sexta-feira, 16 de maio de 2008

Passo firme rumo à educação de qualidade

MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO

O novo índice de qualidade oferece um diagnóstico de cada escola e permite que a evolução dos alunos seja acompanhada

SÃO PAULO está dando mais um importante passo em relação ao acesso de crianças e jovens à escola, o governo do Estado passou a buscar incessantemente a melhoria de qualidade e uma maior eqüidade do sistema.
Nova proposta curricular, programa especial de alfabetização, reformulação do sistema de avaliação, recuperação intensiva, diversificação curricular do ensino médio, materiais de apoio a professores e alunos, inovações tecnológicas, valorização dos professores, melhoria da infra-estrutura das escolas, seleção de 12 mil coordenadores pedagógicos, enfim, um conjunto de ações foi desencadeado para melhorar a aprendizagem.
Agora um novo passo é dado. A Secretaria de Estado da Educação de São Paulo lançou ontem o Programa de Qualidade da Escola, com o Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo, o Idesp, definindo metas a serem alcançadas, ano a ano, pelas escolas da rede.
O Idesp chega para ser um indicador de qualidade e promover a eqüidade educacional das escolas, abrangendo os 5 milhões de alunos da rede estadual, nas 645 cidades paulistas.
Mostra a situação atual de 5.183 escolas, de acordo com cada ciclo, nas séries iniciais (1ª a 4ª) e finais (5ª a 8ª) do ensino fundamental e no ensino médio. Considera dois quesitos: desempenho e fluxo escolar. Com variação de 0 a 10, permite a comparação a longo prazo. Especificamente, visa garantir que todos os alunos dominem de maneira satisfatória competências e habilidades para a série escolar que se encontram e concluam os ensinos fundamental e médio no tempo adequado.
O novo índice de qualidade oferece um diagnóstico de cada escola, a partir de hoje, e permite que professores, gestores escolares, pais e mães de alunos e comunidade acompanhem a evolução dos alunos.
Criar um indicador sintético que dialogue com a diversidade das escolas da rede estadual só foi possível devido à adoção de um padrão comparativo que levou em conta o cruzamento das taxas líquidas de aprovação em cada ciclo com os níveis de aprendizagem dos alunos medidos pelo Saresp (Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo), uma prova de língua portuguesa e matemática para estudantes da rede que cursam, entre outras, as séries finais dos ciclos. O Idesp estabelece metas por disciplina e por ciclo. Isso por que a situação dos estudantes da rede estadual paulista não é homogênea, conforme demonstrou o Saresp 2007. Além disso, em uma mesma disciplina a porcentagem de alunos proficientes se reduz em níveis mais elevados ao longo do processo educacional, tendência também observada em todo o país.
Com base no Idesp, será possível a cada escola aprimorar seu projeto pedagógico, considerar que alunos diferentes precisam de apoio e/ou desafios diferentes, reconhecer e valorizar cada vez mais a importância do trabalho dos professores.
Queremos que as nossas escolas cheguem ao nível indicado pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), um elevado padrão de qualidade.
O trabalho é árduo e longo, exige continuidade de ações e compromisso com políticas de longo tempo. Em educação não há trabalho fácil e com resultados em curto prazo.
Falamos em melhorias em pouco mais de duas décadas. Prazo curto diante do trabalho e do esforço a serem realizados para que um percentual tão alto possa ser atingido em uma rede tão grande e complexa.
Daí a preocupação do governo do Estado em envolver todos os atores do processo educacional, pais, educadores e gestores públicos, em esforço que certamente é válido, sobretudo diante do salto de qualidade que há muito São Paulo faz por merecer.
Por meio de um boletim, levamos a todas escolas sua posição no Idesp e, sobretudo, a meta a ser atingida no intervalo 2008-2009 e uma projeção a cada ano, em, por exemplo, 2015, 2022, 2026...
A secretaria coloca à disposição em seu site (www.educacao.sp.gov.br) a consulta aos indicadores e às metas, por escola. Desejamos que nasça um diálogo acerca da responsabilidade compartilhada entre educador e família em torno da importância da educação, que, da cobrança por uma escola melhor, surja a melhoria da qualidade e da eqüidade da educação.


MARIA HELENA GUIMARÃES DE CASTRO, 61, professora da Unicamp (licenciada), é secretária da Educação do Estado de São Paulo. Foi secretária-executiva do Ministério da Educação (2002) e presidente do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais) entre 1995 e 2002.

Comentário de Andre Araujo

Parece a cereja em cima do bolo mofado. Há coisas bem mais elementares a fazer antes de sofisticar a estrutura. Dada a base salarial ridicula dos professores paulistas, com a carência material das escolas, estamos pulando etapas. Todo o incentivo do mundo não fará um professor mal aparelhado cultural e materialmente a fazer um aluno desmotivado aprender.
Essa linha de exames, testes, avaliações e agora incentivos vem de uma visão economicista da educação, como se esta fosse um problema quantitativo mensuravel. Essa linha é marca registrada das gestões Paulo Renato, um economista, e Maria Helena no MEC
Conceitualmente, a corrente que entende que a educação tem um objetivo muito mais amplo do que preparar população para o mercado de trabalho, torce o nariz para essa formula reducionista. Parece pagamento por produção, sistema da industria. Não se usa geralmente no mundo onde a educação é um sistema de valores e cultura.
Parece um atalho, dada a imensidão dos problemas fundamentais da educação publica brasileira, hoje um dos piores sistemas do mundo pela ineficiência e inadequação de resultados. Problemas que estão na fraca formação dos professores, nos salários aviltantes, no pouco prestigio da classe, outrora, aqui mesmo no Brasil, gozando de boa posição social e razoáveis vencimentos, as famosas normalistas, que fomaram a geração que hoje toca o Brasil. Hoje a carreira deslizou para o limbo social e economico e ai está a raiz do problema, não adiantam quebra-galhos.

Comentário

Alguns leitores consideraram o plano insuficiente. E dá bom tema discutir desdobramentos. Mas não dá para criticar a implantação de indicadores. Nos últimos anos a educação em São Paulo foi esfarelada, virou pó. E Secretários da Educação foram incensados, pela capacidade de montar planos que eram puro marketing.

Pergunto: se houvesse indicadores de acompanhamento, essa degradação teria ocorrido?

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