sábado, 26 de abril de 2008

O MEC e os cursos de medicina

Pressionado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), que há muito tempo vem reclamando da má qualidade na formação dos novos médicos e da quantidade de profissionais no setor, o Ministério da Educação (MEC) acaba de anunciar medidas que aumentam as exigências para a abertura de novos cursos. Uma das condições é que cada curso disponha de um hospital universitário próprio ou conveniado por um período mínimo de dez anos. Outra condição é que esse hospital tenha um programa de residência médica, atenda ao Sistema Único de Saúde (SUS) e esteja localizado na mesma cidade onde o curso é oferecido.

Além disso, o MEC vai divulgar nos próximos dias os novos critérios para avaliação de cursos da área médica, com base nas sugestões formuladas por uma comissão de especialistas chefiada pelo cardiologista Adib Jatene, professor aposentado da USP e ex-ministro da Saúde. As autoridades educacionais também pretendem submeter a um rigoroso processo de supervisão os cursos de medicina que tiveram desempenho considerado insatisfatório no último Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade).

A lista, ainda não divulgada oficialmente pelo MEC, deve incluir 28 cursos particulares e 2 vinculados a instituições federais de ensino superior. Esses cursos terão de assinar um “termo de saneamento” com o MEC, comprometendo-se a atualizar o currículo, redefinir o projeto pedagógico, reformar instalações físicas, modernizar laboratórios, reduzir o número de vagas e contratar mais professores com título de mestre e doutor.

Com essas três iniciativas, o MEC quer evitar que aconteça com o ensino de medicina o mesmo que vem ocorrendo com o ensino jurídico. Ou seja, a criação desenfreada de faculdades de direito, com a conseqüente deterioração da qualidade do ensino - o que levou a Secretaria de Ensino Superior (Sesu) a obrigar 50 instituições particulares a cortar cerca de 20 mil vagas, entre janeiro e março de 2008.

Atualmente, segundo o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), há 167 cursos de medicina em funcionamento no País. Há 12 anos, eram 86, o que representa um crescimento de 94%. A oferta de vagas também aumentou na mesma proporção. Pelos levantamentos de associações médicas, o Brasil tem hoje um médico para cada grupo de 500 habitantes.

Pelas novas regras do MEC, ao avaliar os pedidos de abertura de cursos de medicina a Sesu dará prioridade às instituições de ensino superior que já tenham outros cursos bem avaliados pelo Enade na área de saúde, como farmácia, enfermagem e biologia. Também serão levadas em conta a qualificação do corpo docente, a proporção de alunos por professor, a organização didático-pedagógica do curso e a necessidade de médicos na região. E, a exemplo do que ocorre na área de direito, entidades corporativas, como o CFM e o Conselho Nacional de Saúde, poderão expedir pareceres sobre os projetos de criação de cursos.

As novas exigências para abertura e reconhecimento de cursos de medicina, evidentemente, não foram bem recebidas pelo Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo, pela Associação Nacional das Universidades Particulares e pela Associação das Mantenedoras de Instituições Privadas de Ensino Superior. As três entidades alegam que as novas regras tornam quase impossível abrir novos cursos e até renovar o credenciamento dos já existentes. Há também quem veja no rigor do MEC uma forma disfarçada de limitar a presença da iniciativa privada no setor educacional e de evitar que o aumento da oferta de profissionais na área de medicina leve a uma queda do nível de seus vencimentos.

Evidentemente, zelar pela qualidade do ensino é uma das principais atribuições das autoridades educacionais. Assim como ocorreu na área de direito, as medidas tomadas pelo MEC para aprimorar o ensino de medicina são necessárias e oportunas. Mas, para afastar o risco de suspeição ideológica ou de favorecimento dos interesses corporativos das associações médicas, é preciso que as autoridades educacionais dêem o mesmo tratamento a todos o cursos de medicina - inclusive os vinculados a universidades públicas.
OESP

USP cria técnica para coagulante transgênico

Estudo pode ajudar o Brasil a ser auto-suficiente na produção do fator 8, usado no tratamento de hemofilia

Emilio Sant’Anna OESP

Uma pesquisa do Instituto de Química da Universidade de São Paulo (USP) pode tornar o Brasil auto-suficiente na produção do fator 8, um hemoderivado para o tratamento da hemofilia A, o tipo mais grave da doença. O produto é um coagulante obtido a partir do plasma humano e utilizado para conter os casos de hemorragia desses pacientes.

Normalmente, o fator 8 é produzido no fígado humano. No caso dos hemofílicos, no entanto, esse processo é falho. A única alternativa, em uma situação de emergência, é a aplicação do hemoderivado.

Hoje, o País importa 240 milhões de unidades por ano do coagulante. Na última compra, o Ministério da Saúde pagou cerca de R$ 322 milhões por 140 milhões de unidades do produto. No entanto, as reclamações de desabastecimento são freqüentes. “Nos meus 57 anos de hemofilia, não me lembro de uma fase tão ruim como a que estamos vivendo hoje”, afirma o vice-presidente da Federação Brasileira de Hemofilia (FBH), Gilson da Silva.

