DA REPORTAGEM LOCAL FSP
O médico oftalmologista Claudio Lottenberg, presidente do hospital Albert Einstein, de São Paulo, diz que um dos problemas das escolas médicas do Brasil é a falta de infra-estrutura. Segundo ele, que foi secretário municipal da Saúde na gestão José Serra (PSDB), os hospitais universitários funcionam mais como hospitais públicos do que como escolas. A seguir, trechos da entrevista. (RICARDO WESTIN)
FOLHA - O que o sr. pensa do mau desempenho dos cursos de medicina?
CLAUDIO LOTTENBERG - Está havendo uma comercialização enorme da educação, com fusões e aquisições, todo um processo de mercantilização. E isso muitas vezes ocorre em detrimento da qualidade.
FOLHA - Como se pode ver essa falta de qualidade?
LOTTENBERG - Para formar gente boa, é preciso ter uma estrutura especial, principalmente o hospital-escola. No primeiro e no segundo ano, o curso é teórico. No terceiro ano, passa a ser cada vez mais prático. O problema é que o hospital-escola de muitas faculdades não tem infra-estrutura. Funciona como se fosse hospital público comum. Os professores não estão lá orientando, e os médicos que estão lá trabalhando não têm como orientar os estudantes. Eu, por exemplo, sou um oftalmologista, mas isso não quer dizer que tenho condições de ensinar oftalmologia a estudantes de medicina. Além disso, os pacientes nesses hospitais não são os pacientes aos quais um aluno deve atender. O hospital-escola é para treinar, e o hospital público é para atender à população. São diferentes.
LOTTENBERG - Também tem problemas. O papel do professor está distorcido. Como é contratado com péssimas remunerações, está mudando o foco da atenção. Em vez de se concentrar nas aulas, o professor está mais preocupado com os protocolos de pesquisa. O médico sai mal preparado da universidade. Isso é uma decepção enorme para nós que acreditamos numa saúde melhor para o país.
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