domingo, 25 de maio de 2008

'Nossa saúde depende da biodiversidade'

Aaron Bernstein: Pesquisador de Harvard; Em livro lançado nos EUA recentemente, médico diz que cura de doenças no futuro está ligada à preservação da natureza

Herton Escobar OESP

A cura do câncer pode, sim, estar escondida em alguma planta da Amazônia. Ou da mata atlântica. Ou do cerrado. Ou de qualquer outro ambiente selvagem. Cerca de metade dos medicamentos mais importantes da medicina foram desenvolvidos a partir de moléculas da natureza, e é provável - ou quase certo - que outras serão descobertas no futuro, segundo uma dupla de pesquisadores da Universidade Harvard. Elas podem estar na seiva de uma planta, na pele de um sapo, no veneno de uma aranha ou nas enzimas de uma bactéria. São segredos que só a natureza pode revelar, e que só a pesquisa científica pode desvendar.

“A maioria das drogas que você compra na farmácia não existiria se não tivesse sido inventada pela natureza”, diz o médico Aaron Bernstein, co-autor do livro Sustaining Life: How Human Health Depends on Biodiversity (Sustentando a Vida: Como a Saúde Humana Depende da Biodiversidade, em tradução literal), lançado recentemente nos Estados Unidos pela Oxford University Press.

Assinado também pelo bioquímico Eric Chivian, diretor do Centro para a Saúde e Ambiente Global da Faculdade de Medicina de Harvard, o livro faz uma avaliação sistêmica dos serviços prestados pela biodiversidade em benefício da raça humana, desde os mais fundamentais, como a purificação de água e a polinização de lavouras, até os mais complexos, como a produção de medicamentos.

É um tema que remete diretamente à Convenção da Diversidade Biológica (CDB), acordo internacional que está sendo discutido esta semana em Bonn, na Alemanha. Lançada na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, em 1992, no Rio de Janeiro (a chamada Rio 92), a CDB tem como objetivo proteger a biodiversidade global, estimular o desenvolvimento sustentável e resguardar a soberania dos países sobre a utilização dos recursos biológicos contidos em seus territórios.

Aaron Bernstein conversou por e-mail com o Estado sobre a importância econômica, ambiental e social da biodiversidade. Leia a seguir os principais trechos da entrevista.