Como a matéria-prima do coagulante é escassa no mercado mundial, os pesquisadores investem em outras formas de desenvolvimento do fator 8. A pesquisa da USP, desenvolvida no Núcleo de Terapia Celular e Molecular (Nucel), desde 2002 , segue esse caminho.

O produto, chamado de fator 8 recombinante, é obtido de células transgênicas de hamster (um tipo de roedor). Uma seqüencia de DNA, responsável pela codificação do fator de coagulação, é retirada do fígado humano, isolada e introduzida em células de ovário de hamster mantidas em cultura. Com a introdução da seqüencia genética, as células do ovário passam a secretar o fator 8.

Após essa fase, o produto obtido passa por um processo de purificação, e pode ser utilizado em pacientes hemofílicos. “O problema no Brasil é a produção de matéria-prima, e nossa pesquisa chegou a um ponto em que é compatível com uma escala de produção sem precisar recorrer ao plasma humano”, diz a bióloga Mari Cleide Sogayar, coordenadora da pesquisa.

Agora, os pesquisadores do Nucel procuram uma empresa interessada em produzir o fator 8 recombinante em escala industrial. A estimativa é que, em dois anos, essa fase esteja concluída. Um laboratório já manifestou interesse, mas o acordo ainda não foi fechado.

FINANCIAMENTO

Durante seis anos, o governo federal manteve um rede de pesquisas em hemoderivados com recursos da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). Além da pesquisa do Nucel, a USP de Ribeirão Preto e a Universidade de Brasília (UnB) faziam parte dessa rede, que foi desfeita em 2007.

A bióloga do Nucel esperava outro desfecho para a pesquisa. Ela acredita que a Empresa Brasileira de Hemoderivados e Biotecnologia (Hemobrás), que será construída em Pernambuco, poderia utilizar os processos desenvolvidos pela rede de pesquisadores para a fabricação do coagulante. “Esperávamos que o governo federal mantivesse essa rede e o resultado fosse apresentado para a Hemobrás ou outra empresa particular”, diz. Hoje, a maior parte do financiamento vem da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). “Se tivermos apoio vamos melhorar ainda mais o produto”, completa a pesquisadora.

A estatal, no entanto, já tem um projeto para a produção do fator 8 recombinante desenvolvido na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Com financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), R$7,2 milhões serão investidos no projeto. A Hemobrás investirá outros 700 mil. De acordo com a assessoria de imprensa da estatal, o projeto da UFRJ foi escolhido por ser o único que não tinha financiamento de órgãos de fomento à pesquisa.

HEMORRAGIAS

O fator 8 recombinante deve diminuir um pouco as dificuldades dos cerca de 7 mil pacientes hemofílicos no Brasil - assim que estiver acessível. Os sangramentos são freqüentes na vida dessas pessoas.

Nas articulações de mãos, braços e pernas, os ferimentos surgem naturalmente, sem causa externa. Além disso, os sangramentos internos também são comuns. “Antigamente, cada hemofílico tinha direito a 30 mil unidades por ano do coagulante”, diz o vice-presidente da FBH. “Agora, o medicamento é muito difícil de ser encontrado.”

Semente de moringa pode matar mosquito

DA AGÊNCIA FOLHA, EM RECIFE

Pesquisadores da UFPE (Universidade Federal de Pernambuco) descobriram que a semente da árvore moringa oleifera, encontrada em todo o país, pode ser usada para combater as larvas do mosquito Aedes aegypti, transmissor da dengue e da febre amarela.
Segundo o estudo, uma das proteínas contidas nas sementes, a lectina, impede o processo de digestão da larva, provocando sua morte por desnutrição. Os testes de campo, que revelarão por quanto tempo o produto continua agindo, deverão ser iniciados na próxima semana.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, Patrícia Paiva, as vantagens do uso da semente em relação a outros larvicidas são o baixo custo de produção, a toxidade nula ao homem nas proporções utilizadas e a eficiência do produto. "Os mosquitos estão criando resistência aos inseticidas comuns".
Iniciado em 2005, o estudo com a semente mostrou que o produto é eficaz nas quatro fases de desenvolvimento das larvas. Nos testes realizados pela universidade, foram utilizadas sementes moídas puras e diluídas. Nos dois casos, após a definição das doses, os insetos não se desenvolveram.

quinta-feira, 24 de abril de 2008

Grupo consegue criar tecido cardíaco em laboratório

DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Um grupo de pesquisadores americanos, canadenses e britânicos anunciou ontem ter conseguido produzir três tipos diferentes de tecido cardíaco em laboratório usando células-tronco embrionárias. O sucesso de um experimento com camundongos, descrito em estudo publicado ontem no site da revista "Nature", torna mais próxima a meta de usar a técnica para tratar vítimas de infarto no futuro.
Os cientistas, liderados por Gordon Keller, do Centro McEwen, de Toronto, alimentaram células-tronco de embriões com proteínas específicas ao longo de seu desenvolvimento para fazer com que elas adquirissem as características desejadas.
Foram criadas células de músculo cardíaco (que bombeia o sangue), células musculares que fazem parte dos vasos sangüíneos e células de endotélio (revestimento interno) de artérias. Em um vídeo, é possível ver um punhado de células "batendo".
Ao implantar as células em roedores com doença cardíaca, os animais melhoraram, relata o estudo na "Nature".

