sábado, 17 de maio de 2008

Os órfãos da hepatite

Sei que é cruel essa história de comparar verbas para dois tipos diferentes de doenças crônicas. Parece aquelas escolhas entre qual filho pode sobreviver, qual não. Mas a diferença de tratamento entre o atendimento à AIDs e à hepatite tipo B (mais mortal) é gritante.

Aliás, a diferença entre os juros pagos pelo BC e as verbas de saúde é gritante.

Recebi esse e-mail do “Grupo Otimismo de Apoio ao Portador de Hepatite”.

ORÇAMENTO TOTAL PARA 2008 DE R$. 295.428.000,00
Considerando que existem no Brasil entre 5 e 6 milhões de brasileiros infectados com as hepatites B e C, o valor previsto no orçamento para todo o ano de 2008 representa R$. 57,00 por infectado.

Comparando com a AIDS, que reserva R$. 3.800,00 para cada infectado, um doente de hepatite vale para o Ministério da Saúde 1,5% daquilo que vale um infectado pelo HIV/AIDS.

A omissão do ministério da saúde resulta em injusta desigualdade já que 1 de cada 3 infectados com HIV/AIDS recebe tratamento. Na hepatite C somente 1 de cada 350 infectados recebe tratamento e na hepatite B somente 1 de cada 1.000 infectados se encontra em tratamento.

A censura pode ser confirmada na página do Programa DST/AIDS. A mais disseminada DST na população, a hepatite B, com dois milhões de infectados e possibilidade de transmissão entre 20 e 100 vezes mais fácil que a AIDS é omitida (censurada) pelo programa nacional que cuida das doenças sexualmente transmissíveis. 14 DST estão relacionadas e explicadas. A hepatite B sequer e citada.

Luis Nassif

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Passo firme rumo à educação de qualidade

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO

O novo índice de qualidade oferece um diagnóstico de cada escola e permite que a evolução dos alunos seja acompanhada

SÃO PAULO está dando mais um importante passo em relação ao acesso de crianças e jovens à escola, o governo do Estado passou a buscar incessantemente a melhoria de qualidade e uma maior eqüidade do sistema.
Nova proposta curricular, programa especial de alfabetização, reformulação do sistema de avaliação, recuperação intensiva, diversificação curricular do ensino médio, materiais de apoio a professores e alunos, inovações tecnológicas, valorização dos professores, melhoria da infra-estrutura das escolas, seleção de 12 mil coordenadores pedagógicos, enfim, um conjunto de ações foi desencadeado para melhorar a aprendizagem.
Agora um novo passo é dado. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo lançou ontem o Programa de Qualidade da Escola, com o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo, o Idesp, definindo metas a serem alcançadas, ano a ano, pelas escolas da rede.
O Idesp chega para ser um indicador de qualidade e promover a eqüidade educacional das escolas, abrangendo os 5 milhões de alunos da rede estadual, nas 645 cidades paulistas.
Mostra a situação atual de 5.183 escolas, de acordo com cada ciclo, nas séries iniciais (1ª a 4ª) e finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental e no ensino médio. Considera dois quesitos: desempenho e fluxo escolar. Com variação de 0 a 10, permite a comparação a longo prazo. Especificamente, visa garantir que todos os alunos dominem de maneira satisfatória competências e habilidades para a série escolar que se encontram e concluam os ensinos fundamental e médio no tempo adequado.
O novo índice de qualidade oferece um diagnóstico de cada escola, a partir de hoje, e permite que professores, gestores escolares, pais e mães de alunos e comunidade acompanhem a evolução dos alunos.
Criar um indicador sintético que dialogue com a diversidade das escolas da rede estadual só foi possível devido à adoção de um padrão comparativo que levou em conta o cruzamento das taxas líquidas de aprovação em cada ciclo com os níveis de aprendizagem dos alunos medidos pelo Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), uma prova de língua portuguesa e matemática para estudantes da rede que cursam, entre outras, as séries finais dos ciclos. O Idesp estabelece metas por disciplina e por ciclo. Isso por que a situação dos estudantes da rede estadual paulista não é homogênea, conforme demonstrou o Saresp 2007. Além disso, em uma mesma disciplina a porcentagem de alunos proficientes se reduz em níveis mais elevados ao longo do processo educacional, tendência também observada em todo o país.
Com base no Idesp, será possível a cada escola aprimorar seu projeto pedagógico, considerar que alunos diferentes precisam de apoio e/ou desafios diferentes, reconhecer e valorizar cada vez mais a importância do trabalho dos professores.
Queremos que as nossas escolas cheguem ao nível indicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um elevado padrão de qualidade.
O trabalho é árduo e longo, exige continuidade de ações e compromisso com políticas de longo tempo. Em educação não há trabalho fácil e com resultados em curto prazo.
Falamos em melhorias em pouco mais de duas décadas. Prazo curto diante do trabalho e do esforço a serem realizados para que um percentual tão alto possa ser atingido em uma rede tão grande e complexa.
Daí a preocupação do governo do Estado em envolver todos os atores do processo educacional, pais, educadores e gestores públicos, em esforço que certamente é válido, sobretudo diante do salto de qualidade que há muito São Paulo faz por merecer.
Por meio de um boletim, levamos a todas escolas sua posição no Idesp e, sobretudo, a meta a ser atingida no intervalo 2008-2009 e uma projeção a cada ano, em, por exemplo, 2015, 2022, 2026...
A secretaria coloca à disposição em seu site (www.educacao.sp.gov.br) a consulta aos indicadores e às metas, por escola. Desejamos que nasça um diálogo acerca da responsabilidade compartilhada entre educador e família em torno da importância da educação, que, da cobrança por uma escola melhor, surja a melhoria da qualidade e da eqüidade da educação.


MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, 61, professora da Unicamp (licenciada), é secretária da Educação do Estado de São Paulo. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (2002) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) entre 1995 e 2002.

Comentário de Andre Araujo

Parece a cereja em cima do bolo mofado. Há coisas bem mais elementares a fazer antes de sofisticar a estrutura. Dada a base salarial ridicula dos professores paulistas, com a carência material das escolas, estamos pulando etapas. Todo o incentivo do mundo não fará um professor mal aparelhado cultural e materialmente a fazer um aluno desmotivado aprender.
Essa linha de exames, testes, avaliações e agora incentivos vem de uma visão economicista da educação, como se esta fosse um problema quantitativo mensuravel. Essa linha é marca registrada das gestões Paulo Renato, um economista, e Maria Helena no MEC
Conceitualmente, a corrente que entende que a educação tem um objetivo muito mais amplo do que preparar população para o mercado de trabalho, torce o nariz para essa formula reducionista. Parece pagamento por produção, sistema da industria. Não se usa geralmente no mundo onde a educação é um sistema de valores e cultura.
Parece um atalho, dada a imensidão dos problemas fundamentais da educação publica brasileira, hoje um dos piores sistemas do mundo pela ineficiência e inadequação de resultados. Problemas que estão na fraca formação dos professores, nos salários aviltantes, no pouco prestigio da classe, outrora, aqui mesmo no Brasil, gozando de boa posição social e razoáveis vencimentos, as famosas normalistas, que fomaram a geração que hoje toca o Brasil. Hoje a carreira deslizou para o limbo social e economico e ai está a raiz do problema, não adiantam quebra-galhos.

Comentário

Alguns leitores consideraram o plano insuficiente. E dá bom tema discutir desdobramentos. Mas não dá para criticar a implantação de indicadores. Nos últimos anos a educação em São Paulo foi esfarelada, virou pó. E Secretários da Educação foram incensados, pela capacidade de montar planos que eram puro marketing.

Pergunto: se houvesse indicadores de acompanhamento, essa degradação teria ocorrido?

quinta-feira, 15 de maio de 2008

Os vermes que se cuidem

Fernando Reinach* OESP

Desde que o homem deixou de ser caçado pelos leões nas estepes africanas, três grupos de seres vivos passaram a nos caçar na cidade e no campo: vírus, bactérias e parasitas. As cidades, a agricultura e a domesticação dos animais nos tornaram presas difíceis para os grandes carnívoros, mas facilitaram o ataque desses inimigos.

No século 19 e 20, o ser humano conseguiu contra-atacar. Desenvolvemos vacinas para combater vírus, antibióticos para matar bactérias e compostos químicos capazes de curar infecções por parasitas. Mas a guerra continua. Além de ainda existirem vírus para os quais não fomos capazes de desenvolver vacinas (HIV) e parasitas que ainda matam milhões (malária), surgiram bactérias resistentes à maioria dos antibióticos e parasitas resistentes às drogas. Na corrida armamentista, os cientistas tentam desenvolver drogas e os parasitas desenvolvem genes de resistência.

No caso dos vermes, tudo indicava que estávamos perdendo a guerra. Faz mais de 25 anos que nenhuma nova família de vermífugos é descoberta. Mas, este mês, parece que temos uma chance de virar o jogo. Um grupo de cientistas descobriu uma família de compostos capazes de matar vermes.

O trabalho, resultado da colaboração entre cientistas de um grande laboratório farmacêutico, empresas de biotecnologia, universidades européias e cientistas da Costa do Marfim, é um exemplo de como se desenvolve um novo medicamento.

Com base em um derivado de uma amino-acetonitrila (AAD) capaz de matar parasitas quando administrado em altas doses, os cientistas sintetizaram 600 diferentes derivados de AADs e testaram cada um em larvas de diversos parasitas. Selecionaram os dez compostos mais ativos.