Nanotubos, amianto e câncer

Um chamado de alerta para os riscos da nanotecnologia

A nanotecnologia, ao lado da biotecnologia, é a tecnociência da hora. Engenheiros do mundo todo estão de olho comprido em materiais projetados na escala do bilionésimo de metro (ou milionésimo de milímetro). Sua estrela são os nanotubos de carbono, mas ela foi mais uma vez embaçada pela suspeita de que possa vir a causar câncer.
Nanotubos são folhas enroladas de átomos de carbono arranjados numa geometria de hexágonos encaixados, similar à de uma tela de galinheiro.
Um material leve como plástico, mas resistente como aço. Estudam-se múltiplas aplicações, de veículos para remédios a eletrônica avançada, com mercado potencial de US$ 2 bilhões dentro de 4 a 7 anos.
Há vários tipos de nanotubo. Um dos mais usados tem várias camadas concêntricas (tubos dentro de tubos) e é longo. Em inglês, recebeu como apelido a sigla MWNT (de "multiwalled nanotubes").
Não é de hoje que se investiga a hipótese de que nanomateriais causem dano à saúde. Por conterem partículas diminutas, são mais facilmente assimiláveis por estruturas como células. Para o bem (se forem remédios) ou para o mal (se forem tóxicas).
As fibras de MWNT se assemelham às de amianto, material mineral da natureza vinculado a um tipo de câncer (mesotelioma) no pulmão. Células de defesa do corpo, como os macrófagos, não conseguem tirar da superfície interna do órgão todas as minúsculas fibras de amianto aspiradas. Segue-se eventualmente uma reação inflamatória, que pode dar origem ao tumor.
Dada a semelhança entre fibras de MWNT e de amianto, pesquisadores dos EUA e do Reino Unido decidiram investigá-las. Liderados por Kenneth Donaldson, da Universidade de Edimburgo (Escócia), injetaram fibras longas e curtas tanto de amianto quanto de MWNT na cavidade abdominal de camundongos, que tem uma camada de revestimento (mesotélio) similar à do pulmão.
O trabalho saiu nesta semana na edição online do periódico especializado "Nature Nanotechnology" (www.nature.com/nnano). Constatou-se que os nanotubos longos, assim como as fibras idem de amianto, desencadeiam a reação inflamatória precursora do mesotelioma. Não ficou provado, portanto, que MWNTs causem câncer, mas o resultado recomenda com ênfase que se façam mais pesquisas para avaliar melhor esse risco.
"Ainda não sabemos se os nanotubos de carbono se tornarão aerossóis e serão inalados, ou se, caso de fato alcancem os pulmões, poderão encontrar o caminho até o revestimento sensível mais externo", ressalva Donaldson em comunicado do Projeto sobre Nanotecnologias Emergentes (www.nanotechproject.org). "Mas, se acabarem chegando lá em quantidade suficiente, há uma chance de que algumas pessoas venham a desenvolver câncer -talvez décadas depois de respirar a coisa."
A boa notícia, do ponto de vista da promissora nanotecnologia, é que a reação pré-tumoral não ocorre com fibras MWNT mais curtas, ou curvas.
Para Donaldson, conhecer essas propriedades dos nanotubos facilitará também a pesquisa sobre como evitar seus danos à saúde humana.
"[O artigo] é um chamado de alerta para a nanotecnologia, em geral, e para os nanotubos de carbono, em particular", afirma Andrew Maynard, consultor científico do projeto e co-autor do trabalho. "Não podemos nos permitir não explorar esse material incrível, mas tampouco podemos nos permitir usá-lo erradamente -como fizemos com o amianto."


MARCELO LEITE é autor de "Promessas do Genoma" (Editora da Unesp, 2007) e de "Brasil, Paisagens Naturais - Espaço, Sociedade e Biodiversidade nos Grandes Biomas Brasileiros" (Editora Ática, 2007). Blog: Ciência em Dia (cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br). E-mail: cienciaemdia.folha@uol.com.br

Os dez mitos sobre as cotas

OS 10 MITOS SOBRE AS COTAS

Vamos ao ping-pong das cotas. Aqui o texto pedido por vocês para que fosse publicado. Coloco os mitos. No link se tem o texto na íntegra, discutindo cada ponto.

1- as cotas ferem o princípio da igualdade, tal como definido no artigo 5º da Constituição, pelo qual “todos são iguais perante a lei sem distinção de qualquer natureza”. São, portanto, inconstitucionais.

2- as cotas subvertem o princípio do mérito acadêmico, único requisito que deve ser contemplado para o acesso à universidade.

3- as cotas constituem uma medida inócua, porque o verdadeiro problema é a péssima qualidade do ensino público no país.

4- as cotas baixam o nível acadêmico das nossas universidades.

5- a sociedade brasileira é contra as cotas.

6- as cotas não podem incluir critérios raciais ou étnicos devido ao alto grau de miscigenação da sociedade brasileira, que impossibilita distinguir quem é negro ou branco no país.

7- as cotas vão favorecer aos negros e discriminar ainda mais aos brancos pobres.

8- as cotas vão fazer da nossa, uma sociedade racista.

9- as cotas são inúteis porque o problema não é o acesso, senão a permanência.

10- as cotas são prejudiciais para os próprios negros, já que os estigmatizam como sendo incompetentes e não merecedores do lugar que ocupam nas universidades.



enviada por Luis Nassif

Genômica pessoal chega antes da hora ao mercado

Já é possível comprar pelo correio mapeamentos de DNA de utilidade duvidosa

Há duas classes de serviço, com enormes diferenças no preço e na qualidade; uma sai por cerca de US$ 1.000 e a outra, por US$ 350 mil

