Brás Henrique, RIBEIRÃO PRETO oesp
Uma pesquisa da Universidade de São Paulo (USP), em Ribeirão Preto, traz perspectivas para a criação de um medicamento capaz de controlar a infecção pelo vírus da dengue. O estudo, iniciado há quatro anos, conseguiu inibir a replicação do vírus, protegendo as células contra a infecção.
Ou seja, a metodologia usada não previne a doença, mas poderá servir para controlar a dengue, impedindo a sua progressão para formas mais graves, como o tipo hemorrágico, que pode levar a pessoa à morte. Hoje, para tentar amenizar os sintomas da dengue são usados antitérmicos para diminuir a febre e analgésicos, além da hidratação com soro.
A dengue é uma doença infecciosa febril aguda que provoca também dor de cabeça e no corpo, náuseas e manchas vermelhas na pele. É transmitida pela picada da fêmea do mosquito Aedes aegypti. Somente entre janeiro e abril deste ano foram registrados mais de 230,8 mil casos suspeitos da doença, sendo 1.069 confirmados de dengue hemorrágica, sendo que 77 pacientes morreram. A epidemia com o maior número de casos no País foi a de 2002, quando cerca de 800 mil brasileiros contraíram a doença.
TESTES
O estudo do medicamento, desenvolvido pelo Laboratório de Virologia da Faculdade de Medicina da USP, foi realizado com o sorotipo 2 da doença. A meta é chegar a uma droga antiviral que poderá impedir a progressão da doença para as formas mais graves. Nos próximos passos, a pesquisa será feita com os sorotipos 1, 3 e 4 do vírus e, possivelmente até o final deste ano, iniciar a experiência com macacos.
A bióloga Alessandra Cristina Gomes Ruiz, responsável pela pesquisa e orientada por Benedito Antônio Lopes da Fonseca em trabalho de doutorado, acredita que agora as pesquisas serão mais rápidas, pois já tem a molécula “desenhada” (sintetizada) quimicamente em laboratório. “Demoramos quatro anos para construir esse mecanismo, e isso torna a seqüência do estudo mais rápida”, disse Alessandra.
Essa molécula foi desenhada para três diferentes regiões do genoma viral e clonadas num vetor, para que pudessem ser expressas dentro das células. Na pesquisa, as células usadas foram as hepáticas (devido à importância do fígado na patogênese da doença) e as monocíticas (alvos da infecção pelo vírus da dengue).
Mas, para a aplicação em humanos, ainda são necessários outros estudos. Alessandra diz que, em 2004, houve um primeiro estudo com essa metodologia em humanos para uma doença chamada degeneração macular relacionada à idade (AMD), com resultados promissores.
“Para doenças virais, alguns estudos estão sendo realizados em pacientes com hepatite aguda e com HIV. Para o vírus da dengue, há pouquíssimos estudos”, diz a bióloga. “Assim, nossos resultados são bastante promissores e inéditos no Brasil”, afirma ela.
PREVENÇÃO
No início deste mês, o Instituto Butantã, de São Paulo, anunciou que vai acelerar os ensaios para a primeira vacina contra a dengue. A previsão é iniciar os testes da imunização em humanos já no próximo ano. Com isso, as doses estariam prontas para serem aplicadas em 2010.
Com parceiros internacionais - Instituto de Saúde Pública dos Estados Unidos (NIH, na sigla em inglês) e Fundação Path, chefiada pelo empresário Bill Gates -, o Butantã informou que já foram realizados testes em macacos infectados com a doença e também em humanos, com alguns voluntários.
NÚMEROS
17 Estados
tiveram aumento no número de casos de dengue nos primeiros quatro meses deste ano em relação ao mesmo período de 2007
94,3 mil
casos de dengue foram registrados apenas na cidade do Rio, onde houve a pior epidemia neste ano, entre os meses de janeiro e junho
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