Em seguida, testaram esses compostos em roedores, ovelhas e vacas infectadas com parasitas resistentes a todos os outros vermífugos e selecionaram os compostos que poderiam ser administrados por via oral e que permaneciam mais tempo no sangue.

Para finalizar, os cientistas usaram o verme C. elegans, cujo genoma já foi seqüenciado, para determinar o mecanismo de ação das AADs. Primeiro, obtiveram vermes mutantes resistentes à AADs e, analisando seu genoma, descobriram que a resistência tinha ocorrido quando o verme alterava um de seus receptores de acetilcolina. Isso demonstra que as AADs atuam sobre esses receptores, matando os vermes.

Uma comparação com o genoma humano demonstrou que nós não possuímos esse receptor, o que sugere que a droga provavelmente poderá ser usada para tratar seres humanos. Esse único uso do genoma do C. elegans provavelmente compensa todo custo e esforço do seqüenciamento.

Nos próximos anos, os derivados de AAD devem ser comercializados, primeiro como vermífugos para animais e depois para humanos. Parece que após 25 anos, ganhamos mais uma batalha, mas no dia que os AADs chegarem aos consumidores os vermes iniciarão a contra-ofensiva e inevitavelmente surgirão vermes resistentes aos AADs.

*Biólogo - fernando@reinach.com

Valorizando a saúde

RAUL CUTAIT

Nas últimas semanas ocorreram vários fatos que valorizaram a saúde no Brasil, aqui apresentados de forma cronológica


-FSP

NAS ÚLTIMAS semanas ocorreram vários fatos que valorizaram a saúde no Brasil, aqui apresentados de forma cronológica. O primeiro é o novo plano de cargos e carreiras para profissionais de saúde criado pelo prefeito Gilberto Kassab para São Paulo, pelo qual não só são majorados os salários dos profissionais de saúde (embora aquém do desejado) como, com ineditismo na saúde de nossa cidade, se oferecem bonificações por produtividade para todos aqueles que trabalham no setor.
Colocar produtividade na fórmula salarial é, sem dúvida, uma grande notícia, uma vez que os indicadores de produtividade terão que ser definidos e aplicados e, para tanto, haverá a necessidade de criar um sistema contínuo de avaliação das ações de saúde e de seus custos. O resultado será uma maior transparência das ações no setor, o que facilitará o processo decisório dos governantes e o controle da sociedade como um todo.
Vale aqui uma reflexão sobre a equação qualidade de atendimento/ custos, que é o mais importante indicador a ser referendado e que passa pela implantação, no setor público, de condutas médicas padronizadas atreladas a processos administrativos que avaliam o real custo de cada procedimento. Um bom caminho para isso é definir as chefias médicas por méritos individuais e alinhamento com essa proposta, e não pela relação pessoal ou partidária com os administradores das diversas instituições.
O segundo fato foi o Senado Federal ter dado andamento à regulamentação da emenda 29, que vincula recursos federais, estaduais e municipais à saúde, procurando ainda definir o que realmente corresponde a gastos em saúde, corrigindo distorções constantemente observadas em passado recente. Essa emenda, adormecida há muitos anos, permitirá um fundamental aporte de recursos financeiros para a saúde pública e, complementarmente, estimulará todos os níveis de governo a assumir seu real papel dentro do sistema público de saúde no que diz respeito tanto ao financiamento quanto à gestão.
Como muitos, gostaria que a Câmara dos Deputados se posicionasse com rapidez e competência, a fim de não mais postergar a ampliação do financiamento da saúde.
O terceiro fato foi o ministro Fernando Haddad ter colocado 17 cursos de medicina sob supervisão. Existe um excessivo número de faculdades de medicina no Brasil (mais de 170, superado no mundo apenas pela Índia, com 220), muitas delas sem hospital-escola e programas de residência e que colocam no mercado médicos cujo maior erro foi acreditar que suas escolas os estariam preparando para exercer a medicina.
Os grandes prejudicados? Sem dúvida, não apenas os jovens médicos que, ao entrar no mercado de trabalho, sentem-se frustrados por sua falta de preparo, mas em especial os pacientes que serão orientados por profissionais com competência limitada ou duvidosa.
Há muitos anos, as entidades médicas clamam por uma política federal que não só impeça a abertura indiscriminada de novas escolas de medicina mas também crie critérios para mantê-las funcionando. O passo inicial foi dado, ainda tímido, mas sinalizando o reconhecimento do governo de que as coisas precisam mudar, pois já passou da hora de depurar o sistema educacional médico em benefício de nossa própria população.
Um quarto fato foi a criação do Instituto do Câncer de São Paulo Octavio Frias de Oliveira, ligado à Faculdade de Medicina da USP, por iniciativa do governador José Serra. O câncer é a segunda causa de morte por doença no Brasil e no mundo ocidental e gera sofrimento e altos custos para seu atendimento. Assim, a associação governo-universidade sinaliza a importância que o câncer deve ter em um sistema de saúde moderno, com estímulo ao ensino e à pesquisa.
Saúde é coisa séria. Como requisito indispensável para a vida e para a dignidade do indivíduo, deve ser prioridade para aqueles que zelam pelo bem de nossa sociedade. Por isso, como cidadão e médico envolvido com os problemas de saúde do país, alegro-me, e muito, com essas últimas semanas.


RAUL CUTAIT, 58, cirurgião gastrenterologista, é professor associado do Departamento de Cirurgia da Faculdade de Medicina da USP, membro da Academia Nacional de Medicina e presidente do Instituto para o Desenvolvimento da Saúde. Foi secretário da Saúde do município de São Paulo (gestão Paulo Maluf).

quarta-feira, 14 de maio de 2008

25 years of HIV

Anthony S. Fauci1

  1. Anthony S. Fauci is director of the National Institute of Allergy and Infectious Diseases (NIAID) at the US National Institutes of Health in Bethesda, Maryland, and chief of the NIAID Laboratory of Immunoregulation.

Reflecting on how far we have come scientifically since isolating HIV in 1983, Anthony S. Fauci urges a renewed commitment to the far greater challenges ahead, especially that of vaccine development.

Nature 453, 289-290 (15 May 2008) | doi:10.1038/453289a; Published online 14 May 2008

25 years of HIV

BARRÉ-SINOUSSI, F. ET AL. SCIENCE 220, 868–871 (1983)

The HIV/AIDS catastrophe has been one of the defining features of the past quarter of a century. Although it is short-lived in the scheme of public-health crises, the pandemic ranks among the most devastating microbial scourges in human history, one whose full impact has yet to be realized.

Sixty million people have been infected with the human immunodeficiency virus (HIV); nearly half have died, and the toll on families, communities and even entire nations has been profound. Meanwhile, the biomedical research effort directed at HIV/AIDS has resulted in some breathtaking successes. Unlike many other diseases that affect mostly the poor, marginalized and disenfranchised, HIV/AIDS captured the attention of world leaders, the medical, public-health and activist communities, funding agencies, philanthropists and many celebrities. This resulted in an unprecedented scientific and public-health response to the disease, and in welcome attention to some of the many other problems endemic in those populations most severely afflicted with HIV/AIDS, such as malaria, tuberculosis and gender inequality.

Much remains to be accomplished in the global fight against HIV. There are many more scientific and medical hurdles to be cleared and numerous logistical and operational obstacles to making therapies and other interventions available to poor countries, where per capita income is sometimes only a few hundred dollars a year and health-care spending a tiny fraction of that. Reflecting on the era of HIV/AIDS, we must learn from our mis-steps, build on our successes in treatment and prevention, and renew our commitment to developing the truly transforming tools that will one day put this scourge behind us.

HIV/AIDS is predominantly a disease of the developing world, where access to scientific advances and therapies is difficult.

Baffling beginnings

People living through historic events often fail to recognize the significance of what they experience. Such was the case for me, and many of my colleagues, in the first months of the AIDS pandemic. Only in retrospect can we identify its different stages. The first began in June 1981, when physicians in New York and California reported unusual clusters of rare diseases in previously healthy gay men, notably Pneumocystis carinii pneumonia and a form of cancer called Kaposi's sarcoma. When we in the medical profession read those initial cases 27 years ago — and treated some of the early AIDS patients — our prevailing emotion was bewilderment.

I had seen other 'mystery' diseases in my career, such as the legionnaires' disease outbreak of 1976. But AIDS was from the beginning much more insidious and enigmatic. As cases began to appear among distinctly different social groups in 1981–82, and as we began to understand better the profound and complex immunodeficiency of our patients, it became clear that we were witnessing the unfolding of something truly novel and frightening. The severity of AIDS and the signs that it apparently could be spread by a ubiquitous human activity — sex — suggested that we were in for a difficult time.

The scientific community marshalled its resources and talent to fight AIDS; investigators from different disciplines began working on this new disease. Within months of the recognition of the first cases in the summer of 1981, I shifted the direction of my laboratory from the study of inflammatory diseases to this curious new syndrome. My research has been closely intertwined with HIV and AIDS ever since. For nearly two years, the cause of AIDS remained elusive; the scientific community was largely baffled, lacking good leads for developing therapies or even a diagnostic test. Those of us caring for patients with AIDS had few tools at our disposal. The only treatments we could provide were largely palliative and the lifespan of most of our patients was measured in months. Those years were the darkest of my professional career.