MARCELO LEITE
COLUNISTA DA FOLHA

Genômica pessoal, ou medicina personalizada, é o assunto do momento em biotecnologia. Há um ano, não passava de promessa. Agora se tornou objeto de consumo, mas há quem avise que tem gente comprando gato por lebre.
Só existem dois tipos de produto na praça, com uma gama de preço e qualidade similar à que separa uma bicicleta de uma BMW. No primeiro caso, o consumidor pode escolher entre três fornecedores de testes para verificar se tem risco aumentado para no máximo umas 30 "condições" (nem todas são doenças).
A opção mais barata sai na faixa de R$ 1.700 (US$ 1.000). São empresas de comércio eletrônico, como 23andMe, deCODEme e Navigenics. Paga-se com cartão de crédito. O kit para cuspir dentro vem e volta pelo correio.
Todas se limitam a fazer análise de SNPs. É a sigla em inglês de "polimorfismos de nucleotídeo único", um tipo de erro de digitação durante o processo de cópia do DNA durante a evolução das espécies. O genoma de uma pessoa pode ter até 1 milhão de SNPs diferentes do de outra. Cada uma dessas trocas de letras pode ou não estar associada com um risco maior de doença ou... "abobrinhas".
A expressão é de Sergio Pena, geneticista da Universidade Federal de Minas Gerais e dono do laboratório GENE. Ele encomendou uma análise dos próprios SNPs à deCODEme. "Dos SNPs que eles reportam, alguns são "abobrinhas': calvície, intolerância à lactose, identificação de compostos amargos", critica. "Dos SNPs associados com doenças, em apenas dois casos há riscos relativos altos: trombose venosa e doença de Alzheimer. Estes já são conhecidos há anos e já são oferecidos por muitos laboratórios, inclusive o GENE", alerta Pena. Para ele, é "questionável" se o risco para Alzheimer deveria ser comunicado a consumidores sem intermediação médica.
"O impacto de cada variante genética usada nesses testes é muito pequeno", ressalta Marcelo Nóbrega, geneticista da Universidade de Chicago. Ele cita o caso do diabetes, que tem prevalência de 5% na população: "Um aumento de 20% significaria que o risco passa a 6%. Quem vai mudar drasticamente seu estilo de vida porque tem 6% em lugar de 5% de chance de desenvolver diabetes?"

Primeira classe
A opção mais cara de genoma pessoal chega a quase R$ 600 mil. Só há um provedor, a Knome. O slogan da empresa de Cambridge, Massachusetts (EUA), é "Know thyself" (conhece-te a ti mesmo), frase usada como divisa do oráculo de Delfos, na Grécia, séculos atrás. Mas poucos se lembram de uma máxima inscrita no templo de Apolo: nada em excesso.
A Knome oferece transcrever todos os 6 bilhões de caracteres do genoma de seus 20 primeiros clientes por US$ 350 mil (só anunciou dois até agora). Promete mostrar ao cliente suas chances de ser portador das variantes genéticas ligadas a cerca de 2.000 doenças.
A maioria é de síndromes genéticas raras, comos as de Tay-Sachs, Turner e Huntington. A última equivale a uma condenação: após os primeiros sintomas, quase nada se pode fazer para adiar a morte, que vem 10 a 15 anos depois. Muita gente prefere não saber se a terá.
"Não há quase nada que eu não gostaria de saber. Esse é o meu tipo de pessoa", diz Church. "Mesmo quando não há tratamento, você pode querer agir em benefício de sua família, (...) levantar fundos, conscientizar, fazer pesquisa..."
O geneticista de Harvard já soletrou o próprio genoma -por exigência do comitê de ética que analisava o Projeto Genoma Pessoal. O estudo acadêmico prevê seqüenciar 100 mil pessoas (qualquer um pode se inscrever pela internet: www.personalgenomes.org).
"A maioria das coisas que eu gostaria de não conhecer eu já sabia antes de olhar o meu genoma. Eu gostaria de não saber que posso ter doença cardíaca e câncer de pele (por causa da minha pele clara)." A Knome afirma que não foi procurada por nenhum brasileiro, ainda.


Leia entrevista com George Church no blog Ciência em Dia
http://cienciaemdia.folha.blog.uol.com.br