quarta-feira, 2 de abril de 2008

Trivial da dupla do 1o de Abril

Neste mês completa 25 anos um dos clássicos da "barriga" jornalística no país: o caso do "boimate", a cruza de boi com tomate, desenvolvida na Universidade de Hamburger pelo Dr. McDonalds. O autor foi Eurípedes Alcântara, atual diretor de redação da Veja.

Clique aqui para um bom resumo:

O caso boimate. Uma árvore que dá filé ao molho de tomate. E alguém acreditou nisso, por Wilson da Costa Bueno*

Uma competição sobre a maior "barriga" do jornalismo contemporâneo, certamente incluiria o boimate, mas não deixaria de fora as extraordinárias proezas do filósofo Jean-Baptista Botul. Editor responsável pelo feito: Mário Sabino, atualmente diretor adjunto da Veja.

Frédéric Pagès é um jornalista francês, tremendo gozador. Em 1995 ele criou um heterônimo, o filósofo Frances Jean-Baptista Botul (de botulismo).

Botul teve uma vida extraordinária. Conheceu Baden-Powell, namorou a princesa Marie Bonaparte, patrocinadora de Freud na França. Manteve correspondência amorosa com Lou-Andréas Salomé, quando ela tinha 60 anos. Conheceu Zapata e Pancho Villa. E escreveu sua obra prima: “A Vida Sexual de Immanuel Kant”.

A história se passa no Paraguai, em 1946, em Nueva Königsberg, vilarejo também obscuro onde ‘alemães se vestiam com Kant, comiam, dormiam como ele, e faziam a cada tarde o mesmo passeio lendário num cenário reconstituído que evocava as ruas de Königsberg’? Era um vilarejo condenado ao desaparecimento, porque, para seguir o mestre – que morreu virgem – todos os cidadãos eram virgens.

A UNESP lançou o livro. No release enviado à Veja, esqueceu de informar o óbvio: que o Botul era uma gozação.

O livro mereceu uma resenha à altura da revista Veja (clique aqui):

E uma gozação à altura do jornalista Paulo Roberto Pires no No (clique aqui).

Pires ligou para o autor Pagès em Paris:

‘Estes textos do Botul foram descobertos agora’, despista Pagès, às gargalhadas, falando por telefone de sua casa em Paris”.

A resenha foi fichinha. O clássico estava por vir: a correção. Revelada a barriga pelo No, a edição seguinte saiu com a seguinte explicação na seção de Cartas (clique aqui), da lavra de Mario Sabino.

Na resenha "Desrazão pura" (9 de maio), VEJA comentou o livro A Vida Sexual de Immanuel Kant (Editora Unesp) e atribuiu sua autoria ao intelectual francês Jean-Baptiste Botul. Essa informação, contudo, não procede, pois Jean-Baptiste Botul nunca existiu. (...) Excetuada a confusão em torno de Botul-Pagès, A Vida Sexual de Immanuel Kant traz, de fato, inúmeras informações verídicas e divertidas a respeito da vida do filósofo. O trabalho foi avaliado pela revista como "curioso" e "impagável". VEJA não entrou no mérito das interpretações de Botul-Pagès. Os dados e as anedotas citados na resenha podem ser conferidos em obras do próprio Kant, como Metafísica dos Costumes e Reflexões sobre a Educação, em sua correspondência, em biografias como Kant Intime, que reúne reminiscências de três contemporâneos do pensador, e ainda no texto Os Últimos Dias de Immanuel Kant, clássico do escritor inglês Thomas De Quincey. A leitura de tais obras, feita diligentemente pelo resenhista de VEJA, teria poupado a imprensa amadora brasileira dos comentários tolinhos que andou publicando a respeito.

E pau na "imprensa amadora". O atrevido do Paulo entrou para a lista negra da revista.

Que tal aproveitar 1o de abril para recordar causos criativos?


enviada por Luis Nassif

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