Glimmer of hope

Twenty-five years ago this month came a glimmer of hope. In 1983, Luc Montagnier's research team in Paris published in Science the first paper (pictured) providing evidence linking a retrovirus to AIDS. The following year, further data from Robert Gallo's group in the United States provided convincing evidence that this retrovirus (later named HIV) was the cause of AIDS. That these two outstanding scientists became embroiled in a controversy — largely played out in the media — about who discovered HIV was an unfortunate distraction. As they would later write in The New England Journal of Medicine: "Many lessons can be drawn from this early intense period, and most suggest that science requires greater modesty." A quarter of a century on, the importance of collaboration, collegiality and, yes, modesty, are ever more apparent, as it becomes clear that no single research group or discipline will solve the puzzles of HIV/AIDS.

25 years of HIV

AP

Agent identified: early images captured by Robert Gallo (top) and Luc Montagnier of the retrovirus later named HIV.

After the discovery of HIV, research moved at a breathtaking pace. A blood test to diagnose patients and to screen the blood supply quickly followed, as did enormous progress in understanding the genetics and structure of HIV and its disease-causing mechanisms. The rapid clinical testing and licensing in 1987 of the first effective drug against HIV, zidovudine (AZT), caused great excitement. In retrospect this was unfounded, as the molecular characteristics of HIV, notably its propensity to replicate and mutate rapidly, made any single drug unlikely to hold the virus in check. Previous experience with antimicrobials for other diseases and the inevitable emergence of drug-resistant pathogens should have made us more cautious about the prospects for AZT monotherapy.

HIV quickly developed resistance to AZT and the benefits of the drug rapidly waned. Initial optimism about therapy gave way to sobering reality as the AIDS pandemic continued to grow in the United States and elsewhere. Clinicians remained hobbled by a lack of effective anti-HIV drug regimes, and many more patients were lost to AIDS.

Gradually, the fruits of cutting-edge drug development began to appear. In late 1995, the first of a new class of antiretroviral drugs — protease inhibitors — reached the market. Other new drugs that attacked the virus in different ways followed, and we soon had a greater number of effective drugs for HIV than for all other viral diseases combined. The new therapies used in combination with older medicines rapidly improved the prognosis for vast numbers of HIV-infected patients. The AIDS death rate in the United States fell by more than two-thirds within two years of the licensing of the first protease inhibitor. Despite certain limitations of the new treatments, notably toxicity and drug resistance, they launched a new era of optimism.

But HIV/AIDS is predominantly a disease of the developing world, where access to scientific advances and therapies is difficult. Fewer than one-third of the people who need antiretroviral therapy are currently receiving it, despite heroic efforts on the part of individuals and organizations, and some truly transforming and innovative programmes such as the Global Fund to Fight AIDS, Tuberculosis, and Malaria and the US President's Emergency Plan for AIDS Relief. Furthermore, it is clear that treatment alone will never end the AIDS pandemic. New infections far outstrip our ability to treat everyone infected with the virus: around three people are newly infected for every person put on therapy — and current HIV therapy is a life-long commitment.

The major goal of HIV/AIDS research eludes us: the development of a safe and effective HIV vaccine.

More mountains

To improve these formidable odds, we have two main options. The first is to cure patients, that is, to purge every vestige of virus from their bodies so that a course of treatment could be measured in weeks or months rather than a lifetime. Sadly, because of the ability of HIV to hide within cells from both drugs and the immune system, such a treatment regime has proved elusive, although important work in this area is being pursued.

This leaves us with the second option: preventing HIV infection in the first place. We have a proven array of HIV-prevention and harm-reduction strategies: behavioural modification; condom distribution; antiretroviral drug regimes to prevent HIV transmission from mother to baby; and the provision of clean needles and syringes to drug users. We must now do better at delivering prevention: less than 20% of those at risk of HIV infection are currently receiving such help.

Encouragingly, new means of preventing HIV are emerging. Large randomized and controlled clinical trials in Africa suggest that adult male circumcision, if properly and hygienically performed and accompanied by appropriate counselling and post-surgical care, can help prevent men becoming infected with HIV by heterosexual intercourse. Ongoing work to develop microbicidal gels or creams to be applied before sex offers the hope of empowering women to protect themselves from HIV infection when the use of condoms or the refusal of sexual intercourse is not feasible.

Yet the major goal of HIV/AIDS research eludes us: the development of a safe and effective HIV vaccine, our best hope for ultimately ending the pandemic. The search for a vaccine has been made extremely difficult by the nature of the virus, particularly its ability to integrate into the genome of host cells, to mutate readily and to conceal that part of its outer coat that would induce protective antibodies.

It is now clear that we were naive to think there would be a straight path from the discovery and characterization of HIV to the development of a vaccine. HIV has proved very different from those viruses for which we have developed effective immunizations. We must solve the mystery of how to prompt the human body to produce a protective immune response that is even better than the one elicited by natural infection. This will require a commitment to fundamental research to address the many questions that remain about HIV and its interactions with its human host. HIV/AIDS science, particularly that involving a vaccine, is in some ways still in its infancy. We must move forward by fostering creative thinking over many different disciplines.

In this regard, the pursuit of new research avenues by established scientists and especially by younger investigators is critical. In addition to the disciplines classically associated with HIV research — virology and immunology — we must encourage more 'cross-fertilization' with other fields such as genetics, structural biology, systems biology and peptide chemistry as we strive to generate the knowledge needed to develop an HIV vaccine.

Delivering HIV interventions for the people it most affects requires political will, a long-term supply of considerable financial resources, scientific and public-health vision, and dedication from all sectors of society. With these ingredients, the trajectory of our fight against the HIV/AIDS pandemic in the next quarter of a century could move from cautious optimism towards triumph. Absent any of these factors, and history will not judge us kindly.

Further Reading

Barré-Sinoussi, F. et al. Science 220, 868–871 1983).

Fauci, A. S. & Lane, H. C. in Harrison's Principles of Internal Medicine, 17th edition (eds Fauci, A. S. et al.) 1137–1204 (McGraw Hill, New York, 2008).

Fauci, A. S. Science 239, 617–622 (1988).

Gallo, R. C. & Montagnier, L. N. Engl. J. Med. 349, 2283–2285 (2003).

Joint United Nations Programme on HIV/AIDS (UNAIDS) AIDS Epidemic Update: December 2007 (UNAIDS, Geneva, 2007).

Levy, J. A. HIV and the Pathogenesis of AIDS (ASM Press, Washington DC, 2007).

terça-feira, 13 de maio de 2008

Em 12 anos, câncer de colo de útero pode dobrar na AL


OMS estima que, em 2030, 70 mil mulheres morrerão da doença na região

Emilio Sant’Anna OESP

O número de mortes causadas pelo câncer de colo de útero deve dobrar na América Latina nos próximos 12 anos. Hoje, a doença causa cerca de 33 mil óbitos todos os anos na região. Em 2030, serão 70 mil. Os dados são de um estudo da Organização Mundial da Saúde (OMS), apresentado ontem na Cidade do México.

A pesquisa aponta a prevenção, a detecção precoce e o uso da vacina contra o vírus do papiloma humano (HPV, causador da doença) como algumas das formas de impedir os óbitos precoces. De acordo com o Instituto do Câncer (Inca), neste ano a doença matará 18.680 mulheres no Brasil.

A análise da OMS foi realizada com a revisão de 15 anos de estudos feitos na Argentina, Barbados, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Cuba, Equador, Honduras, Jamaica, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela. A pesquisa estima que a prevalência do HPV entre as mulheres latino-americanas e caribenhas entre 15 e 24 anos varie entre 20% e 30%. Entre os homens, cerca de 20%.

Para Ciro de Quadros, vice-presidente do Instituto Albert Sabin e um dos autores do estudo, a vacinação dos adolescentes deve ser seriamente considerada pelos governos dos países da região. Quadros afirma que hoje o preço da vacina torna inviável sua adoção no calendário oficial desses países, mas recomenda que a negociação com os laboratórios não seja descartada.

O impacto da vacinação em seis países - Argentina, Peru, Chile, México, Brasil e Colômbia - também foi medido. Segundo a OMS, o procedimento poderia prevenir a morte de 500 mil garotas nesses países quando atingissem a idade adulta. Para isso, seria necessário que a vacinação atingisse 70% das meninas de 12 anos por dez anos consecutivos.

Os valores tornam a medida quase impossível. Para a prevenção do câncer de colo de útero, são preconizadas três doses da vacina. O custo desse procedimento hoje é de US$ 360. Caso a vacinação fosse adotada por apenas cinco anos nesses países, seriam gastos US$ 4,7 bilhões.

ACESSO

No Brasil, a aplicação de uma única dose da vacina (são preconizadas três), somente em meninas de 11 anos de idade, significaria 2,3 vezes o custo total do Programa Nacional de Imunização. “No México, por exemplo, seria preciso dobrar o orçamento da Saúde. Mas, quanto custam essas 33 mil mortes por ano?”, pergunta Quadros.

Para o diretor-geral do Inca, Luiz Antonio Santini, não há como nenhum país arcar com os custos da vacinação. “O governo brasileiro tem que negociar com os laboratórios e está fazendo isso. No entanto, esse é um problema mundial”, afirma.

A pesquisa da OMS, também analisa as diferenças de acesso aos tratamentos nos países. Das 86 mil mulheres que são diagnosticadas com a doença no continente americano, cerca de 72 mil vivem na América Latina.

