No domingo, no post “Política e cérebro emocional” comentei um artigo do Eduardo Graeff e sugeri que, ao contrário do que ele dizia, o caminho para o presidenciável do PSDB estaria em esquecer a herança fernandista, admitir os avanços do lulismo e dar um passo à frente: tornar-se um fundamentalista do desenvolvimento.
Terminava enfatizando a importância de um dos trechos do artigo do Graeff: “Também não basta ter valores. É preciso pregá-los sem medo de ser repetitivo e traduzi-los em declarações de princípio que mostrem ao eleitor que o candidato conhece seus problemas e sabe como enfrentá-los, mesmo sem entrar em detalhes”.
Em outro artigo, “O PSDB e o fundamentalismo” mostrava o erro fundamental de Nelson Rockefeller, de abandonar o discurso liberal justo na hora em que os ventos lhe eram favoráveis. Colocava um alerta: “O que está ocorrendo agora com o PSDB é essa mesma perda de rumo. É o partido quem está se apegando ao fundamentalismo, não o PT. Não tomem manifestações isoladas como sendo governo Lula. O segundo governo Lula está caminhando aceleradamente para a centro-esquerda, ocupando os espaços, dando seguimento a todas as idéias que FHC não teve vontade ou coragem de tocar”.
Em seu artigo de hoje no “Valor”, a excelente Maria Cristina Fernandes traz informações sobre a estratégia do presidenciável José Serra.
• Os batalhões do governador de São Paulo, José Serra, que aparece no topo da lista dos presidenciáveis da pesquisa CNT-Sensus, estarão aprisionados no PSDB, mas não necessariamente marcados a ferro e fogo por um discurso de oposição
• Nas declarações públicas sobre o leilão das rodovias federais, Serra não passou recibo das reiteiradas comparações em que o quilômetro rodado em São Paulo chega a ser até nove vezes maior do que o das novas estradas. Saudou o leilão como uma boa notícia e prepara-se para anunciar as novas regras as próximas licitações paulistas.
• Não é, portanto, uma candidatura de confronto que se arma. O discurso é o do desenvolvimento. O que, face à toada do PAC, é quase uma promessa de continuidade no estilo fazer mais e melhor. A aposta é que a recíproca também será verdadeira. E que Lula, apesar de melhor cabo eleitoral do que foi o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, não se arriscaria a ter uma postura agressiva contra os candidatos de fora de sua base.
• A candidatura que se constrói nas colinas do Morumbi, é muito diferente daquela de 2002. Se naquele ano projetou-se em Lula o risco De La Rua, em 2010 é nas próprias hostes do governador paulista que se cultiva o 'risco Serra' - um candidato que vê a política monetária do governo Lula, como a de seu antecessor, excessivamente atrelada ao mercado financeiro e atribui a uma inexistente ameaça inflacionária o ritmo excessivamente lento da redução da taxa de juros. No baralho de 2010, Serra monta o jogo em busca de uma carta à esquerda do ás.
Serra começa a esboçar um movimento para se libertar da armadilha desse radicalismo maniqueísta e tolo praticado por parte relevante do partido e da mídia.
enviada por Luis Nassif