quarta-feira, 30 de abril de 2008

Problema é a mercantilização, diz Lottenberg

DA REPORTAGEM LOCAL FSP

O médico oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, de São Paulo, diz que um dos problemas das escolas médicas do Brasil é a falta de infra-estrutura. Segundo ele, que foi secretário municipal da Saúde na gestão José Serra (PSDB), os hospitais universitários funcionam mais como hospitais públicos do que como escolas. A seguir, trechos da entrevista. (RICARDO WESTIN)


FOLHA - O que o sr. pensa do mau desempenho dos cursos de medicina?
CLAUDIO LOTTENBERG -
Está havendo uma comercialização enorme da educação, com fusões e aquisições, todo um processo de mercantilização. E isso muitas vezes ocorre em detrimento da qualidade.

FOLHA - Como se pode ver essa falta de qualidade?
LOTTENBERG -
Para formar gente boa, é preciso ter uma estrutura especial, principalmente o hospital-escola. No primeiro e no segundo ano, o curso é teórico. No terceiro ano, passa a ser cada vez mais prático. O problema é que o hospital-escola de muitas faculdades não tem infra-estrutura. Funciona como se fosse hospital público comum. Os professores não estão lá orientando, e os médicos que estão lá trabalhando não têm como orientar os estudantes. Eu, por exemplo, sou um oftalmologista, mas isso não quer dizer que tenho condições de ensinar oftalmologia a estudantes de medicina. Além disso, os pacientes nesses hospitais não são os pacientes aos quais um aluno deve atender. O hospital-escola é para treinar, e o hospital público é para atender à população. São diferentes.

FOLHA - Como é a formação teórica dos estudantes?
LOTTENBERG -
Também tem problemas. O papel do professor está distorcido. Como é contratado com péssimas remunerações, está mudando o foco da atenção. Em vez de se concentrar nas aulas, o professor está mais preocupado com os protocolos de pesquisa. O médico sai mal preparado da universidade. Isso é uma decepção enorme para nós que acreditamos numa saúde melhor para o país.

Dos cursos médicos mal avaliados, 3 estão em SP

Unimar (Marília) teve pior resultado, seguida de Unaerp (Ribeirão Preto) e Unimes (Santos)

Unimar diz que alunos boicotaram Enade porque instituição antecipou formatura que fora marcada para a véspera do exame

RICARDO WESTIN
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Dos 17 cursos de medicina que serão vigiados pelo Ministério da Educação por causa de maus resultados, três ficam no Estado de São Paulo. São todos de universidades privadas.
A mais mal avaliada foi a Unimar (Universidade de Marília), que cobra mensalidade de cerca de R$ 3.500. Em seguida, vieram a Unaerp (Universidade de Ribeirão Preto) e a Unimes (Universidade Metropolitana de Santos).
Tanto a reitoria quanto os alunos da Unimar dizem que seu curso de medicina foi injustamente classificado como o pior do país. O problema, dizem, ocorreu por causa da data da formatura dos estudantes.
O jantar, a colação de grau e o baile estavam marcados, respectivamente, para os dias 8, 9 e 10 de novembro de 2007. O Enade (Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes), uma das bases para a avaliação do MEC, foi aplicado no dia 11.
Para evitar que os alunos fizessem a prova recém-saídos do baile -todos poderiam estar cansados e alguns, alcoolizados-, a reitoria decidiu adiantar as datas em uma semana.
A colação de grau foi, então, realizada no dia 2 de novembro, Dia de Finados. Os formandos não gostaram.
Como revanche, segundo a versão da reitoria, os estudantes boicotaram o Enade.
"O ministério deveria dar alguma responsabilidade ao aluno. O ônus é todo da escola. Por causa do boicote, quem sofreu a pena não foi o aluno. Ficamos tachados como uma universidade de qualidade inferior", diz o pró-reitor de graduação da Unimar, José Roberto Marques de Castro.
O presidente do diretório acadêmico do curso de medicina, Antonio Padron, 26, diz que o curso da Unimar tem qualidade. "Em relação à teoria, os alunos sabem até demais. O problema foram as datas", diz ele.

