terça-feira, 29 de julho de 2008

HIV resistente a droga pode se esconder

Estudo nos EUA mostra que vírus menos suscetível a tratamento com anti-retrovirais está em 10% dos soropositivos

Após início de terapia, baixa população do supervírus em uma pessoa pode aumentar e fazer remédio falhar, diz centro de pesquisa dos EUA

DA REDAÇÃO FSP

Um estudo realizado com 500 soropositivos recém-diagnosticados nos EUA e no Canadá mostrou que 10% deles estão infectados com ao menos uma variante de HIV resistente a drogas. A resistência, antes, era observada apenas após o tratamento anti-retroviral, mas agora os vírus que ganharam imunidade a medicamentos como o Efavirenz já estão se disseminando por conta própria, à medida que a epidemia progride com o tempo.
O novo trabalho, publicado na revista "PLoS Medicine", foi uma colaboração entre os CDC (Centros para Controle de Doenças, dos EUA), a Agência de Saúde Pública do Canadá e empresa farmacêutica multinacional GlaxoSmithKline. Um portador de HIV resistente ainda pode se beneficiar de tratamento, porque os médicos podem procurar um medicamento alternativo.
O problema é que os vírus resistentes podem estar passando despercebido em muitos casos. Ao entrar em um organismo não infectado, eles tendem a reduzir as populações indetectáveis, mas que podem causar problemas no futuro, quando a pessoa começa a se submeter aos anti-retrovirais.
"A ausência de pressão seletiva associada à droga em pessoas que nunca receberam tratamento pode fazer os vírus resistentes caírem até níveis indetectáveis", escrevem os pesquisadores, liderados por Walid Heneine, dos CDC. Os testes mais convencionais, diz, não dão conta de identificar essas populações do patógeno.
"Nós usamos testes simples e sensíveis para investigar a evidência de transmissão da resistência a droga", dizem os médicos. "Os dados sugerem que uma proporção considerável da transmissão da resistência ao HIV-1 não é detectada por genotipagem convencional [teste da genética do vírus] e mutações minoritárias podem ter conseqüências clínicas."
Ao longo da pesquisa dos CDC, o tratamento com Efavirenz falhou em 7% dos pacientes que tinham níveis baixos de HIV resistente. Para aqueles que não carregavam o "supervírus", porém, só houve 1% de fracasso na terapia.

Avanço preocupante
Para o infectologista Steeven Deeks, da Universidade da Califórnia em San Francisco, esse problema não se estende, ainda, a uma parcela significativa dos soropositivos, mas é uma "descoberta preocupante".
"Apesar da alta taxa de evolução viral, o HIV mostrou ser surpreendentemente fácil de suprimir com terapia anti-retroviral combinada nas regiões do mundo em que o tratamento está disponível", escreve em comentário na "PLoS" independente do estudo do CDC. "Uma vez que agora existem mais de 20 drogas anti-retrovirais, entre seis classes únicas, mesmo que um regime falhe, outros em geral estão prontamente à disposição."
Na opinião do especialista, ainda é preciso fazer monitoramentos com maior amplitude para saber o grau de ameaça que os vírus resistentes oferecem à estratégia dos coquetéis de medicamentos anti-HIV como um todo. Os novos dados, porém, indicam que deve haver algum impacto. "A presença em baixa freqüência de mutações de resistência a drogas tinha um poder de predição independente sobre o fracasso posterior", diz Deeks.
Apesar de saberem que o problema é relevante, porém, os pesquisadores ainda não sabem se será viável fazer uma triagem para vírus resistente em todos os pacientes no futuro. A técnica de genotipagem usada pelos pesquisadores ainda é cara e trabalhosa, e outras medidas de saúde pública podem compensar mais o gasto, afirmam os médicos.

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