Vírus modificado criado pela UFRJ consegue parar morte de células da retina
Em fase inicial, pesquisa feita com os roedores abre perspectiva otimista para o uso do método com seres humanos no futuro
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL FSP
Um grupo de cientistas conseguiu controlar o glaucoma em camundongos usando trechos de DNA para impedir a morte de células da retina. A técnica, desenvolvida na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), é um tipo de terapia gênica -processo que busca desligar informações genéticas que possam gerar doenças.
"Quero reforçar que é algo ainda muito inicial, mas nós conseguimos reduzir em 100% a morte das células da retina", diz Rafael Linden, pesquisador do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, da UFRJ. O glaucoma é a perda gradual de visão causada pela morte de células da retina que captam a luz.
Após oito anos de pesquisa, o grupo radicado no Rio de Janeiro conseguiu identificar um dos mecanismos genéticos por trás da doença. Só agora, portanto, os cientistas podem tentar desativar esse processo e impedir o surgimento do problema de visão.
Um dos gatilhos do surgimento da doença -que afeta 70 milhões de pessoas no mundo e 2 milhões no Brasil- é a escassez de uma proteína específica da retina, algo que a torna mais frágil. "A vulnerabilidade das células ganglionares da retina à morte celular é a chave para controlar o glaucoma e as neuropatias ópticas hereditárias", explica Linden.
A proteína identificada pelos pesquisadores foi alvo de estudo porque, quando existe uma lesão no nervo óptico, ela deixa de ser sintetizada a partir do DNA. A conseqüência disso, explica Linden, é o início da morte de células da retina.
A pergunta científica feita pelos pesquisadores foi direta: poderia uma superprodução dessa proteína específica impedir a morte de células da retina?
É exatamente nesse ponto que entra a terapia gênica. Os primeiros experimentos feitos com os camundongos com glaucoma mostram que a resposta a pergunta é sim.
Por meio de um vírus atenuado, preparado geneticamente para expressar a proteína que evita a morte celular na retina, os cientistas bloquearam o processo genético que, em última análise, faz surgir o glaucoma.
"Temos que montar agora um modelo mais concreto antes de partir para os testes pré-clínicos", lembra Linden.
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