"Boicote"
Procuradas, a Unaerp e a Unimes informaram que se manifestariam só após a comunicação oficial dos resultados. "Acreditamos que possa ter ocorrido algum engano ou boicote por parte dos alunos", informou a Unaerp.
A Unimar dividiu o posto de pior escola médica com a Unig (Universidade Iguaçu), que também é particular e fica na região metropolitana do Rio. A Unig informou que só o coordenador do curso de medicina poderia se pronunciar, mas que ele já havia deixado a instituição no horário em que a Folha procurou a instituição, às 18h.

terça-feira, 29 de abril de 2008

Telecurso: uma pedagogia do nosso tempo

CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA

No telecurso, os alunos se apropriam do conhecimento de forma ativa e voluntária, permitindo a personalização do seu percurso

COM A convicção de que, em matéria de educação, tratar desiguais de forma igual é perpetuar desigualdades, participei do lançamento do Novo Telecurso, no dia 24 de março, na Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Em passado recente, encerrada uma reunião, retornei ao táxi que me aguardava e nele encontrei o motorista cochilando, tendo nas mãos um livro de química do ensino médio.
Perto dos 30 anos de idade, buscando "mudar de emprego e melhorar de vida", relatou-me que, não tendo tido sucesso naquela matéria, cursava pela terceira vez a segunda série do ensino médio, em uma escola pública da periferia de São Paulo. Lamentava a norma que o obrigava a freqüentar todas as demais disciplinas daquela série pela terceira vez, mesmo tendo sido nelas considerado apto. Afinal, só não havia concluído aquela série em razão das dificuldades em química.
Esse motorista engrossa a taxa de distorção idade-série, que, no ensino médio, é, hoje, de 46,3%, sem contar os milhares de brasileiros que da escola foram excluídos.
Há um entendimento generalizado de que a sociedade e o governo têm tido dificuldade em conciliar o ensino de massa com o ensino de elite.
Se alguns indicadores colocam a educação brasileira de qualidade como um raro privilégio para poucos (e, nesse sentido, o nosso elitismo se estende até a educação infantil), por outro lado, ministra-se o mesmo ensino à grande maioria dos alunos assalariados do noturno e aos alunos com disponibilidade exclusiva para o estudo no turno diurno. O tempo, as disciplinas, o período letivo, enfim, a estrutura e o funcionamento da escola atingem a todos do mesmo modo.
De maneira que, diante de um tratamento escolar idêntico, as diferenças se transformam em desigualdades, de tal forma que o arcabouço regulatório da igualdade resulta na perpetuação da desigualdade. Nesse contexto de um sistema educacional em que a qualidade e a quantidade são dimensões excludentes, que enfrenta os desafios, entre outros, da aceleração dos estudos e de suprir a escolaridade de jovens e adultos que não a concluíram na idade apropriada, situa-se e justifica-se o telecurso -uma proposta pedagógica que tem na experiência de vida e no trabalho o ponto de partida e o referencial para novas aprendizagens.
Constitui-se, pois, em uma pedagogia diferenciada e organizadora de situações de aprendizagem variadas (não pelo seu conteúdo, mas pelo processo), por meio das quais os alunos apropriam-se do conhecimento de uma forma ativa e voluntária, permitindo a construção da sua própria progressão, ou seja, a personalização do seu percurso. E, assim, no campo educacional, as diferenças transformam-se em igualdades.
Desafio enfrentado pela vontade e determinação da Fiesp, do Sesi (Serviço Social da Indústria), do Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) e da Fundação Roberto Marinho, o telecurso possibilita aos jovens e adultos a aquisição de saberes e competências exigidas pela sociedade contemporânea e a sua inserção no mundo do trabalho.
Ao valorizar mais a dimensão do ser que a do ter, o telecurso se alicerça na visão adequada da pessoa enquanto ser orientado para processos e se apóia na contextualização do ensino, no desenvolvimento de um currículo significativo e expressivo para o mundo do trabalho e das práticas sociais.
A ação educativa do Novo Telecurso configura-se como um diferencial pelo que passa a fazer. Com todos os programas legendados, além do uso da língua brasileira de sinais, em atenção às deficiências auditivas, continuará fazendo melhor, depois de ter os conteúdos da educação básica atualizados, a inclusão da filosofia, da sociologia, das artes plásticas e da música no ensino médio e a adequação do telecurso profissionalizante para equivalência ao ensino técnico.
Acesso garantido por meio da recepção livre pela TV Globo, Canal Futura, TVE, TV Cultura, Rede Vida, entre outras não menos importantes, será sempre relevante o acesso ao Telecurso 2000 em recepção organizada por meio de telessalas, com mediação de um orientador de aprendizagem.
O Sistema Fiesp e a Fundação Roberto Marinho, parceiros desde 1995, conceberam o telecurso e, após mais de uma década, com a forte convicção de que o sucesso não pode levar à acomodação, lançam o Novo Telecurso, atualizando e ampliando uma metodologia diferenciada que favorece a aprendizagem, privilegiando as situações típicas do mundo do trabalho e do ambiente urbano, fazendo jus a um raro certificado de produto nacional -qualidade comprovada e reconhecida internacionalmente.