O QUE É A DOENÇA

Incidência mundial: Cerca de 470 mil casos de câncer de útero são diagnosticados anualmente em todo o mundo, 33 mil apenas na América Latina e Caribe

Incidência no Brasil: Neste ano, mais de 18 mil casos devem ser diagnosticados no País. Os Estados do Amazonas, Tocantins, Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Rio de Janeiro, Paraná e Rio Grande do Sul têm as maiores incidências

Desenvolvimento: Em 70% dos casos, o câncer de colo de útero está associado à presença do papilomavírus humanos (HPV) e pode demorar anos para se desenvolver

Transmissão: A principal forma de transmissão do HPV - que pode dar origem ao tumor - são as relações sexuais

Sintomas: Podem variar desde a ausência de sintomas até quadros de sangramento vaginal após as relações sexuais e sangramentos contínuos

Prevenção: As principais formas são o uso de preservativos, exames periódicos (papanicolau) e o uso da vacina

Universidade pública se associa a shopping para ampliar câmpus


Federal de Pelotas receberá 15% do lucro de empreendimento coordenado uma das fundações que a apóiam

Elder Ogliari OESP

A Universidade Federal de Pelotas (UFPel), no Rio Grande do Sul, construirá a extensão de seu câmpus junto a um shopping center. Não se trata apenas de usar espaço do shopping, como já ocorre com algumas instituições particulares (mais informação nesta página). Por meio de uma fundação que apóia a universidade, a instituição federal receberá mensalmente parte dos lucros do empreendimento em troca da cessão de parte de um terreno para a construção das lojas.

A associação não foi contestada pelo Tribunal de Contas da União (TCU), onde o processo foi parar, e é bem vista na cidade de 340 mil habitantes, localizada 250 quilômetros ao sul da capital Porto Alegre. Mas deixou parte da comunidade universitária apreensiva, tanto por misturar educação com comércio quanto por nunca ter sido exposta claramente a docentes e alunos.

Conhecido como Shopping do Porto, o projeto foi lançado em março deste ano e prevê a recuperação de prédios abandonados do antigo Frigorífico Anglo e a construção de novos edifícios num terreno de 12 hectares à margem do Canal São Gonçalo, região degradada da cidade.

O complexo abrigará as instalações da reitoria da UFPel e de algumas unidades acadêmicas e, em espaços contíguos, 152 lojas, 6 salas de cinema, supermercado e parque de diversões. A inauguração está prevista para abril de 2009.

O projeto é comandado pela Fundação Simon Bolívar (FSB), uma das três fundações de direito privado que apóiam a universidade. A FSB arrematou o terreno em um leilão judicial por R$ 700 mil no final de 2005. Cedeu parte dele para a UFPel, que já começou a reformar e construir suas novas instalações. Em seguida, procurou parceiros para o empreendimento comercial.

A Construtora Arce, de Curitiba, entrou como sócia investidora-incorporadora. A VS Planejadora e Administradora de Shoppings, do Rio, será a administradora.

REPASSE DE LUCROS

O custo do projeto, R$ 70 milhões, será bancado pelos investidores privados e pelos lojistas. A FSB ficará com 15% do lucro do empreendimento, estimado em R$ 500 mil mensais, com o compromisso de repassá-lo à UFPel.

“A universidade ganhou o espaço e se beneficiará da manutenção, vigilância e acessos aos prédios, além da receita transferida pela fundação”, informa Plínio Conter, assessor da reitoria. O TCU não fez objeção à doação do terreno de uma fundação de direito privado a uma universidade pública.

O empreendimento é questionado por parte da comunidade acadêmica, tanto por ter sido decidido sem debates, quanto por misturar educação e comércio. “Não dá para dizer que há irregularidades, mas também não há transparência”, comenta o professor de Ciências Políticas e ex-presidente da Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições do Ensino Superior (Andes), Luiz Carlos Lucas.

O professor aposentado Sérgio Barum Cassal, presidente da Associação dos Docentes da UFPel (Adufpel), considera “estranha” a mistura da universidade com um centro comercial. “Talvez seja interessante para a iniciativa privada, mas do ponto de vista educacional, o movimento de um shopping center não parece compatível com um ambiente de estudos”, avalia Cassal.

O reitor da UFPel, Antônio Cesar Gonçalves Borges, e a diretora-presidente da FSB, Lisarb Crespo da Costa, não responderam aos contatos do Estado solicitando entrevistas.

O Ministério da Educação informou que não comentaria o assunto.

PERFIL

Criação: 12 de dezembro de 1960

Cursos: 59 (53 de graduação, 3 técnicos e 3 de formação de professores)

Alunos: 8 mil (ensino médio e superior)

Corpo docente: 800 professores

Câmpus: Capão do Leão (reitoria), Palma, Saúde, Ciências Sociais, unidades dispersas, Conjunto Agrotécnico Visconde da Graça

Surto faz USP vacinar alunos contra caxumba

Faculdade de economia e administração, na Cidade Universitária, registrou 12 casos

Cerca de mil alunos já receberam a vacina; segundo funcionários, também houve registros na ECA, mas faculdade não confirma

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Um surto de caxumba atinge alunos da FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) da USP, na Cidade Universitária, zona oeste de São Paulo. Ao menos 12 contraíram a doença, o que levou a faculdade a vacinar todos os estudantes.
Na semana passada, receberam a vacina alunos que ingressaram neste ano e em 2007 na faculdade. Hoje à noite, a vacinação será estendida aos demais alunos da FEA que ainda não são imunizados.
Até ontem, cerca de mil estudantes já tinham sido vacinados, segundo Valdir Borges dos Santos, chefe da seção de alunos. "Para não virar uma epidemia no campus, a faculdade entrou em contato com o posto de saúde do Butantã e eles vieram vacinar", diz ele.
A estudante Anna Olímpia, 21, do 4º ano, que foi vacinada na sexta-feira, diz que a adesão à vacinação tem sido grande. "Teve uma campanha forte da diretoria para todo mundo tomar a vacina. Saímos durante a aula, em grupos de 15 alunos."
A Folha apurou com alunos e funcionários da USP que também houve registros de caxumba na ECA (Escola de Comunicação e Artes), mas a diretoria da faculdade não confirmou a informação. Na ESPM (Escola Superior de Propaganda e Marketing) também houve casos no mês passado -e os alunos foram imunizados.
Segundo Ana Maria Bara Bresolin, médica da Vigilância Epidemiológica da Secretaria Municipal da Saúde, os casos de caxumba na USP estão dentro do esperado. "Tudo está sob controle. As medidas são apenas preventivas. Não há motivo para alarde."
Ao menos 2.000 doses de vacinas foram colocadas à disposição da USP, disse. Ela diz que, até abril, o município registrou 22 surtos, com 106 casos de caxumba. No mesmo período de 2007, houve o dobro de surtos e casos, segundo ela. Considera-se surto o registro de dois ou mais casos em um mesmo local (casa ou escola, por exemplo).

Complicações
A caxumba preocupa pela possibilidade de complicações. Em 20% dos homens adultos, ela pode resultar em orquite (quando a inflamação migra para os testículos). Em 15% das mulheres, a doença pode provocar mastite (inflamação das glândulas mamárias).
Bresolin diz que as temperaturas mais baixas propiciam a proliferação de doenças de transmissão respiratória, como a caxumba. Ela fica encubada por período de 12 a 18 dias e, embora o tempo de transmissão seja mais curto, pode acontecer antes do surgimento dos sintomas.

Novo projeto tenta proibir cobaia no Rio

Pela terceira vez, vereador lança proposta de lei para impedir o uso de animais em experimentos científicos na cidade

Claudio Cavalcanti defende testes para segurança de drogas em seres humanos; prefeito diz que só decide por veto após ver o texto


Alessandro Costa - 20.dez.1999/"O Dia"

O vereador Claudio Cavalcanti (DEM-RJ), autor da proposta

RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL

A Câmara Municipal do Rio de Janeiro terá de apreciar, pela terceira vez, um projeto de lei que pretende proibir o uso de animais em pesquisa científica. A proposta foi reapresentada no último dia 5 pelo vereador Claudio Cavalcanti -o mesmo autor das duas anteriores- e, segundo o regimento da casa, precisa entrar na pauta de votação até o mês de outubro.
A primeira tentativa de proibição, a partir de 2005, chegou a ser aprovada pela Câmara, mas foi vetada pelo prefeito César Maia. O segundo projeto também passou -após receber emendas que isentavam entidades de ensino da restrição-, mas está com o futuro incerto por causa de um erro no trâmite. A lei enviada a Maia, que a sancionou "por engano", era a versão sem as emendas.
"Voltei ao primeiro projeto porque ele foi vetado", disse Cavalcanti à Folha. Segundo o vereador, a insistência se justifica porque a proibição das cobaias tem apoio popular ("3 milhões de e-mails") e porque os vereadores se mostraram receptivos. "Outra vez, vamos acionar esse batalhão de pessoas e vamos tentar fazer com que essa lei entre em vigor."
Apesar de o terceiro projeto de lei do vereador ter exatamente o mesmo texto do primeiro, César Maia afirma que ainda é cedo para dizer se vai vetar a proposta novamente. "Só posso opinar conhecendo o texto e submetendo-o aos órgãos internos e externos que tratam da matéria", disse o prefeito. "Lembro que os outros dois tinham excessos."
Segundo o próprio vereador autor do projeto, sua proposta está baseada na crença de que testar de medicamentos em animais não tem valor científico. "Quando um medicamento é testado em animais, isso não quer dizer, absolutamente, que isso vá ajudar em um milímetro os seres humanos", afirma. "Animal é uma coisa, ser humano é outra coisa."
O consenso entre os cientistas, porém, é diferente. Para os pesquisadores ouvidos pela Folha, a proposta de Cavalcanti é nociva à saúde pública.
"Se experiências com animais fossem proibidas na nossa cidade, todos os esforços para descobrir vacinas para dengue, Aids, malária, leishmaniose etc. seriam jogados literalmente no lixo", diz Renato Balão Cordeiro, farmacólogo da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz). "Além disso, as vacinas já produzidas aqui não poderiam ser utilizadas. O controle de qualidade de medicamentos, cosméticos e vacinas virais e bacterianas executado na Fiocruz também é realizado em animais de experimentação."

