Na tentativa de controlar os impulsos de seus estudantes, uma escola particular do interior de Santa Catarina impõe multas àqueles que falam palavrões durante as aulas. São R$ 0,10 por cada termo de baixo calão.
A curiosa pedagogia começou a ser adotada dois anos atrás pelo Colégio Evangélico Jaraguá, de Jaraguá do Sul, cidade localizada 185 km ao norte de Florianópolis. A sugestão moralizadora partiu de um aluno do ensino médio (antigo 2º grau) incomodado com o palavreado dos colegas em sala de aula.
“Foi só quando começamos a aplicar as multas que os alunos se deram conta da quantidade exagerada de palavrões que eles falavam”, explica o professor de alemão Herton Leandro Schünemann, o pioneiro dessa “pedagogia da multa”.
Segundo Schünemann, a moeda é cobrada até mesmo quando o palavrão é dito em expressões de surpresa, sem a intenção de ofender ninguém. “Certos termos não são apropriados no ambiente escolar”, diz ele.
Os R$ 0,10 são um valor simbólico. De forma geral, os alunos aceitam pagar a moeda quando cometem algum deslize. Nas primeiras vezes, até se divertem com a situação. Quando são reincidentes, porém, deixam de ver graça e, preocupados com o prejuízo na carteira, passam a controlar mais o palavreado.
“Hoje em dia não arrecadamos tanto quanto no início”, afirma a bibliotecária Ana Luíza Fonseca, que levou a lei dos palavrões para dentro da biblioteca do colégio. “Isso é bom. Mostra que os nossos alunos estão ficando mais responsáveis.”
A norma não é obrigatória: nem todos os professores aplicam essa punição, e os alunos não estão obrigados a pagar os R$ 0,10. No entanto, os estudantes que se recusam a dar a moeda correm o risco de perder pontos na disciplina do professor em questão no item comportamento.
O valor arrecadado até agora não é nenhuma fortuna. Nas aulas de alemão, por exemplo, o professor afirma ter obtido nestes dois anos perto de R$ 30 - umas 300 multas. O dinheiro tem sido utilizado na compra de livros. “Nosso objetivo não é arrecadar dinheiro. É punir e educar”, diz Schünemann.
Os alunos que têm a boca mais “suja”, de acordo com os professores, são os do ensino médio - é mais difícil ouvir palavras pesadas dos estudantes mais novos. As meninas falam tantos palavrões quanto os meninos. O sistema de multas criou até um grupo de alcagüetes, alunos que se especializaram em denunciar os colegas infratores.
A escola diz não ter recebido até o momento nenhuma queixa de pais ou estudantes contra a medida corretiva. “Temos de pagar pelos erros que cometemos”, aprova o aluno Tobias Ulrich, de 14 anos. “Agora aprendi a controlar a vontade de falar palavras mais fortes”, diz o colega Eric Grüezmacher, de 13.
Fundado há cem anos, o Colégio Evangélico Jaraguá é administrado por religiosos luteranos, mas recebe alunos de diversas religiões. Atualmente, tem matriculados perto de 700 estudantes, da educação infantil ao ensino médio.
quarta-feira, 8 de agosto de 2007
Em SC, escola multa quem fala palavrão
Aluno paga R$ 0,10 cada vez que exagera no vocabulário
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