CARLOS EDUARDO MOREIRA FERREIRA, 69, é advogado. Foi presidente da Fiesp/Ciesp (1992-1998) e deputado federal pelo PFL-SP (1998-2002).

Gargalo no ensino técnico

FSP
COMEÇA A a se adensar o debate sobre a necessidade de impulsionar a formação profissional, um preocupante gargalo do desenvolvimento. A discussão foi desencadeada pela proposta do Ministério da Educação de carrear para o ensino técnico mais verbas do sistema S, conjunto dos serviços sociais e de aprendizagem ligados a confederações setoriais. É crucial que tal debate não desande em mera medição de forças do governo federal com os serviços.
Já foi dito nesta página que instituições como Sesc e Sesi gozam de merecido prestígio, por seu papel de proa nas áreas de cultura, educação e lazer. Já os serviços de aprendizagem, como Senai (indústria) e Senac (comércio), poderiam dar contribuição maior. A proposta do MEC vai nessa direção e merece ser debatida.
O ponto de discórdia está na proposta redivisão do bolo da contribuição de 2,5% sobre a folha de pagamento das empresas, obrigatória por lei. O MEC propõe inverter a proporção atual, passando a destinar 60% para aprendizagem técnica (40%, hoje) e reduzindo de 60% para 40% a fatia do serviço social. Entidades como o Sesc protestam contra o corte de um terço nos recursos. Alegam, com razão, que tamanha redução de fundos inviabilizaria a continuidade de boa parte de seu trabalho.
É desejável que o sistema S amplie a sua participação no ensino profissionalizante, dado o interesse estratégico das empresas, e da sociedade, de elevar a qualificação da mão-de-obra. Mas é preciso fazê-lo de forma balanceada, sem impor sacrifícios a instituições que prestam um serviço social relevante -e sem que o Estado se apodere do recurso, arrecadado do setor privado, que constitui o sistema S.
Por questão de justiça, contudo, o debate sobre o financiamento precisa transcender o sistema S e buscar outras fontes. Os bancos, que -à diferença de industria e comércio- não contribuem, deveriam ser convocados a participar. O Fundo de Amparo ao Trabalhador poderia destinar à qualificação profissional parcela mais significativa do que 0,42% (dado de 2006).
Desatar o nó do ensino técnico tem de se tornar uma prioridade nacional. Todos os setores envolvidos estão convocados a dar sua contribuição.

Reforma universitária - importância social

Charles Mady

OESP

Muito tem se discutido e pouco tem sido realizado no tema referente à reforma da universidade para melhor adaptá-la às nossas necessidades sociais e o quanto a atual estrutura inibe - e até impede - que ela sirva de maneira mais adequada à nossa população. Para quem vive dentro dela, e também para ela, fica uma desagradável impressão de que a universidade está isolada de nossa realidade, isolada da maioria que necessita urgentemente de uma atuação eficaz, saindo de baixo da redoma de vidro sob a qual ela vive.

Um grande problema está na visão de produção de profissionais por meio da rápida especialização, pois o assim chamado mercado o exige, conceito esse que se casa perfeitamente com a necessidade de sobrevivência dos recém-egressos dos cursos de graduação e pós-graduação. É uma corrida contra o tempo, abrindo-se mão da qualidade. Esses jovens profissionais serão apenas peças dessa máquina de produção e consumo, em que irão competir de forma selvagem por melhores resultados o resto de sua vida produtiva. Vão viver dentro de um curral intelectual, não dedicando tempo algum a nada além dos limites de seus campos de interesse, sem terem noção do que ocorre ao seu redor, perdendo a crítica sobre quase tudo o que acontece fora de seus limites, desumanizando-se.

Estamos formando técnicos de grande eficiência, esquecendo que as técnicas são um meio para se produzir grandes profissionais, e não um fim em si mesmo. Na medicina isso é devastador.