"Literatura imensa"
Cavalcanti, porém, afirma que o único interesse dos cientistas na experimentação com animais é "o lucro". Ator de profissão, ele diz que seu projeto está baseado em informações técnicas. "No meu gabinete nós temos uma imensa literatura", diz. O autor mais citado pelo vereador em sua argumentação é Hans Ruesch, um piloto de corridas suíço que, depois de se aposentar, publicou vários livros contra o uso de animais em experimentos.
Cavalcanti também evoca o filósofo Peter Singer em sua defesa. Autor vastamente citado na área de ética, porém, Singer é favorável ao uso de cobaias em pesquisas que tragam benefícios relevantes a humanos.
Questionado sobre sua argumentação, o vereador lança uma acusação: "O Peter SingeAlinhar à esquerdar "deu uma meia-trava" porque deve ter sido de alguma forma, "aliciado". Ele é financiado pela Fundação Rockefeller [que fomenta educação e ciência nos EUA] e não pode ir totalmente contra [o uso de cobaias]."
Na Academia Brasileira de Ciências, Cordeiro articula agora uma reação ao projeto de lei de Cavalcanti. "O que causa perplexidade nele são equívocos, radicalismo irracional e total desconhecimento da importância do uso de animais", diz.

segunda-feira, 12 de maio de 2008

Brasil disputa liderança de entidade mundial de patente

País vem tentando influenciar setor, principalmente na área de remédios

Jamil Chade OESP

Depois de anos tentando influenciar políticas de patentes, principalmente as ligadas ao setor de medicamentos, o Brasil quer agora a direção da entidade internacional que cria regras para a área. A partir de amanhã, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) inicia sua eleição e o governo espera colocar o brasileiro José Graça Aranha na direção da entidade, sediada em Genebra.

A disputa não será fácil. No total, 15 candidatos disputam a vaga. Um dos problemas é que nem mesmo a América Latina está unida. A corrida conta com um hondurenho e um mexicano. O Itamaraty estima que Graça Aranha tem “boas chances” e a maioria dos votos da América do Sul, além de africanos e árabes.

O governo chegou a sondar o México sobre um acordo para que apenas uma candidatura latino-americana fosse apresentada. Mas os mexicanos se recusaram. Os demais candidatos vêm da Polônia, Bangladesh, Macedônia, Paquistão, Filipinas, Itália, Quênia, França, Eslovênia, Rússia e Japão. Mas um dos principais é o australiano Francis Gury, diretor-adjunto da OMPI e que tem o apoio dos países ricos.

Além de não ter o apoio de todo o continente latino-americano, o Brasil ainda não vem tendo bom desempenho em eleições para cargos na ONU desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil lançou candidatos para os postos na Organização Mundial do Comércio (OMC), União Internacional de Telecomunicações (UIT), Banco Interamericano de Desenvolvimento e Conselho Executivo da Organização Internacional do Trabalho. Foi derrotado em todas as eleições.

Desta vez, a expectativa é de reverter esse histórico. Para isso, Graça Aranha tenta até mesmo se descolar da posição brasileira no que se refere às patentes. O governo lidera há anos um movimento para transformar a noção de patentes e garantir que os países em desenvolvimento possam tirar vantagens da produção científica. Na avaliação do governo, a patente não pode ser apenas um monopólio da empresa sobre uma descoberta e seus impactos sociais precisam ser avaliados.

O governo garante que não é contra as patentes, mas gerou um novo debate duro com os Estados Unidos e Suíça ao quebrar as licenças de produção de remédios contra a aids. Já Graça Aranha se diz “moderado” e “construtor de consenso”.

De fato, se eleito, ele terá a difícil tarefa de equilibrar interesses dos países emergentes e a pressão de países da Europa, além de Estados Unidos e Japão. A OMPI administra tratados internacionais sobre patentes, presta serviços de assistência aos governos e promove harmonização das normas de propriedade intelectual.

Graça Aranha é o atual diretor do departamento de Registros Internacionais da OMPI e foi o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). O atual diretor, o sudanês Kamil Idris, está sendo acusado de mentir e de conduzir atividades fraudulentas.

Universidade paga não segue lei de professor exclusivo

Menos da metade das escolas privadas tem um terço dos docentes em regime integral

Norma existe para incentivar a pesquisa e melhorar o ensino; até hoje, MEC não puniu nenhuma escola fora da regra

ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO

FÁBIO TAKAHASHI
DA REPORTAGEM LOCAL

Só 37 das 86 universidades privadas (43%) cumprem a exigência legal de ter um terço dos docentes trabalhando em regime integral, aponta o Censo da Educação Superior 2006 (mais recente). O prazo para adequação acabou há quatro anos, mas o MEC ainda não descredenciou nenhuma instituição.
A exigência é da Lei de Diretrizes e Bases, de 1996. De acordo com o MEC, as universidades ainda serão reavaliadas. As que não cumprirem a norma podem perder o título de universidade -o que tira delas o direito de ampliar e abrir cursos sem prévia autorização.
O objetivo de ter professores em tempo integral é incentivar a pesquisa e oferecer melhores condições de ensino (com horário remunerado para preparação de aulas e correção de provas, por exemplo).
Nesse regime, a carga horária é de 40 horas semanais, mas somente metade em sala de aula. O professor com dedicação exclusiva custa à instituição mais caro do que um pago por hora, já que este último pode ficar 100% do tempo em sala.
Nas 90 universidades públicas no censo, apenas seis não cumprem a lei -quatro delas cobram mensalidades.
O Enade (exame de alunos do governo federal) sugere que a proporção de docentes com dedicação integral influencia na qualidade. Nas dez instituições com menor proporção, as médias de cada universidade (feitas a partir de todos cursos avaliados) variaram entre 2,5 e 3,3 (escala de 0 a 5). Nas com mais docentes em regime integral, a variação foi de 3,5 a 4,4.
"A presença do professor o tempo todo na universidade e o envolvimento dos estudantes em outras atividades fora da sala de aula fazem diferença na formação", afirma Oscar Hipólito, professor do Instituto de Física da USP (São Carlos) e pesquisador do Instituto Lobo.
Professor da pós-graduação em Educação da PUC-SP, Marcos Masetto afirma que os docentes sem dedicação integral têm dificuldades para se atualizarem e planejar seus cursos.

Legislação
O decreto de 1997 que regulamentou a lei fixou prazos intermediários com metas a serem atingidas e acompanhadas. Previa ainda que o descumprimento resultaria na reclassificação da universidade em centro universitário, instituição com menos autonomia para abrir cursos. Isto, no entanto, nunca foi colocado em prática.
O diretor de Regulação e Supervisão da Educação Superior do MEC, Dirceu Nascimento, afirma que, no momento, o ministério levanta os dados para o recredenciamento das escolas: "Todas serão reavaliadas. Existe a exigência de que a avaliação seja feita ao longo de dez anos. Será exigida a adequação à lei".
O presidente da Associação Brasileira de Universidades Comunitárias e do Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras, Gilberto Garcia, afirma que a lei deixa claro que é preciso ter ao menos um terço dos docentes em regime integral. Segundo ele, no entanto, as comissões do MEC que visitam as universidades, em geral, colocam o item apenas como mais um entre outros aspectos a compor a avaliação final.
O presidente do CNE (Conselho Nacional de Educação), Edson Nunes, diz que o artigo da lei é frágil por dar margem a várias interpretações. Para ele, houve descuido do governo, "que criou suas próprias universidades sem produção intelectual e credenciou instituições com base em precária verificação de pesquisa".
"Mas não adianta culpar o MEC. Uma lei ruim, que define universidade por operação aritmética, só produz regulação ruim", afirma Nunes.
No ano passado, a pedido do MEC, o CNE enviou parecer, ainda não homologado, sobre a aplicação da lei e com outras sugestões para o setor. A mais rígida era a exigência de mais de cinco programas de pós-graduação stricto sensu, sendo ao menos um de doutorado.
Em 2006, 62% das universidades não cumpririam esse critério. O percentual era de 79% entre privadas, 64% nas estaduais e 28% em federais.

Mutação fez tomate doméstico ficar grande, diz grupo americano

Variedade plantada hoje é centenas de vezes maior que a fruta selvagem

JULIE STEENHUYSEN
DA REUTERS

O segredo por trás da produção de tomates grandes não está no fertilizante ou em condições perfeitas de solo, mas em umas poucas mudanças genéticas que, com o tempo, resultaram em frutas centenas de vezes maiores que seus ancestrais selvagens. A conclusão é de cientistas americanos.
"O tomate-cereja pareceria muito grande comparado aos que são encontrados na natureza", disse Steven Tanksley, da Universidade Cornell. Ele tem tentado entender as mudanças genéticas que permitiram aos humanos transformar os tomates selvagens -que têm o tamanho de um mirtilo- em variedades de meio quilo ou mais.
"Os humanos começaram a domesticar plantas há 10 mil anos. Eles não tinham nenhum conhecimento de genética e de melhoramento, mas de alguma forma eles produziram essas mudanças genéticas nas plantas", afirmou. "A pergunta é: como e o que eles fizeram?"
Tanksley centralizou sua pesquisa nas mudanças genéticas que dão origem ao grande número de compartimentos, ou lóculos, do tomate doméstico. O tomate selvagem tem um ou dois lóculos apenas.
"Alguma coisa fez a planta começar a fazer esses compartimentos, e, com mais compartimentos, você pode criar uma fruta maior", disse o cientista, cujo estudo foi publicado na revista "Nature Genetics".
Para entender esse processo, ele mapeou os genes do tomate, em busca de diferenças entre as variedades doméstica e selvagem. Isso resultou em cerca de dez genes. A busca, então, foi refinada, e Tanksley e seus colegas chegaram então a uma mutação chamada "fas". O tomate selvagem não a possuía.
Quando os cientistas pegaram a versão "selvagem" (sem mutação) do gene e a inseriram em uma planta doméstica, ela começou a produzir tomates pequenos. Tanksley diz que a mutação enfraquece um sinal que diz à planta para parar de fazer lóculos.

