segunda-feira, 12 de maio de 2008

Brasil disputa liderança de entidade mundial de patente

País vem tentando influenciar setor, principalmente na área de remédios

Jamil Chade OESP

Depois de anos tentando influenciar políticas de patentes, principalmente as ligadas ao setor de medicamentos, o Brasil quer agora a direção da entidade internacional que cria regras para a área. A partir de amanhã, a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (OMPI) inicia sua eleição e o governo espera colocar o brasileiro José Graça Aranha na direção da entidade, sediada em Genebra.

A disputa não será fácil. No total, 15 candidatos disputam a vaga. Um dos problemas é que nem mesmo a América Latina está unida. A corrida conta com um hondurenho e um mexicano. O Itamaraty estima que Graça Aranha tem “boas chances” e a maioria dos votos da América do Sul, além de africanos e árabes.

O governo chegou a sondar o México sobre um acordo para que apenas uma candidatura latino-americana fosse apresentada. Mas os mexicanos se recusaram. Os demais candidatos vêm da Polônia, Bangladesh, Macedônia, Paquistão, Filipinas, Itália, Quênia, França, Eslovênia, Rússia e Japão. Mas um dos principais é o australiano Francis Gury, diretor-adjunto da OMPI e que tem o apoio dos países ricos.

Além de não ter o apoio de todo o continente latino-americano, o Brasil ainda não vem tendo bom desempenho em eleições para cargos na ONU desde o início do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. O Brasil lançou candidatos para os postos na Organização Mundial do Comércio (OMC), União Internacional de Telecomunicações (UIT), Banco Interamericano de Desenvolvimento e Conselho Executivo da Organização Internacional do Trabalho. Foi derrotado em todas as eleições.

Desta vez, a expectativa é de reverter esse histórico. Para isso, Graça Aranha tenta até mesmo se descolar da posição brasileira no que se refere às patentes. O governo lidera há anos um movimento para transformar a noção de patentes e garantir que os países em desenvolvimento possam tirar vantagens da produção científica. Na avaliação do governo, a patente não pode ser apenas um monopólio da empresa sobre uma descoberta e seus impactos sociais precisam ser avaliados.

O governo garante que não é contra as patentes, mas gerou um novo debate duro com os Estados Unidos e Suíça ao quebrar as licenças de produção de remédios contra a aids. Já Graça Aranha se diz “moderado” e “construtor de consenso”.

De fato, se eleito, ele terá a difícil tarefa de equilibrar interesses dos países emergentes e a pressão de países da Europa, além de Estados Unidos e Japão. A OMPI administra tratados internacionais sobre patentes, presta serviços de assistência aos governos e promove harmonização das normas de propriedade intelectual.

Graça Aranha é o atual diretor do departamento de Registros Internacionais da OMPI e foi o presidente do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI). O atual diretor, o sudanês Kamil Idris, está sendo acusado de mentir e de conduzir atividades fraudulentas.

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