terça-feira, 12 de agosto de 2008

Anvisa apura nova forma de infecção por micobactéria

Pelo menos 3 mulheres submetidas a procedimento não-cirúrgico podem ter sido afetadas

Fabiane Leite OESP

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária informou ontem que pelo menos três pacientes submetidas a um tipo de preenchimento facial, procedimento estético não-cirúrgico, também podem ser vítimas das micobactérias de crescimento rápido, que já causaram lesões de difícil cicatrização em 76 pessoas só neste ano. Micobactéria é um tipo de bactéria comumente encontrada no solo e na água, que causa lesões no organismo. Os dois tipos investigados - M. abcessus e M. massiliense - estão chamando a atenção pelo grande número de casos, inédito no mundo.

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As novas notificações, todas de pacientes do sexo feminino, foram registradas no mês passado, em Minas Gerais, e surpreenderam especialistas porque, até então, somente pessoas operadas por diferentes técnicas cirúrgicas, principalmente as videocirurgias, vinham sendo contaminadas. O preenchimento facial, no entanto, é executado no consultório, e o médico apenas aplica injeções de produtos para recuperar o contorno e o volume facial - não há cortes ou introdução de cânulas no corpo do paciente. Todos os casos ocorreram após o uso de um produto a base de ácido poli-L-láctico, o Sculptra, da Sanofi-Aventis.

Apesar de não haver evidência de envolvimento direto do produto nas contaminações, será feita uma apuração sobre o caso. Também serão analisados os procedimentos médicos e a água usada na diluição do produto.A Sanofi destacou ontem que o produto tem rigoroso controle de qualidade.

A infectologista Raquel Guimarães, que atendeu uma paciente de Minas em Maceió, notificou a Anvisa na última sexta-feira depois de receber três exames da mulher afetada positivos para bactérias do grupo Mycobacterium chenolae. "Desconfiamos que poderiam ser as micobactérias porque eram lesões de difícil cicatrização e nodulares. Para nós, foi uma surpresa", disse Raquel. Segundo a infectologista, a paciente se mostrou muito abalada. "Imagine, era uma pessoa saudável que agora está sofrendo transtornos de todos os tipos, dos psicológicos às cobranças de explicações pela família", continuou a médica.

Segundo a Anvisa, além da nova investigação sobre os preenchimentos faciais, outros 153 casos suspeitos estão sendo apurados . Os 76 já confirmados ocorreram em Goiás, Distrito Federal e Rio Grande do Sul. No entanto, no ano passado, outros 851 casos foram registrados, principalmente no Espírito Santo e Rio de Janeiro, associados à falta de limpeza de materiais cirúrgicos, como revelou o Estado em outubro de 2007. Em junho deste ano, a agência reconheceu a volta do problema e o então diretor da Anvisa Claudio Maierovitch destacou que se tratava de uma epidemia.

Ainda segundo a agência, a maioria dos casos estudados não ocorreu em procedimentos estéticos, mas com videocirurgias. Na última sexta-feira, a Anvisa divulgou nota prometendo investigação também sobre o glutaraldeído, produto utilizado na desinfecção dos instrumentos cirúrgicos e que também pode estar contaminado pelas bactérias.

Para a pneumologista Margareth Dalcolmo, que assessora o Ministério da Saúde, o glutaraldeído deveria ser imediatamente suspenso até a análise ficar pronta. Procurada, a Anvisa não respondeu sobre isso. A especialista e outros pesquisadores também cobram o estabelecimento de uma rede oficial de pesquisa sobre as bactérias e a notificação compulsória de casos. Ainda segundo Margareth, a agência deveria divulgar os hospitais e clínicas que registraram casos de infecção. "Os pacientes têm o direito de saber."

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