O PSDB está realizando suas convenções, tentando se situar como alternativa a Lula. Nos últimos anos perdeu o rumo, da mesma maneira que Lula e o PT perderam em 1994 após o Plano Real. Lula passou quatro anos falando sozinho por falta de discurso. Foi salvo pelos erros do câmbio, o “apagão” da energia elétrica de FHC e a enorme impopularidade do presidente.
Com Lula eleito, a situação internacional melhorando, internamente o governo conseguindo atender dois segmentos influentes da opinião pública – o mercado e as grandes empresas, as classes D e E – o que resta ao PSDB?
É um dilema não apenas para o partido, como para o Brasil. Dos anos 90 para cá apenas o PT e o PSDB se firmaram como alternativa de poder. Fala-se muito na esperteza política de Lula, de trazer para baixo de sua asa todos os segmentos sociais, mas o know how foi de FHC – com a única diferença que o ex-presidente tinha alergia a povo.
FHC juntou em seu governo o malanismo e um desenvolvimentismo que não se realizou no primeiro governo, e foi abortado pela crise cambial de 1999. Seu projeto de país era insuficiente, um mercadismo que consumiu grande parte dos recursos financeiros do Estado e meros esboços de políticas sociais. Tinha algumas iniciativas válidas, mas nunca chegava às “acabativas”. Deixou um modelo torto e incompleto.
O padrão Lula
O governo Lula permaneceu sem projeto de país, limitando-se a consolidar o modelo de governabilidade de seu antecessor, aprimorando as políticas sociais, é verdade, mas apanhando com os problemas de gestão – embora, hoje em dia, tenha um ministério bastante superior ao do primeiro governo.
A dualidade do PSDB enquanto poder – mercadismo x desenvolvimentismo -, tem sido fatal para ele quando oposição. Qual o discurso a ser seguido? Na convenção do partido, organizada pelo deputado José Aníbal, falou Pedro Malan e falaram outros. Que sinais a convenção pode emitir? Apenas a manutenção do curto-circuito imobilizador.
A grande esperteza política de Lula foi ter se apropriado do discurso mercadista de FHC-Malan. O PSDB acha que esse modelo tem futuro? Vá em frente, mantenha a ambigüidade, e conforme-se em ser oposição pelo resto da vida.
Olhando o futuro
Qualquer projeto de poder demanda visão estratégica pensando o futuro, não o presente. O cenário no qual a oposição poderá ganhar discurso será com o fim da exuberância irracional que tem caracterizado os mercados e a economia internacional. E não essa loucura de dar eco a essa oposição sistemática e escandalosa que, a cada dia, tem corroído a credibilidade da mídia e da oposição.
Com a crise, ficarão claras as vulnerabilidades do governo Lula:
1. Os estragos no tecido econômico provocado pelas políticas monetária, cambial e fiscal irresponsáveis dos últimos três governos passarão a ser divulgados maciçamente pela mídia (hoje essa informação é sonegada porque interessa o câmbio apreciado).
2. A ausência de um projeto nacional será muito mais notada.
3. Mais do que nunca, haverá a necessidade de um governo que junte as forças nacionais para enfrentar o período de vacas magras.
O candidato a estadista terá que mirar a situação daqui a quatro anos e começar a fazer a aposta agora, mesmo sendo voz isolada. Essa aposta passa por um projeto de desenvolvimento com inclusão social. Passa por desmascarar mitos da direita – como a de que o déficit da Previdência ameaça o país – e mitos da esquerda – como o de que nada precisa ser feito no âmbito das reformas ou da melhoria da gestão das políticas sociais. Passa pela importância de gerar empregos, junto com a importância de ser competitivo. Passa por sofisticar o debate econômico e, ao mesmo tempo, conseguir um discurso político simples, que seja a síntese das novas propostas.
Mas quem quer correr tal risco, se nem a imprensa de opinião consegue escapar dos clichês (aliás, é a que mais tem recorrido a eles)?
As publicações passaram a estimular uma catarse preconceituosa e raivosa de seu público. Viciado, o público passou a exigir cada vez mais, deixando-as em uma armadilha letal. Estão perdendo credibilidade a cada dia e não conseguem escapar da armadilha. Junto com elas, vão para o ralo políticos que poderiam liderar uma grande frente em favor de um projeto nacional, e que acharam que não poderiam sobreviver sem o apoio da mídia e desse estado de espírito.
A conclusão final é que, mantido esse estado de coisas, a vinda da crise – que poderia significar mudanças profícuas, reforçando o discurso da oposição e obrigando o governo a acertar o rumo – vai apenas estimular o radicalismo da campanha.
enviada por Luis Nassif
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nenhum comentário:
Postar um comentário