quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Dengue cresce, e ministro admite epidemia no País

Número de casos chegou a 481,3 mil até setembro, quase 50% a mais do que no mesmo período de 2006; Temporão anunciou campanha

Eduardo Kattah

O Brasil vive uma nova epidemia de dengue, com um aumento de 50% dos casos da doença registrados entre janeiro e setembro deste ano em comparação ao mesmo período de 2006. O alerta foi feito ontem pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, que classificou a situação de “injustificável” e “inadmissível” durante o lançamento da campanha nacional de mobilização contra a doença. Temporão se referia também às 121 mortes registradas nos primeiros nove meses deste ano, número que só fica atrás dos 150 óbitos confirmados em 2002, o pior ano da doença no País.

Segundo Temporão, o alto índice representa deficiência no atendimento à forma hemorrágica da doença. Conforme dados do Ministério da Saúde, de janeiro a setembro, o País registrou 481,3 mil casos da doença. No ano passado, no mesmo período, foram 321,3 mil infectados.

O ministro informou que, do total de casos neste ano, 1.076 pessoas contraíram a dengue hemorrágica, principalmente nos Estados de Mato Grosso do Sul, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná e Maranhão. No quadro comparativo com 2006 do número de casos notificados, a região Sul foi a que apresentou maior curva ascendente (828,16 %), seguida por Centro-Oeste (99,95%), Norte (31,34%), Nordeste (30,43%) e Sudeste (19,81%).

Nesta última, o aumento de casos foi puxado pelo Rio (75,64%) e por São Paulo (20,75%) - com um total de 64.310 notificações até setembro contra 53.259 no mesmo período do ano passado. Minas e Espírito Santo apresentaram resultado negativo, -5,22% e -27,92%, respectivamente.

“É uma epidemia. E essa epidemia é preocupante”, disse Temporão, citando a dificuldade de combater o mosquito Aedes aegypti, transmissor da doença, e o vírus por sua variedade de sorotipos, o que “coloca obstáculos” ao desenvolvimento de uma vacina. “Infelizmente, essa vacina não está no horizonte próximo”, destacou o ministro, que, antes de lançar a campanha, se reuniu com especialistas em Belo Horizonte.

A preocupação imediata do ministério será zerar o número de mortes. “O índice que nós alcançamos é inadmissível, o que demonstra problema de atendimento e fragilidade da organização do sistema de saúde.”

O biólogo Adriano Fernandes Ogera, da Coordenadoria de Vigilância em Saúde, vinculada à Secretaria da Saúde de São Paulo, disse que uma das maiores dificuldade enfrentadas no combate à dengue é a recusa de moradores em receber os agentes. “A maior parte dos moradores não se sente segura em recebê-los. Tentamos resolver o problema com parcerias, o que tem dado certo. Mas algumas pessoas oferecem resistência.”

INICIATIVAS

Ontem, o ministro anunciou iniciativas, como a distribuição de um caderno com informações sobre a dengue para todas as equipes do Programa Saúde da Família e uma parceria com a Associação Médica Brasileira e o Conselho Federal de Medicina para o envio de 300 mil CD-ROMs a médicos. Com o tema “Combater a dengue é um dever meu, seu e de todos. A dengue pode matar”, a campanha será veiculada de forma regionalizada, com jingles em ritmos diferentes. Começa em rádios e TVs do Sudeste e Centro-Oeste e vai até 24 de novembro. No Sul e no Norte será veiculada de 4 de novembro a 16 de dezembro e, no Nordeste, até março.

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