasileiro deseje isso.

O pior para eles é simplesmente que a Veja seja "apenas" uma segunda posicionada no mercado.

O medo deles é que passem à História como os responsáveis diretos pela perda da liderança.

Antes não era problema deles. Agora é única e exclusivamente deles.