RIO DE JANEIRO - A decisão do Supremo sobre pesquisas com embriões mantém a Lei de Biossegurança e está sendo encarada como um passo importante para a ciência. Não serei eu que ficarei à beira do cais do Restelo amaldiçoando as caravelas que partiam com o grande Vasco em busca de novos caminhos para a humanidade.
Mas faço parte daqueles que, como alguns ministros do STF, mesmo votando a favor das pesquisas, fizeram algumas restrições. Nada entendo de genética, mas entendo o pessimismo que não leva a nada, mas sempre acende dentro de nós aquela luzinha vermelha de que alguma coisa pode ser inútil ou dar errado.
Lembro um debate na Câmara Municipal ao tempo em que o Rio era ainda Distrito Federal. Na tribuna, um vereador, Manuel Blasques, dono de uma rede de lojas de ferragens, fazia um discurso sobre não lembro mais o quê. O vereador R. Magalhães Jr., um intelectual, acadêmico, aparteou-o com alguma ferocidade, classificando o orador de "taylorista".
Manuel Blasques estancou. Olhou para cima, para os lados, para dentro de si mesmo, e com voz pausada, educadíssima, respondeu: "Vossa Excelência me chama de alguma coisa que não entendo. Se isso é um elogio, eu agradeço e retribuo. Se é uma ofensa, fique sabendo que isso é a mãe de Vossa Excelência!".
Penso sempre nesta sábia resposta do Manuel Blasques quando não estou muito seguro das coisas -o que é freqüente e, no meu caso, bastante antigo. Penso nos aviões se houvesse lei proibindo as tentativas dos pioneiros. Leonardo foi quase condenado por dissecar corpos para compreender a anatomia que o tornou o maior escultor da história.
Não ficarei como o velho do cais do Restelo, amaldiçoando aquele que colocou uma vela num frágil lenho.
CARLOS HEITOR CONY
domingo, 1 de junho de 2008
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