Fumantes portadores de variação comum no DNA têm risco até 80% maior de desenvolver doença que não-fumantes
Resultado é de três estudos independentes, que fizeram varredura no DNA de fumantes; variações de risco estão no cromossomo 15
DA REDAÇÃO FSP
Três grupos internacionais de cientistas identificaram pela primeira vez um conjunto de variações genéticas -todas no mesmo trecho do DNA humano- que aumentam o risco de câncer de pulmão nos fumantes. A descoberta mostra que algumas pessoas têm predisposição hereditária ao câncer, o que as torna mais vulneráveis aos efeitos danosos do tabaco.
A descoberta foi feita de forma independente por grupos na França, na Islândia e no Reino Unido. Eles usaram novos métodos para vasculhar o genoma humano e chegaram ao mesmo resultado, o que aumentou a confiança nas conclusões. As descobertas foram publicadas nas revistas "Nature" e "Nature Genetics".
No total, foram analisadas 300 mil mutações no DNA de mais de 12 mil fumantes e ex-fumantes na Europa e na América do Norte. Os pesquisadores chegaram a duas regiões do cromossomo 15 que parecem abrigar os genes ligados à predisposição ao câncer. É aí também que estão os genes que codificam os receptores da nicotina, princípio ativo do cigarro.
"Esse gene é como uma praga dupla", disse Christopher Amos, professor de epidemiologia no M.D. Anderson Cancer Center, nos EUA, e co-autor de um dos estudos, referindo-se a uma das variações genéticas descobertas. "Também torna você mais suscetível a ser dependente de cigarro e menos suscetível a parar de fumar."
Um fumante que herda duas cópias de uma dessas variações genéticas (do pai e da mãe) tem uma chance 80% maior de ter câncer de pulmão do que um fumante sem a variante.
As descobertas podem levar a uma melhor forma de prevenir e tratar o câncer de pulmão, o tipo de tumor mais comum no mundo, que deve atingir só no Brasil 27.300 pessoas em 2008, segundo dados do Inca (Instituto Nacional do Câncer).
"Abre-se a possibilidade para que tratamentos que bloqueiem esses genes possam ser benéficos no tratamento estratégico contra o câncer de pulmão e também contra o vício", disse Paul Brennan, da Agência Internacional de Pesquisa sobre Câncer, em Lyon, França.
O fumo causa nove de dez casos de câncer. Entretanto, apenas cerca de 15% dos fumantes desenvolvem realmente a doença, e os médicos há tempos suspeitam que um elemento genético estivesse envolvido.
Os cientistas salientam que a descoberta não equivale a uma "licença para fumar" para as pessoas sem as variações genéticas. "O que interessa ao indivíduo é o risco absoluto de ter câncer de pulmão", disse Brennan. "Se você fumar a vida inteira, ele é de 15%, e se você não tem nenhuma cópia do gene variante, é um pouco menos. Mas, se você tem as duas cópias, será de cerca de 25%. Obviamente, mesmo em quem não tem nenhuma cópia, ainda há um risco alto para quem fuma."
"Mesmo que um subgrupo de pessoas seja tido como "resistente" aos efeitos do fumo no desenvolvimento do câncer de pulmão, é improvável que essas pessoas também estejam protegidas contra doenças cardíacas e obstrução pulmonar", escreveram Stephen Chanockis, do Instituto Nacional de Câncer dos EUA, e David Hunter, da Universidade Harvard. Eles comentaram os estudos na "Nature" de hoje.
Pessoas que nunca fumaram e que portam essas variações genéticas no cromossomo 15 -cerca de 50% da população possui uma cópia do gene- também podem ter um risco aumentado de desenvolver o tumor, embora os três estudos não estejam de acordo sobre isso. Os genes podem aumentar o risco de câncer simplesmente ao aumentar a dependência, já que a ação cancerígena da nicotina é conhecida.
Nature 452, 638-642 (3 April 2008) Thorgeirsson et al.
Smoking is a leading cause of preventable death, causing about 5 million premature deaths worldwide each year
1, 2. Evidence for genetic influence on smoking behaviour and nicotine dependence (ND)
3, 4, 5, 6, 7, 8 has prompted a search for susceptibility genes. Furthermore, assessing the impact of sequence variants on smoking-related diseases is important to public health
9, 10. Smoking is the major risk factor for lung cancer (LC)
11, 12, 13, 14 and is one of the main risk factors for peripheral arterial disease (PAD)
15, 16, 17. Here we identify a common variant in the nicotinic acetylcholine receptor gene cluster on chromosome 15q24 with an effect on smoking quantity, ND and the risk of two smoking-related diseases in populations of European descent. The variant has an effect on the number of cigarettes smoked per day in our sample of smokers. The same variant was associated with ND in a previous genome-wide association study that used low-quantity smokers as controls
18, 19, and with a similar approach we observe a highly significant association with ND. A comparison of cases of LC and PAD with population controls each showed that the variant confers risk of LC and PAD. The findings provide a case study of a gene–environment interaction
20, highlighting the role of nicotine addiction in the pathology of other serious diseases.
Nature 452, 633-637 (3 April 2008) Hung et al.
Lung cancer is the most common cause of cancer death worldwide, with over one million cases annually
1. To identify genetic factors that modify disease risk, we conducted a genome-wide association study by analysing 317,139 single-nucleotide polymorphisms in 1,989 lung cancer cases and 2,625 controls from six central European countries. We identified a locus in chromosome region 15q25 that was strongly associated with lung cancer (
P = 9
10
-10). This locus was replicated in five separate lung cancer studies comprising an additional 2,513 lung cancer cases and 4,752 controls (
P = 5
10
-20 overall), and it was found to account for 14% (attributable risk) of lung cancer cases. Statistically similar risks were observed irrespective of smoking status or propensity to smoke tobacco. The association region contains several genes, including three that encode nicotinic acetylcholine receptor subunits (
CHRNA5,
CHRNA3 and
CHRNB4). Such subunits are expressed in neurons and other tissues, in particular alveolar epithelial cells, pulmonary neuroendocrine cells and lung cancer cell lines
2, 3, and they bind to
N'-nitrosonornicotine and potential lung carcinogens
4. A non-synonymous variant of
CHRNA5 that induces an amino acid substitution (D398N) at a highly conserved site in the second intracellular loop of the protein is among the markers with the strongest disease associations. Our results provide compelling evidence of a locus at 15q25 predisposing to lung cancer, and reinforce interest in nicotinic acetylcholine receptors as potential disease candidates and chemopreventative targets
5.
Com Associated Press e "The Independent"