Human cardiovascular progenitor cells develop from a KDR+ embryonic-stem-cell-derived population

Lei Yang et al. Published online 23 April 2008 , Nature
he functional heart is comprised of distinct mesoderm-derived lineages including cardiomyocytes, endothelial cells and vascular smooth muscle cells. Studies in the mouse embryo and the mouse embryonic stem cell differentiation model have provided evidence indicating that these three lineages develop from a common Flk-1+ (kinase insert domain protein receptor, also known as Kdr) cardiovascular progenitor that represents one of the earliest stages in mesoderm specification to the cardiovascular lineages1. To determine whether a comparable progenitor is present during human cardiogenesis, we analysed the development of the cardiovascular lineages in human embryonic stem cell differentiation cultures. Here we show that after induction with combinations of activin A, bone morphogenetic protein 4 (BMP4), basic fibroblast growth factor (bFGF, also known as FGF2), vascular endothelial growth factor (VEGF, also known as VEGFA) and dickkopf homolog 1 (DKK1) in serum-free media, human embryonic-stem-cell-derived embryoid bodies generate a KDRlow/C-KIT(CD117)neg population that displays cardiac, endothelial and vascular smooth muscle potential in vitro and, after transplantation, in vivo. When plated in monolayer cultures, these KDRlow/C-KITneg cells differentiate to generate populations consisting of greater than 50% contracting cardiomyocytes. Populations derived from the KDRlow/C-KITneg fraction give rise to colonies that contain all three lineages when plated in methylcellulose cultures. Results from limiting dilution studies and cell-mixing experiments support the interpretation that these colonies are clones, indicating that they develop from a cardiovascular colony-forming cell. Together, these findings identify a human cardiovascular progenitor that defines one of the earliest stages of human cardiac development.

terça-feira, 22 de abril de 2008

Mapa global do metabolismo ajuda a explicar hipertensão

DA REUTERS Cientistas que mapearam as diferenças de metabolismo em amostras de urina de pessoas de diferentes povos ao redor do mundo descobriram que muitas das diferenças na pressão arterial não tem origem genética, mas sim nos hábitos alimentares das pessoas e em suas bactérias intestinais. Os pesquisadores esperam que a descoberta, publicada na revista "Nature", ajude a desenvolver novas drogas para combater a hipertensão.
A pesquisa analisou amostras de urina de 4.630 pessoas dos EUA, Reino Unido, Japão e China. De acordo com o líder do estudo, Jeremy Nicholson, do Imperial College de Londres, os padrões não parecem seguir a genética. "Têm a ver com dieta e estilo de vida e, também, com os microorganismos do intestino", disse.
Bactérias no intestino e no cólon ajudam na digestão, e muitos estudos recentes sugerem que as pessoas e suas bactérias intestinais têm uma relação simbiótica.
Alguns dos compostos liberados na digestão têm efeito semelhante ao de fármacos. Nicholson analisou a distribuição desses produtos, chamados de metabólitos, para tentar encontrar relação com doenças do coração. O estudo encontrou quatro compostos que podem ser relacionados com alterações na pressão arterial.
Cerca de 1 bilhão de pessoas sofrem com a hipertensão. Essa é a maior causa de AVCs (acidente vascular cerebral), de doenças cardíacas e de insuficiência renal.

Human metabolic phenotype diversity and its association with diet and blood pressure

Elaine Holmes et al. Nature advance online publication 20 April 2008 | doi:10.1038
Metabolic phenotypes are the products of interactions among a variety of factors—dietary, other lifestyle/environmental, gut microbial and genetic1, 2, 3. We use a large-scale exploratory analytical approach to investigate metabolic phenotype variation across and within four human populations, based on 1H NMR spectroscopy. Metabolites discriminating across populations are then linked to data for individuals on blood pressure, a major risk factor for coronary heart disease and stroke (leading causes of mortality worldwide4). We analyse spectra from two 24-hour urine specimens for each of 4,630 participants from the INTERMAP epidemiological study5, involving 17 population samples aged 40–59 in China, Japan, UK and USA. We show that urinary metabolite excretion patterns for East Asian and western population samples, with contrasting diets, diet-related major risk factors, and coronary heart disease/stroke rates, are significantly differentiated (P <>-16), as are Chinese/Japanese metabolic phenotypes, and subgroups with differences in dietary vegetable/animal protein and blood pressure6. Among discriminatory metabolites, we quantify four and show association (P <>P <>2, 7, are also associated with blood pressure of individuals. Metabolic phenotyping applied to high-quality epidemiological data offers the potential to develop an area of aetiopathogenetic knowledge involving discovery of novel biomarkers related to cardiovascular disease risk.