Num país como o nosso, extremamente necessitado de generalistas, observamos a grande migração de nossos alunos para áreas técnicas, em boa parte descomprometidos com as necessidades sociais. A sociedade, que mantém a universidade pública, não vê o adequado retorno desse empreendimento. Seus alunos irão servir às grandes empresas de saúde, de equipamentos e fabricantes de remédios, que seguramente têm outros interesses que não o bem-estar da população.

Não há a menor dúvida que é fundamental o desenvolvimento de tecnologias de ponta. Quando, porém, observamos que sabemos transplantar o coração de pacientes com doença de Chagas, mas não temos remédios para tratar a causa da moléstia, algo de profundamente errado está ocorrendo. Ou quando observamos os esforços mais que elogiáveis na pesquisa sobre células-tronco, com todos os recursos técnicos e financeiros disponíveis, ocorrerem paralelamente a um mortal surto de dengue, somos obrigados a refletir a respeito. E a perguntar se a universidade não estaria isolada do povo. Fica a impressão de que os desenvolvimentos tecnológicos e científicos são realizados sem se levarem em consideração os interesses da maioria da população.

A nossa parcela de responsabilidade por esse processo é grande. Quando se discutem itens fundamentais de uma reforma universitária, as questões ficam muito mais centradas em estruturas e organogramas do que na reforma de mentalidades de seus componentes. Quantos de nós estão realmente comprometidos com a universidade? Quantos de nós enxergam a universidade como um fim, e não como um meio? Quantos de nós têm na universidade um projeto institucional, e não pessoal? E quanto desses projetos privilegia uma minoria, em detrimento da maioria? Quando discutimos, devemos abordar os problemas maiores com grande objetividade, sem medo, para não corrermos o risco de realizar reformas apenas cosméticas. Devemos perguntar, por exemplo, quanto tempo cada qual de nós dedicou às aulas de graduação e pós-graduação. Devemos perguntar, sem medo, por que aulas em outras cidades e outros Estados, devidamente patrocinadas pela indústria, são tão disputadas, enquanto muitas vezes há enorme dificuldade em agrupar alguns professores para ministrar os cursos oficiais.

Será que a universidade realmente se tornou meio, e não fim? Será que estamos perdendo a paixão pela universidade, que tanto nos deu? Se a paixão pela atividade acadêmica desaparece, desaparece a qualidade, com alto prejuízo para a atividade intelectual. Para piorar, o ensino está sendo marginalizado em benefício das atividades de pesquisa. Hoje em dia há inúmeros índices para avaliar os méritos da produção científica, produção essa que determina a evolução na carreira universitária, gerando como conseqüência uma enormidade de publicações, boa parte delas repetitivas, redundantes, com ampla valorização dos métodos, em detrimento das idéias.

Que índices há para avaliar atividades didáticas? Digo com freqüência que valorizo muito aulas em ambientes acadêmicos, a presença do professor em enfermarias e ambulatórios e discussões com internos e residentes. É o chamado 'currículo oculto', difícil de ser avaliado por qualquer índice. Mas essa é a nossa função mais nobre. Infelizmente, hoje escrevemos muito mais do que ensinamos. Nós nos preocupamos muito com quem vai entrar na universidade, mais do que como esses alunos vão sair. O compromisso maior deverá ser com uma reforma de mentalidades, portanto, cultural, muito mais do que com uma reforma estrutural. Qualquer reforma deverá compatibilizar a pesquisa e a assistência ao ensino, de forma equilibrada. Caso contrário, não terá sentido e estará fadada ao fracasso. E a universidade perderá a oportunidade de atuar de forma profunda na elaboração de novas condutas sociais.

Esses temas merecem longas e árduas discussões. Devemos ter como uma das missões mais importantes atingir conclusões que possam beneficiar a universidade, para que esta possa participar, da melhor forma possível, da realização de um projeto social maior.

Charles Mady, professor associado da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo, é diretor da Unidade de Miocardiopatias do InCor-HC-FMUSP

Estudo abre caminho para nova técnica contra o HIV

Inibição de proteína humana pode ajudar a reduzir ação do vírus da aids no organismo do paciente, permitindo combate mais eficaz da doença

Carlos Orsi

A neutralização de uma proteína humana poderá abrir caminho para o combate mais eficaz ao HIV, causador da aids. Sem ela, o vírus perde os meios para se multiplicar e dar continuidade à infecção do organismo, segundo pesquisa divulgada ontem no website da revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS).

