quinta-feira, 16 de agosto de 2007
O fim da era de oportunidades
Seja qual for o resultado da atual crise internacional, a verdade dolorosa é que o Brasil perdeu o bonde desses doze anos de exuberância da economia mundial.
A crise está se alastrando. Apesar de manifestações otimistas daqui e dali, fica claro que mesmo os ensinamentos trazidos pelas crises anteriores foi insuficiente para preparar o mundo para novas crises.
Não haverá como a atual crise não afetar a economia real e o comércio mundial. O crédito secou no mundo. O volume de comércio será reduzido. A própria China terá que diminuir o ritmo de atividade econômica para enfrentar pressões inflacionárias.
O Brasil tem o conforto ainda de superávits comerciais sustentados pelos preços dos produtos primários, Mas jogou fora os dois momentos mais importantes da história contemporânea.
O primeiro, em 1994, quando a estabilização da economia permitiu o florescimento de um mercado de consumo popular reprimido. Esse processo se deu ao mesmo tempo em que as grandes multinacionais estavam realocando suas unidades de produção pelo mundo. E o Brasil, ao lado da China, seria um dos portos de atração desse investimento.
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Os chineses aproveitaram esse momento para um salto fundamental. Concentraram toda sua política de atração de investimentos para absorver tecnologia, meios de produção, novas indústrias. Apesar de possuir uma infra-estrutura precária, acenava com um mercado de consumo crescente e um mercado potencial extraordinário e, especialmente, uma política de câmbio competitivo e taxas de juros baixas.
Na partida do Real, os economistas provocaram uma apreciação da moeda, visando lucros no mercado de câmbio. Essa armadilha amarrou a economia brasileira, impediu-a de crescer e ganhar musculatura. A descompressão do câmbio, em 1999, trouxe algum gás para a economia, mas insuficiente para relançà-la.
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A segunda tragédia ocorreu no primeiro ano do governo Lula. Em 2002, a desvalorização cambial - fruto de crise internacional e da instabilidade política - permitiu entrar em 2003 com perspectivas inéditas de retomada de crescimento. Escapava-se da armadilha cambial. Milhares de pequenas e médias empresas passaram a buscar o mercado externo. O agronegócio explodiu. Ajudado pela expansão da liquidez internacional e do fator China, a economia mundial entrou em uma fase de expansão inédita.
Mas a política monetária de Antonio Palocci e Henrique Meirelles, avalizada por Lula, jogou fora a grande oportunidade. Com o câmbio apreciado, o produto brasileiro perdeu competitividade. A carga tributária aumentou, as exportações de manufaturados foram perdendo gás.
Aproveitou-se para reduzir a dívida externa brasileira, e o componente cambial na dívida pública. Graças aos preços das commodities, o Brasil entrou menos vulnerável na crise atual.
Mas vai sair dela como entrou, sem ter conseguido dar o grande salto de industrialização e desenvolvimento que teria conseguido, caso tivesse sido conduzido por estadistas nesses doze anos.
Ao final desse período, tem-se o maior processo de concentração de renda da história.
enviada por Luis Nassif
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