Nature Genetics
Published online: 11 May 2008 | doi:10.1038/ng.144

Regulatory change in YABBY-like transcription factor led to evolution of extreme fruit size during tomato domestication

Bin Cong1,2, Luz S Barrero1,2,3 & Steven D Tanksley1,2

Top

Plant domestication represents an accelerated form of evolution, resulting in exaggerated changes in the tissues and organs of greatest interest to humans (for example, seeds, roots and tubers). One of the most extreme cases has been the evolution of tomato fruit. Cultivated tomato plants produce fruit as much as 1,000 times larger than those of their wild progenitors. Quantitative trait mapping studies have shown that a relatively small number of genes were involved in this dramatic transition, and these genes control two processes: cell cycle and organ number determination1. The key gene in the first process has been isolated and corresponds to fw2.2, a negative regulator of cell division2, 3. However, until now, nothing was known about the molecular basis of the second process. Here, we show that the second major step in the evolution of extreme fruit size was the result of a regulatory change of a YABBY-like transcription factor (fasciated) that controls carpel number during flower and/or fruit development.

Top
  1. Department of Plant Breeding and Genetics, Cornell University, Ithaca, New York 14853, USA.
  2. Department of Plant Biology, Cornell University, Ithaca, New York 14853, USA.
  3. Present address: Corporación Colombiana de Investigación Agropecuaria, Bogotá, Colombia.

A pesquisa em células-tronco

ÁLVARO MONTEIRO e MARCELO O. DANTAS


Alegar que certos avanços eliminam a necessidade de estudos com células-tronco embrionárias contraria o bom senso científico
FSP


CÉLULAS-TRONCO são células não especializadas com a capacidade de se renovarem, mediante a divisão celular, e de se tornarem, sob certas condições fisiológicas ou experimentais, células com funções especiais, tais como as células do músculo cardíaco ou do sistema nervoso. Entre as células-tronco, três grupos se distinguem: as células-tronco germinativas, que dão origem aos óvulos e espermatozóides; as células-tronco embrionárias (CTEs); e as células-tronco adultas (CTAs). A principal diferença entres esses grupos é a capacidade de diferenciação em células especializadas.
As células-tronco germinativas podem formar um organismo inteiro. Porém, à medida que o organismo se desenvolve, o leque de possibilidades de diferenciação se reduz.
As CTEs, objeto da controvérsia no STF, têm potencial ilimitado de proliferação e alta capacidade de diferenciação. Para chegar às CTEs, é preciso extraí-las do embrião em estágio inicial, que ainda não passa de um conjunto microscópico de células.
Já as CTAs são células não diferenciadas, que se encontram em pequenas quantidades em certos tecidos do corpo e são capazes de se diferenciar em células especializadas. O leque de possibilidades de diferenciação delas é extremamente reduzido, limitando-se em geral à manutenção e ao reparo dos tecidos em que são encontradas.
A pesquisa com células-tronco tem longa história, mas ganhou impulso a partir da década de 1980. Trata-se de esforço internacional, que tem por objetivo central esclarecer os processos normais da célula e entender seus estados patológicos. Há também interesses terapêuticos com implicações econômicas e de saúde pública.
Lesões da coluna vertebral, mal de Parkinson e doenças crônicas do coração são problemas que poderão, no futuro, ser tratados com ferramentas desenvolvidas a partir das investigações com células-tronco. Não se trata de uma panacéia. Mas é sem dúvida um capítulo importante da pesquisa biomédica.
Os estudos até aqui realizados utilizam tanto CTEs quanto CTAs. Dada a capacidade limitada das CTAs, vários grupos concentraram esforços na chamada "reprogramação" de células especializadas (derivadas de diferentes tecidos adultos) em células pluripotentes, similares às CTEs.
Em 2007, esses esforços culminaram na identificação de combinações de genes que, ao serem transferidos para as células e ativados, são capazes de transformar células de pele em células pluripotentes. A essa técnica chama-se pluripotência induzida.
A alegação de que os avanços nessa área eliminam a necessidade de estudos com CTEs contraria o bom senso científico. A natureza das células obtidas por pluripotência induzida é pouco conhecida e precisaremos de vários anos para chegar ao nível de conhecimento hoje existente sobre as CTEs. Além disso, diversos obstáculos terão de ser superados. Por exemplo, a ativação de um dos genes usados na indução está freqüentemente associada ao câncer em humanos e em modelos experimentais. Os vetores virais usados para a inserção desses genes nas células a serem reprogramadas também apresentam potencial tumorigênico.
Em contraste, a pesquisa com CTEs poderá chegar muito mais rapidamente às aplicações terapêuticas ou mesmo concluir que essas aplicações não serão possíveis.
O conhecimento científico caminha por múltiplas vertentes, que se relacionam e se complementam. Não pode haver avanço seguro na área da pluripotência induzida sem a comparação com as CTEs, células livres de modificações genéticas. De fato, as CTEs constituem o "padrão-ouro" com respeito ao qual todos os resultados são comparados. É também notório que os trabalhos em pluripotência induzida surgiram a partir da observação de que a fusão de CTEs com células de tecidos adultos levava à reprogramação. Possivelmente, sem a pesquisa em CTEs, a pluripotência induzida não teria sido descoberta.
A disciplina da bioética, que lida com os critérios da boa pesquisa, informou o legislador na elaboração da Lei de Biossegurança. Segundo esse texto legal, os embriões a serem utilizados na pesquisa científica devem ser inviáveis ou estar congelados por ao menos três anos, fazendo-se necessário o consentimento expresso dos genitores. São eles que decidem, em última instância, se desejam manter o embrião congelado, implantá-lo, descartá-lo ou doá-lo à ciência. A fertilização "in vitro" gera embriões excedentes. Quem doa um deles à ciência age no mesmo espírito humanitário que norteia a doação de órgãos.


ÁLVARO MONTEIRO , 43, biólogo molecular, pós-doutorado pela Rockfeller University (EUA), é chefe do laboratório de genética de câncer do Moffitt Cancer Center (Tampa, Flórida). MARCELO O. DANTAS , 44, é escritor, economista e diplomata. Responsável pelos temas de Unesco no Ministério das Relações Exteriores, acompanhou a negociação da Declaração Universal de Bioética e Direitos Humanos.

domingo, 11 de maio de 2008

'Não queremos roubar cérebros brasileiros'

Ao ‘Estado’, Siganos diz que governo francês quer acelerar processo de cumplicidade científica e cultural entre os países

Renata Cafardo OESP

A França acredita que o Brasil pode ajudá-la a se desenvolver em áreas como ambiente, telecomunicações, engenharia. Mas André Siganos, diretor-geral da Agência CampusFrance, órgão do governo francês responsável pela divulgação sobre estudos no país, garante que a França não quer roubar cérebros brasileiros. “Os estudantes brasileiros que vão para a França regressarão ao País, com certeza. É uma maneira de acelerar um processo de cumplicidade científica e cultural”, diz, em entrevista ao Estado.

Na semana passada, ele esteve no País participando de um evento que organizou encontros entre brasileiros e representantes de universidades na França. Hoje são cerca de 5 mil alunos do Brasil no país europeu, 50% em acordos de duplo-diploma ou parcerias institucionais. Para aumentar esse número, a CampusFrance passou recentemente a facilitar processos, permitindo que estudantes se inscrevam nas universidades por meio da agência, recebendo documentos em português e ajudando na obtenção do visto.

Siganos garante que os brasileiros são mais do que bem-vindos: “Seria hipócrita dizer que todos os alunos estrangeiros são iguais e que os estabelecimentos franceses recebem da mesma maneira. Quer dizer, no discurso, sim. Mas preferem receber um aluno brasileiro do que de outro país que não tenha a mesma habilidade para perceber rapidamente a cultura francesa, a maneira de trabalhar à francesa.”

Existe um interesse especial da França em estudantes brasileiros?

Claro. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, ligada ao MEC) está dando bolsas para brasileiros irem para a França. Há áreas que os governos consideram estratégicas para os dois países: ambiente, desenvolvimento sustentável, telecomunicação, engenharia, certos campos da medicina. Estamos desenvolvendo uma série de duplo-diplomas, o melhor instrumento de intercâmbio científico e acadêmico, com grande igualdade. A França e o Brasil consideram o ensino superior como um bem público, não como um bem de mercado. A conseqüência disso é que não estabelecemos parcerias que não respeitem a igualdade do intercâmbio e não fazemos fuga de cérebros (brain drain). Os estudantes brasileiros que vão para a França vão regressar ao País, com certeza. E também os franceses, que vão conhecer bem o país do outro, a cultura, a língua, os valores. É uma maneira de acelerar um processo de cumplicidade científica e cultural.

Quantos estudantes brasileiros há na França atualmente?