Os cientistas, liderados por Pamela Schwartzberg, do Instituto Nacional de Investigação sobre o Genoma Humano, dos Estados Unidos, conseguiram, em testes laboratoriais em culturas de células, bloquear uma infecção desativando a proteína ITK. Segundo Pamela, ela é essencial na ativação de funções dos leucócitos T necessárias para a replicação do HIV, 'incluindo a expressão dos genes do vírus e sua penetração na célula'.

Com isso, a equipe demonstrou, na prática, que a neutralização da ITK (interleucina 2, quinase induzida de célula T), reduz drasticamente a capacidade do HIV de se reproduzir no organismo. 'A ITK é uma proteína importante para ativar os leucócitos T, uma célula fundamental para o sistema imunológico normal, e um dos alvos principais da infecção por HIV', explica um dos autores do artigo que descreve a nova técnica, Andrew Henderson, da Universidade Estadual da Pensilvânia.

FOCO MUTANTE

A maioria dos tratamentos contra a aids fixa como alvo as proteínas do vírus responsável pela infecção. Mas o HIV é capaz de passar por múltiplas mutações e, com isso, suas proteínas se transformam rapidamente, o que produz uma resistência do vírus aos tratamentos convencionais.

O que os pesquisadores apresentaram é uma abordagem diferente: visar não o vírus, mas a proteína humana que age como 'inocente útil', ao permitir a entrada no HIV nas células e ajudar em sua reprodução.

ALVO FIXO

A equipe de Pamela descobriu que, atuando sobre a ITK, poderia bloquear a infecção por HIV nas células imunes humanas. Diferentemente das proteínas do vírus, a ITK registra pouquíssimas mutações, ressaltou a pesquisadora.

As seguidas tentativas de combater o vírus HIV fazendo frente a suas rápidas mutações, com a prescrição de combinações de medicamentos e alteração nos tratamentos podem, na realidade, incrementar o risco de efeitos colaterais tóxicos, e nem sempre são bem-sucedidas.

Quando o HIV entra no organismo, infecta os linfócitos T e assume o controle do mecanismo de defesa, o que permite ao vírus produzir cópias de si mesmo sem encontrar oposição. A infecção termina comprometendo o conjunto do sistema imune, o que provoca a aids - síndrome de imunodeficiência adquirida.

O trabalhado publicado na PNAS demonstra que, se a proteína ITK não está ativa, o vírus da aids não pode usar com eficácia os linfócitos T para se reproduzir, o que acaba desacelerando ou bloqueando sua propagação. O artigo publicado ontem descreve como camundongos submetidos ao tratamento para a inibição da ITK tiveram uma reação imunológica mais lenta à infecção por outros vírus que não o HIV, mas ainda foram capazes de responder a ela. O trabalho afirma, ainda, que inibir a proteína reduziu a disseminação do HIV em culturas de células.

Os cientistas já pediram uma patente para o processo de controle do HIV a partir da inibição da ITK, mas não há previsão para testes em humanos no futuro próximo. 'A esperança é que nosso trabalho interesse pessoas mais qualificadas para levá-lo ao próximo nível', afirmou Henderson.

Selective targeting of ITK blocks multiple steps of HIV replication

Julie A. Readinger et al.

PNAS published April 28, 2008, 10.1073/pnas.0709659105

Treatment for HIV has relied on the use of antiretroviral agents that can be subject to the development of resistant viruses. The study of inhibitors directed against cellular proteins required for HIV replication is therefore of growing interest. Inducible T cell kinase (ITK) is a Tec family tyrosine kinase that regulates T cell receptor (TCR)-induced activation of PLC{gamma}-1, Ca2+ mobilization and transcription factor activation, and actin rearrangement downstream of both TCR and chemokine receptors. Because productive infection of T cells with HIV requires T cell activation, chemokine receptors and actin reorganization, we asked whether ITK affects HIV infection using ITK-specific siRNA, a kinase-inactive ITK mutant or an ITK inhibitor. We demonstrate that loss of ITK function resulted in marked reductions in intracellular p24 levels upon HIV infection. Loss of ITK function after establishment of HIV infection also decreased virus spread within the culture. Inhibition of ITK did not affect expression of the HIV coreceptors CD4 or CXCR4 but partially blocked HIV viral entry, an effect that correlated with decreased actin polarization to gp120. Additionally, ITK was required for efficient HIV transcription, and overexpression of ITK increased both viral transcription and virus-like particle formation. Our data suggest that inhibition of ITK blocks HIV infection by affecting multiple steps of HIV replication.