quarta-feira, 8 de agosto de 2007

Em SC, escola multa quem fala palavrão

Aluno paga R$ 0,10 cada vez que exagera no vocabulário

Ricardo Westin, SÃO PAULO

Na tentativa de controlar os impulsos de seus estudantes, uma escola particular do interior de Santa Catarina impõe multas àqueles que falam palavrões durante as aulas. São R$ 0,10 por cada termo de baixo calão.

A curiosa pedagogia começou a ser adotada dois anos atrás pelo Colégio Evangélico Jaraguá, de Jaraguá do Sul, cidade localizada 185 km ao norte de Florianópolis. A sugestão moralizadora partiu de um aluno do ensino médio (antigo 2º grau) incomodado com o palavreado dos colegas em sala de aula.

“Foi só quando começamos a aplicar as multas que os alunos se deram conta da quantidade exagerada de palavrões que eles falavam”, explica o professor de alemão Herton Leandro Schünemann, o pioneiro dessa “pedagogia da multa”.

Segundo Schünemann, a moeda é cobrada até mesmo quando o palavrão é dito em expressões de surpresa, sem a intenção de ofender ninguém. “Certos termos não são apropriados no ambiente escolar”, diz ele.

Os R$ 0,10 são um valor simbólico. De forma geral, os alunos aceitam pagar a moeda quando cometem algum deslize. Nas primeiras vezes, até se divertem com a situação. Quando são reincidentes, porém, deixam de ver graça e, preocupados com o prejuízo na carteira, passam a controlar mais o palavreado.

“Hoje em dia não arrecadamos tanto quanto no início”, afirma a bibliotecária Ana Luíza Fonseca, que levou a lei dos palavrões para dentro da biblioteca do colégio. “Isso é bom. Mostra que os nossos alunos estão ficando mais responsáveis.”

A norma não é obrigatória: nem todos os professores aplicam essa punição, e os alunos não estão obrigados a pagar os R$ 0,10. No entanto, os estudantes que se recusam a dar a moeda correm o risco de perder pontos na disciplina do professor em questão no item comportamento.

O valor arrecadado até agora não é nenhuma fortuna. Nas aulas de alemão, por exemplo, o professor afirma ter obtido nestes dois anos perto de R$ 30 - umas 300 multas. O dinheiro tem sido utilizado na compra de livros. “Nosso objetivo não é arrecadar dinheiro. É punir e educar”, diz Schünemann.

Os alunos que têm a boca mais “suja”, de acordo com os professores, são os do ensino médio - é mais difícil ouvir palavras pesadas dos estudantes mais novos. As meninas falam tantos palavrões quanto os meninos. O sistema de multas criou até um grupo de alcagüetes, alunos que se especializaram em denunciar os colegas infratores.

A escola diz não ter recebido até o momento nenhuma queixa de pais ou estudantes contra a medida corretiva. “Temos de pagar pelos erros que cometemos”, aprova o aluno Tobias Ulrich, de 14 anos. “Agora aprendi a controlar a vontade de falar palavras mais fortes”, diz o colega Eric Grüezmacher, de 13.

Fundado há cem anos, o Colégio Evangélico Jaraguá é administrado por religiosos luteranos, mas recebe alunos de diversas religiões. Atualmente, tem matriculados perto de 700 estudantes, da educação infantil ao ensino médio.

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