Hoje há 2 mil bolsistas, em mestrado e doutorado, e um total de 5 mil estudantes brasileiros. Há 72 acordos de duplo-diploma com o Brasil. E há na USP cerca de cem franceses. Mas o interessante é que a porcentagem de estudantes brasileiros em acordos universitários, como duplo-diploma, é de 50%. Esse número é bem elevado - entre outros países o índice costuma ser de 10%. O restante dos alunos vai sem nenhum acordo. A porcentagem do Brasil é a meta que tentamos atingir para o resto do mundo em dez anos. A vantagem é que no Brasil tivemos há anos uma estruturação com a Capes, as relações são mais avançadas.

Entre estudantes internacionais, qual é a nacionalidade com o maior número de estudantes?

Se falarmos do estudante que não fica muito tempo, estuda seis meses e vai embora, os americanos são os mais numerosos, cerca de 10 mil. Eles vão para aprender francês, só uns mil alunos ficam e estudam seriamente. Já entre brasileiros são 2 mil. Mas o que mais temos são alunos de países europeus, principalmente alemães, além dos chineses, que já são 15 mil.

A França tem o mesmo tipo de política de educação com a China?

Não existe a mesma confiança entre França e China. Brasil e França trabalham na África, por exemplo, com a mesma filosofia. Há o respeito dos valores, do ambiente, da população. Os chineses não fazem isso, estão em busca de matéria-prima, para resolver os problemas deles. E eles não vêem o ensino superior como um bem público.

Todas as universidades francesas aceitam brasileiros?

O estudante brasileiro na França nunca teve nenhum problema. Seria hipócrita dizer que todos os alunos estrangeiros são iguais e que os estabelecimentos franceses recebem da mesma maneira. Quer dizer, no discurso, sim. Mas preferem receber aluno brasileiro do que de outro país que não tem a mesma habilidade para perceber rapidamente a cultura francesa, a maneira de trabalhar à francesa. Os brasileiros se acostumam rapidamente e vice-versa. Existe essa cumplicidade cultural. Nos sentimos bem mais perto dos brasileiros que dos americanos, por exemplo.

No que a CampusFrance pode ajudar os brasileiros?

É um espaço que pode dar todas as informações sobre instituições na França, da vida universitária, sobre como ingressar. Podem ser feitas pesquisas temáticas sobre o que querem estudar. Agora, também, antes de receber o visto, os alunos precisam mostrar para a CampusFrance o seu projeto acadêmico, dizer por que querem ir para a França, e a agência ajuda nisso. Todos os documentos que o aluno tem de oferecer são traduzidos. Isso tudo vai acelerar os processos no consulado para dar o visto o mais depressa possível. Esse sistema começou há três anos na China e agora está funcionando em 30 países considerados mais importantes para a França.

E o Brasil é um deles.

Sim, precisamos de acordos muito precisos com o Brasil. Há 10, 20 anos se fazia acordos muito gerais. Não vamos intercambiar estudantes de qualquer área, e sim seguir uma estratégia. Em certos campos científicos, o Brasil é melhor que nós - em telecomunicações, por exemplo. Em matemática, o Brasil já começa a ser um dos melhores do mundo. Em informática e química aplicada ao meio ambiente, também.

Após 25 anos, vacina contra HIV permanece inalcançável


Seqüência de falhas em testes promissores fez Nobel dizer que não há esperança de sucesso; para cientistas, é preciso elucidar biologia do vírus

Métodos que ajudam a evitar contágio, como gel e circuncisão, têm problemas, afirma infectologista brasileiro

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Indomável é o melhor adjetivo para qualificar o vírus HIV. Após 25 anos da publicação, na revista "Science", do primeiro isolamento desse parasita, a comunidade científica só acumula frustrações. Nenhuma barreira bioquímica desenvolvida até agora conseguiu conter a infecção. O desenvolvimento da tão almejada vacina ainda é apenas um sonho distante.
"A comunidade científica está deprimida, porque nós não vemos esperança de sucesso", declarou em fevereiro o biólogo americano David Baltimore, que ganhou o Nobel por ter descoberto o mecanismo de replicação de vírus como o HIV.
"Penso que o maior erro que cometemos até agora foi colocar muito foco nos testes em larga escala de vacinas e não dar atenção suficiente para a pesquisa básica. Nós precisamos aprender com isso", afirma à Folha Dennis Burton, do Instituto de Pesquisa Scripps, na Califórnia (EUA).
O pesquisador assina um dos artigos do especial de 25 anos da descoberta do HIV, publicado na última sexta-feira pela mesma "Science".
O retrocesso científico do fim do ano passado é exemplar. O teste mais avançado de uma vacina contra a Aids, criada pela farmacêutica Merck, foi suspenso após 82 voluntários (49 vacinados e 33 do grupo de controle) terem sido contaminados pelo vírus.
"O número foi pequeno e não foi a vacina que causou a contaminação, o que seria inaceitável", diz Esper Kallás, infectologista, professor da Unifesp e coordenador dos testes com a vacina no Brasil. No mundo, 3.000 pessoas receberam doses do medicamento.
"A defesa imunológica que a vacina conferiu aos participantes não foi suficiente. O vírus continuou passando [pelas defesas do corpo]", afirma.
Apesar de desde o começo das pesquisas, há 25 anos, o HIV ser qualificado como versátil, o desafio a cada novo estudo é maior. O vírus não pára de surpreender por causa da sua alta velocidade em desenvolver novas formas genéticas.
"O HIV consegue driblar o sistema imunológico com mais habilidade do que nós imaginávamos", diz Kallás, que concorda com a necessidade da volta rápida para a pesquisa básica. "Apesar de o vírus ser o mais estudado do mundo, temos de aprender mais sobre o comportamento dele", diz.
Toda a comunidade científica concorda com a volta para a bancada. E, mesmo depois dos últimos insucessos, em continuar na busca pela vacina. A urgência é grande. Números da OMS (Organização Mundial de Saúde) mostram que a cada dia mais de 6.800 pessoas são contaminadas. E 5.750 morrem.
Como os resultados do fim de 2007 que levaram o projeto da vacina a dar errado ainda não estão prontos, afirma o infectologista da Unifesp, a lista de perguntas que precisam ser respondidas é enorme.
"Nós colocamos pequenos fragmentos do HIV na vacina que foi aplicada. Será que precisava ser mais? Será que foi a quantidade de vacina em cada uma das doses? Será que temos de fazer combinações de vacinas? Ou mudar a forma de apresentar os fragmentos do vírus para o organismo"?
Para John Moore, outro pesquisador que participou do especial da "Science", a questão do desconhecimento sobre como fazer uma vacina é a que tem mais peso no momento.
"Efetivamente, nós não sabemos como fazer uma vacina que seja realmente eficiente", diz o pesquisador da Universidade Cornell (EUA).

Circuncisão e gel
O fracasso de uma vacina não é o fim do mundo, segundo os cientistas ouvidos pela Folha. Pelo menos há uma base de onde é possível continuar.
"Não podemos abandonar a vacina. Ela tem de continuar a ser um sonho", afirma Kallás. "Não podemos dar uma declaração de derrota e voltar as costas para aquilo que pode ser a maior esperança para combater a epidemia. Hoje são 33 milhões de pessoas contaminadas. Daqui a 20 anos, talvez sejam 150 milhões."
Segundo Kallás, existem poucas opções que possam ser aplicadas como políticas de saúde pública, apesar de a circuncisão, por exemplo, já ter se mostrado eficaz em barrar a transmissão e vários géis vaginais estarem em teste hoje com o mesmo fim. "A circuncisão e o uso de géis têm problemas.Temos que partir do princípio que a maioria das pessoas gosta de fazer sexo e o vírus se transmite por via sexual."
Mesmo com pelo menos 20 projetos em curso hoje no mundo para o desenvolvimento de uma vacina contra a Aids, é difícil encontrar um otimismo rasgado entre os atores da comunidade científica.
O pesquisador da Escola Médica de Harvard, Bruce Walker, é um dos que fogem um pouco dessa regra. "Certas pessoas estão infectadas com o HIV há 30 anos e não estão doentes. Estou otimista que poderemos usar esse dado para criar uma vacina efetiva", diz. "Mas isso, como foi visto nos últimos 25 anos, não será fácil."

AIDS/HIV:
A STEP into Darkness or Light?

Science 9 May 2008:
Vol. 320. no. 5877, pp. 753 - 755


John P. Moore1* P. J. Klasse,1 Matthew J. Dolan,2 Sunil K. Ahuja3*

1Weill Medical College of Cornell University, New York, NY 10065, USA

2Infectious Disease Clinical Research Program, San Antonio Military Medical Center, Ft. Sam Houston and Lackland AFB, TX 78234, USA

3Veterans Administration Research Center for AIDS and HIV-1 Infection, South Texas Veterans Health Care System, San Antonio, TX 78229, and University of Texas Health Science Center, San Antonio, TX 78229, USA

The outcome of the efficacy trial of an adenovirus serotype 5 (Ad5) vectorbased HIV-1 vaccine last November (STEP trial) was unexpected. Not only was the vaccine ineffective at lowering plasma viremia postinfection, but it may have increased the risk of acquiring HIV-1 infection. Although firm conclusions cannot be drawn based on the small number of infections that occurred (49 in the vaccinated patient group, 33 in the placebo group), it has been suggested that vaccineinduced generalized immune activation, which can promote HIV-1 replication, might have increased the infection risk (1).

