sábado, 28 de julho de 2007

Terapia com DNA controla glaucoma de camundongo


Vírus modificado criado pela UFRJ consegue parar morte de células da retina

Em fase inicial, pesquisa feita com os roedores abre perspectiva otimista para o uso do método com seres humanos no futuro

EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL FSP

Um grupo de cientistas conseguiu controlar o glaucoma em camundongos usando trechos de DNA para impedir a morte de células da retina. A técnica, desenvolvida na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é um tipo de terapia gênica -processo que busca desligar informações genéticas que possam gerar doenças.
"Quero reforçar que é algo ainda muito inicial, mas nós conseguimos reduzir em 100% a morte das células da retina", diz Rafael Linden, pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. O glaucoma é a perda gradual de visão causada pela morte de células da retina que captam a luz.
Após oito anos de pesquisa, o grupo radicado no Rio de Janeiro conseguiu identificar um dos mecanismos genéticos por trás da doença. Só agora, portanto, os cientistas podem tentar desativar esse processo e impedir o surgimento do problema de visão.
Um dos gatilhos do surgimento da doença -que afeta 70 milhões de pessoas no mundo e 2 milhões no Brasil- é a escassez de uma proteína específica da retina, algo que a torna mais frágil. "A vulnerabilidade das células ganglionares da retina à morte celular é a chave para controlar o glaucoma e as neuropatias ópticas hereditárias", explica Linden.
A proteína identificada pelos pesquisadores foi alvo de estudo porque, quando existe uma lesão no nervo óptico, ela deixa de ser sintetizada a partir do DNA. A conseqüência disso, explica Linden, é o início da morte de células da retina.
A pergunta científica feita pelos pesquisadores foi direta: poderia uma superprodução dessa proteína específica impedir a morte de células da retina?
É exatamente nesse ponto que entra a terapia gênica. Os primeiros experimentos feitos com os camundongos com glaucoma mostram que a resposta a pergunta é sim.
Por meio de um vírus atenuado, preparado geneticamente para expressar a proteína que evita a morte celular na retina, os cientistas bloquearam o processo genético que, em última análise, faz surgir o glaucoma.
"Temos que montar agora um modelo mais concreto antes de partir para os testes pré-clínicos", lembra Linden.

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