The vector-based vaccine used in the STEP trial was a recombinant Ad5 virus expressing immunogenic HIV-1 proteins. A higher number of HIV-1 infections occurred in the subset of vaccinees with high, preexisting titers of Ad5-specific antibodies, compared with placebo recipients. One possible explanation is that anti-Ad5 antibodies facilitate cellular uptake of the Ad5 vector (perhaps by cells other than the ones normally targeted), inducing an immune response that enhances HIV-1 infection. Although immune responses to viral infections are usually protective, they can also be harmful (as with West Nile, dengue, measles, and respiratory syncytial virus infections). For example, a low-titer antibody response to West Nile virus can enhance viral replication and exacerbate disease (2). Whether similar events occur after vaccination with an Ad5 or similar viral vector is now something to consider.

One way to examine the apparent effect of anti-Ad5 antibodies is to plot the relative risk of HIV-1 infection in the STEP trial groups as a function of antibody titer (see the figure). Unexpectedly, the higher the anti-Ad5 antibody titer in the placebo group, the lower the HIV-1 infection rate. By contrast, infection risk in the vaccinated group appears similar at high and low titers. Given statistical limitations, a conservative explanation is that these patterns arise by chance. However, because of the need to understand all aspects of the STEP trial, we here consider whether the data patterns are meaningful.

It seems implausible that Ad5-specific antibodies directly protect against HIV-1 infection, as no reasonable mechanism is apparent. On the other hand, it may be that an individual with a high-titer Ad5-specific antibody response can better resist HIV-1 infection naturally. The anti-Ad5 antibody titer could thus be a surrogate marker for a host genetic constitution that confers reduced susceptibility to HIV-1. Other factors, perhaps including immune activation, might outweigh this effect in Ad5 vaccine recipients.

A possible precedent arises from two earlier HIV-1 vaccine trials with the gp120 glycoprotein protein of HIV-1 (AIDSVAX). The infection rates were almost the same in vaccine and placebo recipients, but the titers of gp120-binding antibodies and the risk of HIV-1 infection were inversely correlated (3) (see the figure). It is not likely that this correlation arose because binding antibodies are themselves protective. For the overall trial outcome to be neutral (the vaccine conferred no protection compared to the placebo), if above-average titers of gp120- binding antibodies directly protected against infection, then below-average antibody titers would also have to act directly, to place individuals at a greater risk of infection than placebo recipients. This seems improbable. The authors of this study argued that the ability to mount a strong anti-gp120 antibody response inversely measures susceptibility to HIV-1 infection. This scenario might also apply to high anti-Ad5 antibody titers in the STEP trial. Hence, individuals that can mount strong antibody and possibly other relevant immune responses to pathogen antigens may be inherently more resistant to HIV-1 infection--they have "better immune systems."

Figure 1
Possible influence of antibody titers on risk of HIV-1 infection. Data from (1) show the relative risk of HIV-1 infection in the Ad5-vaccinated (triangles) and placebo (squares) groups from the STEP trial, as a function of the anti-Ad5 antibody titer range. An anti-Ad5 antibody titer of <18>3) (circles) show the relative risk of HIV-1 infection in recipients of AIDSVAX (gp120) as a function of the titer range of antibodies that block gp120 from binding to CD4, a receptor used by HIV-1 to gain entry into host T cells (other measures of the antibody response to gp120 yield broadly similar plots). The confidence limits on both data sets (not shown) are broad. Both studies are large (5403 participants in the AIDSVAX trial; analysis of the STEP data is based on a subset of 1836 of those enrolled). The statistical significance of the trend shown for the AIDSVAX data is established (3), whereas significance of the trend among the STEP data is debatable (1). Comparison of the associations is therefore speculative. Not every individual may have been exposed to Ad5 in the STEP trial, whereas in the AIDSVAX trial, every vaccine recipient was given gp120.

There is a modest but significant tendency for individuals with weak antibody responses to one component of a vaccine against measles, mumps, and rubella (MMR) to also respond poorly to the other vaccines (4). Moreover, antibody responses to measles and mumps vaccines are influenced by host genetics, including genes encoding antigen-presenting proteins [human leukocyte antigen (HLA)] that are important for immune function, and singlenucleotide polymorphisms in genes encoding cytokines or their receptors, such as interleukin- 2 (IL-2), IL-10, and IL-12 receptor beta (5, 6). An extrapolation to HIV-1 vaccines suggests that a broad range of host factors, not just those affecting humoral immunity, might influence protection. For example, IL-10 might affect vaccine responses (and susceptibility to infection) by influencing both cellular and humoral immunity (7, 8); gp120 triggers IL-10 production by specific immune cells (dendritic cells) to an extent that varies greatly between individuals (9), which may be relevant to understanding the wide range of anti-gp120 antibody titers seen in gp120 vaccinees (3).

Host genetic factors may confound HIV vaccine trial evaluation (10-15). For example, genotypes of CCR5, the major HIV-1 co-receptor, and the gene copy number of CCL3L1, the most potent and HIV-1-suppressive CCR5 ligand, together influence cell-mediated immunity in both HIV-1-negative and -positive individuals (15). Genotypes associated with reduced cell-mediated immune responses were similar in the control and HIV-1-infected groups, and predicted an enhanced risk of acquiring HIV-1 and a faster disease course (15). Thus, an individual with a "better immune system" might indeed resist HIV-1 infection or partially control replication. This is consistent with observations that pre-seroconversion immune status predicts the rate of HIV-1 infection and rate of immune cell (CD4+ T cell) depletion postinfection (15-17). A caveat against focusing narrowly upon the antibody response in the STEP trial is supported by the use of cell-mediated immunity-related parameters to define preseroconversion immune status in the aforementioned studies (15-17). Thus, risks for HIV-1 infection may be associated with risks for "a broader spectrum of immunological challenges" that are "reflected in the T cell repertoires of exposed individuals" (18).

More complexity is created when the same vaccine is tested in different geographic areas with genetically diverse populations. The STEP trial was conducted mostly in North America and the Caribbean, but a second, now abandoned, trial (PHAMBILI) was initiated in southern Africa. HIV-1-host interactions relevant to the natural history of the epidemic and vaccine responsiveness may be population specific. Indeed, CCR5 genetic determinants influencing AIDS progression rates differ in European Americans and African Americans (10). HIV-1 acquisition risk is a product of the susceptibility of uninfected persons and the communicability of HIV-1 fromthe infected person (19, 20). Communicability is dictated in part by the transmitter's viral load (19-22), which is influenced by host genetics (14, 15), and also by the genetic makeup of both sexual partners. For example, transmission is more efficient when sexual partners share similar HLA class I alleles (23). Thus, even small differences in the frequencies of disadvantageous genetic variants in different vaccine trial cohorts might have a disproportionately large effect on the likelihood that genetically "atrisk" transmitters will encounter similarly "atrisk" recipients. Clinical trial design should take into account the genetically defined individual differences in both susceptibility and transmissibility to better understand puzzling outcomes. Knowledge of population-specific host factors might also help identify what protective effects are attributable to the vaccine or to the host genotype.

Perhaps the STEP trial outcome signals that a step back is needed to seek more illumination on correlates of protection and susceptibility, rather than initiating trials of broadly similar vaccines (24). Additional studies on HIV-1 vaccine cohorts, coordinated with studies of natural infection, might yield useful information about genetic factors influencing both variable vaccine responses and variable susceptibility to infection. Do titers of antibodies to common viral and nonviral pathogens, including Ad5, correlate with anti-gp120 antibody titers and HIV-1 infection status? What host genetic factors correlate with strong and weak antibody responses? HIV-1 vaccine research must finally step away from its roots in empiricism and embrace new discoveries in immunology and host genetics (24-26).

References

  1. J. Cohen, Science 318, 1048 (2007).
  2. T. C. Pierson et al., Cell Host Microbe 1, 135 (2007).
  3. P. B. Gilbert et al., J. Infect. Dis. 191, 666 (2005).
  4. J. L. St. Sauver et al., Vaccine 19, 1363 (2001).
  5. I. G. Ovsyannikova et al. Vaccine 25, 3090 (2007).
  6. N. Dhiman et al., J. Infect. Dis. 195, 21 (2007).
  7. H. D. Shin et al., Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 97, 14467 (2000).
  8. K. W. Moore et al., Annu. Rev. Immunol. 19, 683 (2001).
  9. M. Shan et al., PLoS Pathog. 3, e169 (2001).
  10. E. Gonzalez et al., Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 96, 12004 (1999).
  11. E. Gonzalez et al., Proc. Natl. Acad. Sci. U.S.A. 98, 5199 (2001).
  12. S. J. O'Brien, G. W. Nelson, Nat. Genet. 36, 565 (2001).
  13. J. Cohen, Science 307, 23 (2005).
  14. E. Gonzalez et al., Science 307, 1434 (2005).
  15. M. J. Dolan et al., Nat. Immunol. 12, 1324 (2007).
  16. F. A. Koning et al., J. Immunol. 175, 6117 (2005).
  17. L. Van Asten et al., AIDS 18, 1885 (2004).
  18. M. S. Killian et al., AIDS 18, 161 (2004).
  19. R. Anderson, M. Hanson, J. Infect. Dis. 191 (suppl. 1), S85 (2005).
  20. S. Blower, E. J. Schwartz, J. Mills, AIDS Rev. 5, 113 (2003).
  21. R. H. Gray et al., Lancet 357, 1149 (2001).
  22. T. C. Quinn et al., N. Engl. J. Med. 342, 921 (2000).
  23. S. K. Ahuja, G. Catano, Lancet 363, 2103 (2004).
  24. R. C. Desrosiers, Nat. Med. 10, 221 (2004).
  25. D. R. Burton et al., Nat. Immunol. 5, 233 (2004).
  26. R. C. Gallo, Lancet 366, 1894 (2005).